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ENTREVISTA A CÉLIA MARQUES: “Alvaiázere mais atractiva e com maior dinamismo económico”

10 de Junho 2021

Célia Marques deixa dentro de quatro meses a presidência da Câmara Municipal de Alvaiázere, seis anos e meio depois de ter assumindo o cargo, em Abril de 2015, na altura substituindo Paulo Tito Morgado, que renunciou ao mandato. Venceu as eleições em 2017, mas optou por não se recandidatar nas Autárquicas deste ano, invocando razões pessoais. Com o Dia do Concelho, o último sob a sua liderança, a chegar, é hora de anteciparmos o balanço.

TERRAS DE SICÓ (TS) – Depois de mais de seis anos na liderança do Município, que Alvaiázere vai deixar?

CÉLIA MARQUES (CM) – Espero deixar uma Alvaiázere mais atractiva e com maior dinamismo económico. Foi para isso que me comprometi e foi esse o foco do trabalho. Uma Alvaiázere mais ciente daquilo que tem para oferecer a quem aqui vive, mais acolhedora para quem vive no concelho, com maior qualidade de vida, mas também uma Alvaiázere mais atractiva para quem a visita turisticamente e mais atractiva ao nível empresarial.

TS – Olhando para o trabalho executado, que marcas deixa?

CM – Para mim há quatro projectos que me dão orgulho, tenho de ser sincera. O ‘Alvaiázere +’, porque foi um projecto que foi muito pensado, muito discutido, foi um processo muito construtivo feito pela equipa interna da Câmara, pela empresa que recrutámos para nos apoiar, foi um trabalho que foi crescendo e que tem dado os seus frutos, e nos momentos que vivemos de pandemia tem sido muito acolhido e muito bem recebido pelos empresários e pelos jovens; depois a revisão do Plano Director Municipal (PDM), um processo que ainda não está fechado, o que constituiu uma grande angústia minha se o não conseguir deixar encerrado, mas as linhas orientadoras estão todas definidas. Vamos introduzir no PDM uma visão diferente de Alvaiázere, vamos definir um conjunto de eixos e de medidas em todas as frentes, desde a económica, à social, até ao desenvolvimento turístico. Há uma visão para Alvaiázere e esse é um documento extremamente importante. O terceiro projecto que destaco é o PARU – Plano de Acção de Reabilitação Urbana, que dá uma visão de modernidade à sede de concelho e marca quem vem a Alvaiázere. E, por último, a zona industrial de Rego da Murta.

TS – Que projectos ficam por fazer?

CM – Deixamos muitos projectos, porque o trabalho numa câmara municipal nunca está concluído, os projectos nunca acabam, mal seria se assim fosse. Em projecto, temos a recuperação do mercado de Maçãs de Dona Maria, que se o conseguir lançar ainda este ano, lançamos, senão fica em carteira; o parque botânico da Mata do Carrascal, que tivemos a candidatura agora aprovada e vai ser iniciado entretanto e vai estar a decorrer; o parque Gramatinha/Ariques, cuja candidatura que submetemos a financiamento ainda não está aprovada, mas o projecto vai ser desenvolvido e será executado, espero eu; o mercado de gado de Sicó em Almoster, que tem o projecto submetido no PDR [Programa de Desenvolvimento Rural] e a nossa expectativa é que seja aprovado e que será executado; a revitalização da praia fluvial de Maçãs de Dona Maria, onde iniciámos agora a limpeza e recuperação das margens e já submetemos parecer à APA [Agência Portuguesa do Ambiente] para a primeira fase do projecto de revitalização, que se vier com aprovação será iniciado a ainda este ano. E podia continuar… Há sempre projectos, ideias e oportunidades, porque também sinalizamos algumas iniciativas de acordo com as oportunidades de financiamento.

TS – O que é que Alvaiázere precisa agora?

CM – Precisa de pessoas. Mas temos de ser realistas, isto é por etapas. Primeira etapa: criar condições para haver qualidade de vida. Até há algum tempo atrás foi trabalhada essa perspectiva. Depois começámos a ter condições para trabalhar a vertente económica, apostar na criação de postos de trabalho. Agora a aposta tem de ser requalificação do parque habitacional, porque infelizmente não temos mercado de arrendamento, temos muitas casas abandonadas, devolutas, mas não há a perspectiva de as colocar ao dispor, ou é para venda ou arrendamento não existe. E essa é uma dificuldade para quem se quer aqui instalar. Posso dizer-lhe que as câmaras municipais do Pinhal Interior estão a trabalhar de uma forma muito próxima com a ministra da Coesão Territorial num dos eixos que tem a ver, precisamente, com a questão da habitação. Temos que apostar numa política de arrendamento e na atracção de pessoas.

TS – Gostou de ser presidente de Câmara?

CM – Jamais, em tempo algum, pensei que isto pudesse acontecer [ser presidente]. Quando o dr. Paulo Tito me convidou a primeira vez em 2009 não foi muito fácil eu aceitar. Aceitei com o desafio do PDM, porque gosto muito da parte do ordenamento do território e planeamento, tinha feito o mestrado na Universidade de Aveiro sobre esse tema. Era um desafio muito grande, mas pensei: como posso dizer que não quando é uma área que gosto tanto e é uma forma de poder transmitir e acrescentar algo ao meu concelho. E acabei por aceitar com essa ambição e perspectiva. Nunca pensei que pudesse ficar neste lugar. Gostei e não estou arrependida de maneira nenhuma. Apesar das dificuldades iniciais que senti após a saída do dr. Paulo Tito, nunca pensei desistir, nem desistiria. Quando o dr. Paulo Tito saiu houve uns momentos de hesitação, foi um desafio muito grande, foi na transição do quadro comunitário e o dr. Paulo tinha muito projectos a decorrer e houve uma gestão muito difícil a fazer, mas conseguimos dar a volta e este mandato agora, de 2017 a 2021, foi totalmente diferente. 2015 e 2016 foi arrumar a casa, estruturar ideias, delinear projectos, enquanto estes últimos quatro anos foram muito aliciantes, porque já estávamos com o nosso foco, a nossa estratégia e visão.

TS – Não desistiu antes, mas dá a ideia que desistiu agora ao não avançar com a recandidatura a um novo mandato…

CM – Não, não desisti. Isto não é uma questão de desistir, é uma questão de as circunstâncias mudarem. Quando entrei em 2009 as minhas circunstâncias pessoais, que estou ligada ao mundo empresarial, permitiram que viesse para a Câmara e tudo se restruturou para poder vir. Neste momento, isso não é possível. Não tem nada a ver com o partido, nem com o trabalho realizado. Nada disso. Tem a ver com as minhas circunstâncias pessoais, que são diferentes neste momento e não me permitem continuar.

TS – E o que vem aí depois de Outubro, a arquitecta ou a empresária?

CM – Ambas.

TS – Como é que vai continuar a olhar para Alvaiázere?

CM – Vou estar sempre ligada a Alvaiázere porque a minha vida profissional é aqui. Tenho as empresas aqui sedeadas, o meu gabinete de arquitectura está aqui, a minha vida profissional está sempre aqui, não muda nada. Só deixo de estar na câmara e passo a estar nas empresas.

TS – E em termos políticos, é independente, eleita nas listas do PSD, vai sair de cena ou ‘vai andar por aí’?

CM – Vou sair complemente e vou para a minha vida profissional. Claro que não se pode dizer nunca, mas não perspectivo nada em termos políticos para os próximos anos.

TS – Admite no futuro vir a ser candidata noutro concelho que não o de Alvaiázere?

CM – Acho que não. Para ser candidata noutro concelho tinha que conhecer as pessoas, conhecer a realidade. Onde me sinto confortável para definir uma estratégia, uma visão, é no meu concelho, que é onde conheço a realidade, onde conheço as pessoas e as pessoas me conhecem, conhecem o meu percurso, conhecem a minha forma de estar.

TS – Vive em Condeixa…

CM – Vivo, mas não tenho ligação nenhuma ao concelho. Costumo dizer: durmo lá. Não faço vida em Condeixa.

REGO DA MURTA NO MELHOR E NO MAIS DIFÍCIL

TS – Durante este percurso quais foram os momentos de maior satisfação e o mais difícil?

CM – A concretização da zona industrial de Rego da Murta. Posso juntar aí o mais difícil e o que me deu maior prazer. O facto de Alvaiázere não ter um pólo industrial foi algo que foi sempre muito ambicionado pela população e agora também muito contestado, embora perceba isso, porque se fosse à frente de minha casa também teria algumas dúvidas e reticências. O que me deixa um bocadinho intrigada é o porquê de as pessoas não acreditarem na informação que lhe dão, porque nós não ganhamos nada em mentir. Isso, sim, deixa-me angustiada e triste. Mas o trabalho que fizemos em conjunto para avançar com o projecto deu-me muita satisfação.

[ENTREVISTA PUBLICADA NA EDIÇÃO IMPRESSA]


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