As eleições autárquicas, apesar da abstenção de quase 50 %, ditaram a expressão e a vontade das pessoas sobre os políticos de maior proximidade. Houve, como em todas as eleições, várias surpresas, entre as quais Lisboa, a mais importante, e Penela, a mais próxima de todos nós. Em Penela, o Partido Socialista ganhou depois de 45 anos de governação local do PSD, razão suficiente para felicitar os candidatos vencedores. Em qualquer caso, julgando por alguns posts “oficiais” da candidatura vencedora, fica-lhes mal terem escrito que o 25 de Abril finalmente chegou. Desrespeita todos, inclusive os que agora votaram de forma diferente, afirmando o desejo de mudança. A democracia é boa quando ganhamos e quando perdemos. Saber ganhar é tão importante como saber perder. Em Penela, o povo quis mudar de forma inequívoca e demonstrou maturidade política, a mesma que sempre expressou em todos os actos eleitorais desde que há possibilidade de eleger políticos. Em política, a tendência de voto tem uma componente emocional muito forte. O mandato da Câmara Municipal 2017/2021 foi fortemente penalizado pelas pessoas. Julgo que por duas razões principais. Uma razão tem a ver com pequenos detalhes que não foram cuidados. Coisas pequenas, mas que podem penalizar. O canteiro mal arranjado, o parque infantil com brinquedos estragados, o buraco na estrada, a valeta obstruída, as bermas cheias de ervas, enfim, os detalhes que no novo formato de poder local, deveriam ser competências das juntas de freguesia, mas que teimam em ficar num órgão, cada vez mais, ocupado com questões sub-regionais ou regionais. A segunda foi a falta de capacidade de comunicação. Em política como no mundo empresarial competitivo, não basta trabalhar nos bastidores, também é necessário comunicar com as pessoas que obviamente são os últimos juízes de tudo o que possa estar a ser feito. Resumindo, em política, não chega fazer o trabalho de casa, é preciso informar e interagir com os cidadãos, por maioria de razão, quando vivemos na era da comunicação digital. Alguns sabem (poucos) que a Câmara de Penela tem projectos aprovados e financiados nas áreas da habitação, da requalificação urbana, das empresas com a ampliação do projecto do HIESE (habitat de empresas com parceria com o Instituto Pedro Nunes), do turismo com o projecto das aldeias do calcário (Chanca) ou com a reabilitação da praia fluvial da Louçainha, mais de quatro milhões de euros em obras de saneamento, entre outros projectos que vão desde a mobilidade eléctrica até acções imateriais de valorização de território através de eventos. São praticamente 10 milhões de euros de projectos aprovados com financiamento ou muito orientados, que a maioria dos Penelenses desconhece.
Portanto, se quem ganha aprende e evolui, quem perde deve fazer o mesmo, com a mesma humildade que advém da compreensão da opinião das pessoas. A escolha foi inequivocamente na mudança, o que é respeitável e deve provocar uma reflexão profunda nas hostes social-democratas locais. Não foram, como alguns quiseram “postar” (como agora se diz) mais de 40 anos perdidos. Antes pelo contrário. Foram mais de 40 anos de evolução de um dos concelhos mais pobres de Portugal para um concelho que está na média portuguesa do Índice de Poder de Compra, com infra-estruturas escolares, urbanas, desportivas e culturais que permitem uma boa qualidade de vida, um concelho sem desemprego (sim, sem desemprego porque as empresas que querem contratar para as suas áreas operacionais, não têm quem), um concelho com uma rede viária nacional com perfil de auto-estrada, com um património medieval e arqueológico que foi valorizado e permitiu criar um produto turístico regional (lembro-me bem de discussões, há 15 anos, na Assembleia Municipal em que poucos acreditavam na capacidade de atrair investidores na área da hotelaria), enfim ao contrário do que se faz passar em ambiente de “erupção politiqueira”, Penela e as suas gentes ganharam muito com a governação do PSD. Governação que sempre foi feita com responsabilidade e sem demagogia. Com isto não queremos dizer que não haja erros. Claro que houve erros e omissões, mas é importante haver racionalidade nas análises para que estas possam ser tomadas como sérias.
Daqui para a frente, quem ganhou deve diagnosticar e gerir com a responsabilidade de projectar um legado que é grande e de qualidade. Os territórios sempre ganharam com as mudanças, fossem elas de protagonistas do mesmo partido político, fossem elas provenientes de outras forças partidárias, como foi, desta vez, o caso. Os Penelenses sempre foram sábios nas suas escolhas. Nesta também, independentemente de pensarmos diferente. Desejamos, sinceramente, as maiores felicidades ao novo Presidente da Câmara de Penela e à equipa que ele escolher.
Extrapolando, agora, para uma análise nacional e para o futuro da liderança do PSD, bem sabemos que o actual líder também trabalhou para que os resultados das autárquicas de 2017, tivessem gerado a saída de Pedro Passos Coelho, mas a circunstância política não é de todo similar. Passos Coelho estava à frente do PSD desde 2010, tinha ganho duas eleições legislativas e com a “jogada de António Costa” da gerigonça, estava na oposição. Rui Rio já perdeu eleições legislativas, eleições europeias, eleições autárquicas (o PS sozinho elegeu 148 câmaras, menos 11 do que em 2017, e o PSD sem coligações elegeu 72 presidentes, menos 7 do que em 2017, apesar de ter ganho no total 114 municípios), o PSD não consegue sair da fasquia dos 25% nas sondagens para a Assembleia da República, mesmo apesar de todas as vicissitudes e problemas do governo do PS. Isto para dizer que independentemente do mérito de Carlos Moedas entre outros candidatos vencedores do PSD, a liderança do partido precisa ser discutida porque Portugal precisa de uma oposição mais estruturada, com mais visão e com mais capacidade de aproveitar a riqueza humana de quadros dentro do próprio partido.
Rui Rio tem toda a legitimidade para se recandidatar e tentar fazer o seu terceiro mandato à frente do PSD, mas, na nossa opinião, faz sentido que a liderança seja desafiada por um candidato credível, com visão de mundo, tolerante e que goste verdadeiramente dos militantes (que não são sarna, são a base), que saiba ouvir, que saiba dar razão a terceiros quando não a tem, que tenha ambição de um partido maior e de um Portugal melhor do que aquilo que temos. Um líder com capacidade de chamar todos, mesmo os que não concordam com ele. Um líder que não crispe porque um companheiro pensa de forma diferente. Rui Rio também tem qualidade? Claro que tem, mas já provou que não tem a capacidade de ser o próximo Primeiro-Ministro porque não entusiasma, porque não toma as opções certas, porque não pode num ano dizer que “está ao lado do Governo por causa do País” e noutro ano dizer “que está nas antípodas do governo por causa do País”. Não pode porque se descredibiliza aos olhos de todos. E, os olhos de todos estão cada vez mais atentos e mais exigentes.
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