Crianças fechadas em casa. Escolas encerradas. Aulas através de um ecrã. Uma nova realidade sem perspectiva de regresso à realidade até aqui conhecida. Assim foi em 2020 e em 2021, quando se regressava ao espaço físico da escola, alunos e professores viram-se obrigados a voltar a casa. Foi assim que a Educação, um pouco por todo mundo, foi sendo vivida e nas Terras de Sicó não foi diferente.
Fernando Mota, director do Agrupamento de Escolas de Pombal (AE Pombal), assume que a pandemia provocou várias alterações no funcionamento das escolas como o uso obrigatório de máscaras, o distanciamento, a desinfecção das salas, os alunos infectados que vão para casa, os professores infectados que para casa vão e que “obrigou” à introdução do ensino à distância.
“Naquilo que têm sido estas diferentes fases da pandemia que temos vivido, fomo-nos adaptando de uma forma perfeitamente natural, sem qualquer stress, sem desespero. Está aqui um trabalho de responsabilidade, uma linha de comunicação efectiva, um domínio perfeitamente articulado com a saúde. Estamos a viver, à semelhança da comunidade, um trabalho interno em comunhão com a saúde pública e com tudo o que se vai passando a nossa volta. O nosso processo e a forma como engendramos tudo isto tem-nos permitido viver com alguma tranquilidade e tem deixado o agrupamento tranquilo na sua comunicação, quer interna, quer externa”, disse ao TERRAS DE SICÓ Maria Manuela Pinto, sub-directora do AE Pombal.
No entanto, para um agrupamento que conta com por três jardins-de-infância, 13 escolas básicas e uma escola secundária, houve necessidades diferentes, nomeadamente, a nível do ensino pré-escolar e primeiro ciclo que precisaram “reorganizar os horários, o funcionamento em bolhas, horários desfasados tanto nos intervalos como nas horas de refeição e isto estendeu-se a todos os serviços existentes dentro da escola”.
Ajudou às competências digitais
Desengane-se quem pensa que as dificuldades surgiram apenas numa fase inicial. Se no início as escolas enfrentavam a falta de material informático disponível para os alunos usarem em casa para as aulas à distância, bem como a novidade de se estar a viver um vírus sem fim à vista, numa segunda fase enfrentavam isolamentos, ora de alunos, ora de professores.
Se as escolas, enquanto instituição, sofreram “na pele” as adaptações impostas pela pandemia, também os alunos foram obrigados a adaptar-se ao ensino à distância sofrendo as consequências na componente relacional e educativa.
Luísa Pereirinha, directora do Agrupamento de Escolas Martinho Árias de Soure (AEMAS), conta que o agrupamento “tem conjugado esforços de superação deste constrangimento, através de várias acções estratégicas de recuperação de aprendizagens, tais como coadjuvações, tutorias, serviços especializados com terapias e acompanhamento psicológico. Temos, ainda, previsto um projecto relativo à saúde mental, dinamizado pelos serviços de psicologia e orientação”.
Mas se a pandemia veio sublinhar que “não estamos preparados em termos de recursos: faltam computadores, a intensidade de sinal da internet é fraca, os espaços não correspondem ao idealizado em termos de desenho teórico para assegurar o distanciamento, o arejamento, entre outras coisas. Veio ainda dar visibilidade às diferenças entre alunos e entre famílias”, nomeadamente no acesso a material informático, constata Graça Grácio, directora do Agrupamento de Escolas de Alvaiázere (AEA), frisando que apesar das dificuldades também houve apontamentos positivos a surgirem com a pandemia, como “a boa vontade, o esforço e o trabalho colaborativo” com a certeza de que “são essenciais para pôr toda uma engrenagem a trabalhar. Fica, sem dúvida, a memória de um trabalho colaborativo inquestionável”. A este reconhecimento do papel activo dos estabelecimentos de ensino, Fernando Mota acrescenta ainda o avanço tecnológico e digital, onde se deu “um salto no acréscimo das competências digitais, obrigou as pessoas a trabalhar de outra forma”. “A covid fez mais pelas competências digitais do que as acções de formação que aqui fazemos sistematicamente”, afirma o director do AE Pombal.
A importância da escola
A par do trabalho de equipa, do esforço conjunto para um propósito comum e do acréscimo de competências digitais, deu-se a “consciencialização dos encarregados de educação para a importância do papel da escola”. “Acho que se ‘tocaram’ para o quão importante é a escola enquanto entidade e enquanto colaboradora”, enfatiza Maria Manuela Pinto, reconhecendo que “não há nada que substitua a presença física de um professor numa sala de aula. Assim como a toda a parte da socialização que se torna indispensável ao desenvolvimento dos alunos”, complementou a sub-directora do AE Pombal.
Futuro do ensino: presencial, híbrido ou total reforma?
A visão do ensino pode até diferir, porém há um ponto comum entre as direcções agrupamentos escolares de Alvaiázere, Pombal e Soure, abordados pelo TERRAS DE SICÓ: modelo presencial sempre!
“O presencial tem de ser a regra. O acto de aprender, educar e ensinar implica sempre a presença, actuação, observação e avaliação dos vários intervenientes. Como tal, o ideal é que este seja presencial para ser possível atender às especificidades de cada aluno e garantir a igualdade de oportunidades a todos os cidadãos. A escola é, também, um cenário vivo de interacções, troca de ideias, valores e interesses, conducentes e indispensáveis à evolução do ser humano enquanto pessoa”, defende Luísa Pereirinha, do AEMAS, sem deixar de referir que “as ferramentas digitais constituem-se uma mais-valia no ensino presencial, quer na implementação de medidas educativas, quer no acompanhamento das aprendizagens de alunos que estão impossibilitados de estar na escola garantido a inclusão de todos”.
Por sua vez, a directora do AEA argumenta que “o modelo híbrido é de considerar, caso contrário também não estaríamos a aprender com a história do presente. De qualquer forma híbrido só se necessário, porque nada substitui o ensino presencial. É preciso vir e estar na escola. Aliás, se esta rotina não fosse tão importante, e a pandemia veio lembrar e vincar esta importância, não tinham proliferado as opiniões, estudos e orientações terapêuticas direccionadas para as crianças e jovens em isolamento, privados da socialização que a escola lhes proporciona”, recorda Graça Grácio.
Já o director do AE Pombal vai mais além e sugere que as mudanças no ensino vão para lá do modelo presencial ou híbrido e devem focar-se numa total reforma do ensino.
“A preparação dos alunos para o mercado de trabalho numa perspectiva global é um desafio do momento. Isso obriga a um olhar diferente da tutela perante a educação e isso leva a uma reformulação do ensino desde o pré-escolar até ao ensino universitário para a qual não tem havido coragem política. Temos feito alguns remendos, algumas adaptações mas pensar numa reforma global estrutural é urgente e isso é transversal a muitas outras áreas. É preciso visão a longo prazo e não por dois ou três anos”, preconiza Fernando Mota, salientando que “as mudanças vão ter que acontecer, inevitavelmente, até por causa dos desafios que a própria sociedade nos coloca. A pandemia acelerou o aspecto tecnológico, mas os desafios já existem até com as profissões do futuro e as competências que lhes são inerentes”.
RUTE AZEVEDO SANTOS
[NOTÍCIA DA EDIÇÃO IMPRESSA]
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