13 de Janeiro de 2025 | Quinzenário Regional | Diário Online
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PAULO JÚLIO

Para onde caminhamos?

7 de Maio 2021

Foi há um par de semanas que vivemos mais uma passagem pelo 25 de Abril. Desta vez, acompanhados de um inquérito aos portugueses sobre o estado da democracia, tendo como pano de fundo o caso Operação Marquês e um discurso inclusivo do Presidente da República que apelou à tolerância política porque não há democracia sem respeito pela diferença de opinião. Aliás, isso foi o que o 25 de Abril trouxe aos mais velhos, uma vez que os que têm menos de 40 anos nem imaginam o que seria viver sem isso.

Vivemos num tempo em que exigimos como nunca dos detentores de cargos políticos e, ao mesmo tempo, sem intenção, afastamos todos os que poderiam fazer a diferença. Ou quase todos porque ainda há uns resistentes que gostam e querem estar lá porque ainda acreditam que a política é o meio para melhorar a vida das pessoas. Na realidade, a cidadania permite-nos ser críticos e a crítica pode servir para que quem tem cargos públicos melhore a sua prestação e esteja sempre atento às várias dimensões de um qualquer problema ou desafio. O ponto não está na crítica, o ponto está no modo como falamos dos políticos, desclassificando-os, misturando o trigo e o joio, tratando todos como iguais e julgando que todos se estão a servir em vez de estarem a servir. Isto é muito perigoso para a sociedade e pode hipotecar o futuro dos territórios e das nações. Os populistas, ainda que ocos de reflexão e de ideias, aproveitam para ganhar espaço e tornam a vida das sociedades mais extremada e ausente de bom senso. Sem bom senso, a tolerância é uma miragem e a qualidade da democracia degrada-se.

Aqui chegados, nós, os cidadãos, devemos preocupar-nos com quem nos governa e com a sua competência. Vivemos num tempo em que tudo é escrutinado, justamente, porque quem exerce cargos públicos deve ter noção de que essa transparência é essencial, os partidos políticos são tendencialmente povoados de pessoas que infelizmente não representam o melhor que a sociedade civil possui e, por consequência destas várias circunstâncias, a remuneração de cargos políticos é um tabu que ninguém tem coragem de enfrentar.

O resultado disto tudo é um sistema cada vez mais distante dos cidadãos que têm o oposto do que desejam, formando um ciclo vicioso que somente uma classe política com coragem de enfrentar problemas e de mudar, poderia inverter. Enquanto nós não percebermos que quando estamos a destratar a classe política sem critério, estamos a prejudicar o nosso futuro, não sei se isto tem solução, por mais magnânimos que sejam alguns discursos de alguns protagonistas. Cidadãos politizados não são pessoas que descarregam mágoas nas caixas de comentários de redes sociais ou que à mesa do café, no meio de duas cervejas, apregoam que “esta malta é toda igual”. Não é. Mas, paradoxalmente, quanto mais o dissermos, mais isso se vai concretizar.


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