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Coimbra: Universidade estuda pessoas com dificuldades na manipulação de objectos

16 de Junho 2021

Uma equipa da Universidade de Coimbra (UC) realizou um estudo com pacientes portugueses que sofrem de apraxia ideomotora, uma condição neurológica que os impede de usar objectos do dia-a-dia, anunciou hoje a instituição.

A apraxia ideomotora, refere a UC, caracteriza-se pela dificuldade em executar os movimentos necessários para manipular objectos, assim como pela “dificuldade em pensar sobre quais os movimentos associados à manipulação do objecto, apesar de não existirem dificuldades visuais ou músculo-esqueléticas”.

O estudo, já publicado na revista científica Cortex, foi realizado com dois pacientes, uma mulher e um homem, ambos com 59 anos, que “demonstram diferentes dificuldades sobre a manipulação de objectos, que até então nunca havia sido reportado” pela comunidade científica.

Os pacientes foram desafiados a demonstrar como se usam vários objectos através da gesticulação e identificar quais se manipulam de forma semelhante, adianta a UC, numa nota enviada hoje à agência Lusa.

Segundo Daniela Valério, primeira autora do artigo científico, “a paciente LS consegue simular que escreve num computador, mas não nos sabe dizer se este movimento é mais parecido com tocar piano ou com usar uma chave de fendas. Por outro lado, o paciente FP identifica facilmente esta semelhança e consegue descrever os movimentos necessários para usar os objectos, mas é incapaz de gesticular os movimentos”.

Estas diferenças, explica a investigadora da UC, “devem-se a lesões em áreas diferentes do cérebro, causadas nestes pacientes pelo início de uma demência e por uma síndrome de vasoconstrição cerebral reversível”.

Esta, sublinha, citada pela UC, Daniela Valério, “foi a primeira vez que se verificou uma dissociação entre pensar sobre a manipulação de objectos e executar esses movimentos, o que demonstra que provavelmente estas habilidades estão representadas em redes neuronais distintas”.

Por seu lado, Jorge Almeida, investigador coordenador e director do Proaction Lab, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da UC, salienta que “a impossibilidade de usar qualquer objecto no quotidiano é uma dificuldade difícil de imaginar”.

“Quanto mais soubermos sobre como o cérebro organiza informação, mais perto estaremos de providenciar tratamentos para condições tão incapacitantes como a apraxia ideomotora”.

Os resultados obtidos no estudo, conclui Daniela Valério, mostram que “as tarefas de pantomima e pensar sobre a acção estão dependentes de diferentes mecanismos cerebrais”.

Por isso, acrescenta, “quando se avalia pacientes apráxicos ou quando se estuda a manipulação de objectos, usar uma ou outra tarefa não é redundante, como se pensava até então”.

Assim, concluiu, “esta descoberta poderá impactar a interpretação de muitos estudos”.

LUSA


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