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Alvaiázere: Trabalho académico define “nova centralidade do rural” para Ariques

6 de Fevereiro 2022

Uma tese de mestrado em Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra preconiza a criação de um complexo multifuncional como “projecto-âncora” de um centro de identidade na aldeia de Ariques, no concelho de Alvaiázere.

O estudo da autoria de Laura Almeida sugere um projecto de urbanidade no contexto da Rede de Aldeias de Calcário (RAC), dinamizada pela Associação de Desenvolvimento Terras de Sicó, que permita “desenvolver o que de maior valor existe na aldeia de Ariques e assim (re)conhecer o património natural e cultural como o seu principal recurso, e reforçar a coesão social da pequena comunidade”.

“Este conjunto de valores cria o centro de identidade de Ariques que se materializa num complexo multifuncional, resultante da reabilitação de quatro edifícios abandonados, onde a marca ‘calcário’, a arquitectura vernacular, a multifuncionalidade, comunidade e partilha são factores-chave para o desenvolvimento integrado da aldeia, afirmando assim uma nova centralidade do rural”, defende a autora.

Recorde-se que as características do território de Sicó aliadas à pretensão de criar novos projectos que o dinamizem levaram à ideia da RAC, um plano integrado de intervenção envolvendo, numa primeira fase, as aldeias Ariques (Alvaiázere), Granja (Ansião), Casmilo (Condeixa), Chanca (Penela) Poios (Pombal) e Pombalinho (Soure).

A dissertação, a que o TERRAS DE SICÓ teve acesso, é resultado da iniciativa de investigação aplicada ‘De volta ao rural ou como reforçar a coesão da cidade regional?’, em curso desde Setembro 2020, no âmbito de um protocolo estabelecido entre aquela associação de desenvolvimento, e respectivos municípios, e a Universidade de Coimbra, através do Departamento de Arquitectura. Dentro desta iniciativa, um grupo de 17 estudantes do Mestrado Integrado em Arquitectura criaram, com a coordenação do professor Adelino Gonçalves, a estratégia de valorização daquelas aldeias, designada ‘Aldeias de Calcários: Pólos de Multifuncionalidade, Agregadores Sociais, Centros de Saber e Experiência’, desenvolvida com planos de intervenção nas mesmas.

O trabalho académico desenvolvido teve como base “um pensamento crítico relativamente ao desenvolvimento urbano em espaço rural” e o principal objectivo foi “pensar a arquitectura como agente para o desenvolvimento integrado, com base na convicção que ela pode contribuir para a valorização de pequenos e médios aglomerados e assim afirmar (um)a (nova) centralidade do rural”.

Valorizar património

A proposta de Laura Almeida insere-se num plano de acção para a aldeia de Ariques, elaborado em parceria com Catarina Jegundo, tendo este como principais propósitos a “valorização do património cultural/natural e o reforço da auto-estima da comunidade”, assentando na divulgação da marca ‘calcário’ como símbolo das aldeias de Sicó e na protecção da biodiversidade.

Ariques pertence à freguesia de Almoster, em plena Serra de Ariques, a maior elevação do Maciço de Sicó (618 metros), destacando-se pela sua localização isolada e por possuir uma densidade populacional muito baixa. O trabalho de campo contabilizou apenas quatro habitantes.

A autora defende que Ariques, “uma área isolada”, tem potencial para se integrar, valorizando os recursos endógenos, envolvendo a comunidade, centros de investigação e autoridades locais. Para isso propõe a criação de um centro de identidade, “uma área da aldeia cuja intervenção corresponde a objectivos que se enquadram na estratégia geral e desempenhará o papel de um articulador social, materializando-se num complexo multifuncional resultante da reabilitação de um conjunto edificado devoluto e na requalificação do espaço exterior em que se localiza este conjunto”.

Com base no plano de acção, as intervenções naquela aldeia dividem-se em quatro

áreas as duas entradas – a norte e a sul – e dois espaços no seu interior.

“A requalificação destas áreas e criação de instalações para os programas do projecto têm

como principal objectivo promover a vida comunitária, tendo também atenção ao espaço público da aldeia com o tratamento de pavimentos, a criação de passeios, o desenho de mobiliário urbano e ainda requalificação de percursos pedestres, nomeadamente em áreas de carvalho-cerquinho, olivais milenares, muros de pedra seca e lapiás. Assim, o cuidado com o espaço exterior recai sobre a premissa de afirmação de Ariques como ‘aldeia de calcário’, onde é proposta uma repavimentação em cubo de calcário, unificando os eixos que atravessam a aldeia e marcando os limites desta”, explica a autora.

Centro de identidade

Laura Almeida sinaliza a importância da definição do “centro de identidade”, localizado na entrada norte da aldeia, com a intervenção que consiste na criação de um complexo multifuncional [edifício polivalente], que sirva a comunidade, o investigador e o visitante, e na reactivação do lagar e fonte comunitária, bem como na requalificação do espaço exterior envolvente.

“O centro de identidade serve a identidade colectiva da aldeia, ou seja, é o palco de acção da

vida pública em Ariques. Não é um edifício que forma esse centro, mas sim um conjunto de

edificado, e as relações que se criam entre si, que resultam na identidade do espaço que criam. Estão directamente relacionadas questões programáticas, as diferentes escalas do projecto, impactos da implantação, condicionantes e a forma como as pessoas vivenciam/vivenciaram, interagem/interagiram e percebem/perceberam aquele espaço”, salienta.

Para a entrada sul é defendida a criação de “um momento de recepção”, onde a pavimentação se estende em redor da aldeia, criando pequenos espaços de estar que acolhem o visitante e nos quais se implementará o equipamento de apoio à visitação, já construído mas cuja implantação se encontra “desenquadrada e com uma má relação com a envolvente, acabando por se tornar um elemento estranho na aldeia”.

Para próximo destes espaços, na entrada sul, é proposta uma torre de observação/vigia, que tanto pode ser usada pelo turista como por pessoas especializadas na vigilância

da floresta ou com essa função, como o guarda-florestal, permitindo assim um contacto mais directo com a biodiversidade e/ou um controle, protecção e gestão da mancha florestal.

“Nessa mesma zona da entrada sul dividem-se dois percursos de acesso ao interior da aldeia. Um deles, fazendo a ligação à rua da Chã, marcado pela grande mancha de carvalho-cerquinho, dá acesso a um conjunto edificado para o qual se propõe um programa de Albergue de apoio ao peregrino/caminhante, uma vez que Ariques é atravessada por várias rotas, nomeadamente religiosas, como a Rota Carmelita, o Caminho de Fátima e o Caminho de Santiago. O outro dá acesso a um programa de restauração com uma componente de turismo de lazer de base comunitária, de forma a valorizar e promover os produtos endógenos de Sicó. Este consiste na criação de um restaurante e um espaço dedicado à realização de eventos culturais, com a reabilitação do edificado existente”, defende Laura Almeida.

Para a autora do estudo académico, “com as opções arquitectónicas e as soluções construtivas adoptadas, pretende-se afirmar a marca ‘aldeias de calcário’, valorizar o património natural e o edificado vernáculo de Sicó”.

[NOTÍCIA DA EDIÇÃO IMPRESSA]


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