Estamos em Agosto e o Verão mal se viu. Saíram os primeiros resultados dos Censos de 2021 e o resultado não foi propriamente animador. Pela primeira vez, em mais de meio século, Portugal perdeu população. Além disso, Portugal está mais velho ainda do que a Europa que já está muito mais velha do que o resto do mundo. A população activa e a população da faixa etária até aos 18 anos são demasiado baixas para que não exista uma estratégia nacional devidamente integrada. Discutimos temas de Constituição ou de leis eleitorais, coisas importantes em função do ponto de vista, mas não se discutem políticas de natalidade, políticas de emigração e, por consequência, a estratégia de crescimento e desenvolvimento de Portugal. Discutimos um Plano de Resiliência e o seu pacote financeiro e vamos percebendo que o próprio Estado ou organizações de várias tipologias, desde os sindicatos ou até empresariais, poderão vir a “absorver” uma quantidade imensa de dinheiro em formação que, todos já rezamos, para que não vá ser “mais do mesmo”. Não podemos ter mesmo “mais do mesmo”. Portugal precisa de um Governo ambicioso que coloque os interesses maiores dos Portugueses à frente de quaisquer interesses corporativos. É preciso coragem. Se não houver coragem política e se estiverem mais importados com as próximas eleições, continuando a “governação à vista”, não teremos agenda política decente, não teremos prioridades estratégicas e, daqui a 10 anos, estaremos ainda mais atrás, nos vários indicadores de crescimento e de criação de riqueza. A política portuguesa é demasiado complicada. À fartura de programas de debate político com protagonistas cheios de agenda e objectivos políticos, portanto pouco independentes na opinião, os portugueses respondem com um alheamento assustador porque “já não acreditam em quase ninguém”. Paradoxalmente, ainda se fala do político A para o lugar B, na Europa, como que a premiar bom senso e boa capacidade de relacionamento, o que não sendo pouco, está longe de ser essencial para as necessidades que a Europa enfrenta. Os blocos mundiais podem (ainda) ter menos condições sociais e económicas, podem ter regimes meio duvidosos (e alguns deles, realmente, têm), mas andam num comprimento de onda completamente diferente desta burocracia europeia que se ramifica por todos os Estados. Portugal precisa de dois ou três desígnios estratégicos –aumentar urgentemente a taxa de natalidade (e isso não se faz simplesmente com mais uns adornos de licenças de parentalidade, faz-se com incentivos fiscais fortes e com abonos de família que dêem conforto às jovens famílias), crescer acima de 3% ao ano (tudo o que seja abaixo “não nos retira de onde estamos”) e diminuir a carga brutal de impostos sobre os portugueses, o que implica ter um Estado eficiente e que não seja factor de redução de riqueza. Claro que a sustentabilidade da segurança social é importante, o indicador de número de licenciados é crucial, o sistema nacional de saúde tem de ser a nossa maior segurança, entre outros objectivos sectoriais, mas se não acontecerem aqueles três objectivos maiores, os nossos filhos e netos terão uma vida pior do que a nossa. E quando uma geração entrega à geração seguinte, um País pior, significa que estamos (literalmente) a andar para trás. Estamos em Agosto, mês de férias, sem notícias, o mês em que se preparam “rentrées” políticas, à beira de eleições autárquicas. Discutem-se “libertações”, ministros que deveriam sair, mas vão ficando, líderes partidários com pequenas lógicas de poder pelo poder. É tudo muito curto, demasiado curto. E o “Portugal que trabalha e vai puxando por isto” exaspera com tanta falta de ambição de quem deveria ser ousado e corajoso. Até parece que não há desígnios novos para traçar. Até parece que está tudo bem, para além do Covid que nos aborrece e nos veio atolar ainda mais. Sim, porque só se atola quem anda em caminhos tortuosos e estreitos. No entanto, apesar disto tudo, não se discute seriamente este estado da nação. Os que governam tentam florear e falar de um país que gostariam que existisse, mas não existe e os outros perdem-se por atalhos que não levam a lado algum. É o que temos, mas como estamos em Agosto, boas férias para todos!
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