21 de Janeiro de 2025 | Quinzenário Regional | Diário Online
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PAULO JÚLIO

Homenagem ao Adriano!

4 de Fevereiro 2022

Algumas vezes, mesmo nos meios mais pequenos, a identidade é definida pelo orgulho das suas gentes. O texto de hoje é dedicado à cidadania. Especificamente, é dedicado a uma pessoa que ainda muito jovem, com pouco mais de 20 anos, como muitas dezenas de milhares de portugueses, corria o início da década de 50 do século passado, apesar de amar a sua terra, ter por ali todos os seus amigos e familiares, decidiu emigrar para o Brasil. Foi lá que, longe destas terras, ganhou mundo, se afirmou profissionalmente e moldou a sua personalidade de líder, vencendo barreiras e preconceitos. O Adriano Júlio casou com a Maria Irene, também Penelense, tiveram filhos e netos, criou raízes em São Paulo, mas nunca deixou de ter saudades do seu Portugal. Adorava Portugal. Irritava-o um certo Portugal mesquinho e “pequenino”, mas ele era realmente um patriota. E, todos os seus amigos perderam a conta das vezes que veio a Portugal, para respirar este ar que lhe enchia a alma. O ar que o rejuvenescia. Ele dizia que era das “sopas”, mas não era. Era por rever os seus amigos, de poder voltar a caminhar pela sua Penela e por Portugal, o País que ele teve de deixar ou então seria mais um a juntar-se à pobreza. Nunca se resignou. Essa atitude de vida acompanhou-o sempre. O Adriano, neste caso, é um motivo para honrar todos os nossos emigrantes, os que foram à procura de “outra” vida fora de Portugal, num tempo em que não havia internet, nem redes sociais, nem companhias aéreas de custo mais baixo. Voltando ao Adriano. Depois de reformado, cumpriu o seu sonho. Veio viver para cá e ia ao Brasil dos seus filhos e netos, quando entendia. Dedicou-se à Filarmónica Penelense, porque gostava de música, adorava futebol e o clube Penelense. Não faltava a um jogo, sempre que por cá estava. Escrevia crónicas para os jornais regionais e locais, e tirava muitas fotografias de pessoas e de cada canto de Penela. As que mais gostava, eram as de Penela com o Castelo que encimava o casario branco com telhados avermelhados. Nas suas fotos estava sempre um pedacinho do amor que ele tinha por estas terras. Era um bairrista. Dizia orgulhosamente que era de Penela. Explicava onde era, em tempos que ninguém sabia onde ficava. Criou um acervo inigualável de fotos do concelho de Penela que transformou em livro. Exorbitou quando recebeu a Medalha de Mérito de Cidadania da Câmara Municipal de Penela, num dia 29 de Setembro, em sessão solene. Viveu intensamente até quase ao fim dos seus últimos dias. Prova disso, foi querer muito visitar a sua terra, pela última vez, no Verão passado, quando já tinha 93 anos. Queria muito vir cá. Provavelmente sentia que poderia ser a última vez. E foi. O Adriano Júlio faleceu no passado dia 1 de Fevereiro, no Brasil, junto dos seus filhos e netos. O corpo ficará nas terras de Vera Cruz, mas a sua alma ficará por cá, para sempre, na memória de todos os seus familiares e amigos. Os amigos do café, da fotografia, das “tainadas”, do futebol, quase todos mais jovens do que ele porque os seus amigos de infância, como ele dizia “foram-se despedindo, um a um”. Para que conste, o Adriano é meu Tio, mas este texto é sobretudo uma homenagem aos portugueses que emigraram e que nunca deixaram de “pertencer” e de se orgulhar das suas raízes. Chamavam-lhe o Adriano do Brasil, quando estava em Portugal, mas ele era, sobretudo, o Penelense orgulhoso que vibrava com tudo o que acontecia do lado de cá.


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