O problema da discussão política é, não raras vezes, a falta de tolerância democrática. Todos dizem que a têm, mas quando salta o verniz, a dialéctica sobe de tom e desce a níveis impensáveis. A diferença de visão da sociedade e da economia não deve servir para adjectivar os que pensam de modo diferente. Deve haver espaço para a discussão e sobretudo deve haver respeito, pluralidade e, sendo possível, capacidade para ouvir (mesmo) os argumentos da outra parte. Talvez ainda pior do que isto, seja a demagogia e o ruído para “colar” aos adversários, determinada imagem, nem que para isso se repita à náusea determinada frase.
Há na política portuguesa actual quem seja mestre da comunicação demagógica e do ruído, quem coloque temas de discussão “nacional” sem nenhum interesse social, portanto, sem nenhum interesse para os portugueses. Nesta espuma política, não se debatem ideias essenciais para a vida de Portugal. Ou porque não interessa ou porque não sabem ou porque não passa essa comunicação. A próxima campanha para as eleições legislativas poderá enfermar deste mal. Instalou-se uma dicotomia de discussão política importante que, com mais ou menos “centro”, debate se Portugal precisa de mais Estado, normalmente ineficiente, ou de melhor Estado e mais espaço para o crescimento da economia e mais criação de riqueza. Só há distribuição de riqueza, só há menos pobreza, com mais crescimento económico que, digo eu, deveria ser o mote político da próxima década porque tudo o resto, é a consequência.
Portugal está a ficar para trás, a cada ano, quando compara com as demais nações europeias. A comparação de crescimento económico com a Irlanda, de tão desfasada, é ridícula para todos nós. Portugal. O País que nos últimos 27 anos, foi governado por 20 anos pelo Partido Socialista. Foi a nossa escolha, a escolha da maioria dos portugueses porque, realmente, talvez, nós sejamos “mais ligados ao Estado”, a geração de quem tem, agora, mais de 50 anos, pelo pouco que tinha, preferia e via no Estado o melhor reduto para a sobrevivência e a segurança laboral.
Na realidade, somos pouco propensos ao risco, sobretudo se tivermos alguma coisa para arriscar. Na análise daquelas quase três décadas, é ainda importante escrever que o outro partido que esteve no poder, o PSD, sempre esteve em “modo de emergência”. Em 2002, a corrigir o défice excessivo que impôs várias medidas pouco populares, e em 2011, com o país em Estado de falência, com a Troika a controlar a governação para emprestar cerca de 78 mil milhões de euros que eram precisos para acudir à crise financeira e social. Claro que há os que dizem que “se foi além da Troika”, outros que disseram que o melhor era não cumprir porque “as pernas dos banqueiros alemães iriam tremer” (viu-se o que se passou na Grécia, fartaram-se de tremer…) , entre outras “formas de ruído” político que não dão substância à discussão.
Vamos ter de escolher no final deste mês, entre o marasmo de governação polvilhado com os euros do Plano de Recuperação e Resiliência da Europa, ou a ambição de um Portugal diferente, com capacidade reformista, abrindo a sociedade, dando importância à economia e ao crescimento. São escolhas. Uma é mais do mesmo, sem grande risco, acomodada e que hipoteca a ambição das novas gerações que olham, cada vez mais, para fora de Portugal. A outra pode ser a mudança estrutural que preparará o futuro porque poderá ser a oportunidade de governar sem crise financeira, pelo menos, por agora.
Uma escolha é o PS, a outra é o PSD. Se estivermos satisfeitos, deveremos escolher o PS para nos governar mais uns anos. Se procurarmos ou, pelo menos, tentarmos um Portugal mais inconformado e mais ambicioso, a escolha deverá ser o PSD. E os outros, perguntará o leitor? Os outros são todos importantes porque, de algum modo, representam sectores da sociedade ou complementam sob o ponto de vista ideológico os blocos de maior dimensão. Nestes outros, há-os mais radicais e os mais moderados. Em qualquer caso, essa pluralidade pode acrescentar valor no parlamento e, de forma clara, condicionar a governação. Aqui, entra uma nova dimensão da política que não deve acontecer. As minorias não devem governar. Podem sensibilizar e exigir dentro da proporcionalidade da sua representação. Em teoria é assim, na prática, temos constatado que fica longe de assim ser. Por essa razão, está a gerar-se na sociedade portuguesa, uma dicotomia de blocos que será colocada à prova nas eleições que se aproximam. Esperemos que evitem o ruído e se concentrem a explicar as suas diferenças aos portugueses.
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