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PAULO JÚLIO

Ser Professor – a outra linha da frente!

27 de Março 2021

Não se constrói futuro se não soubermos bem de onde vimos. A nossa história do século XX foi polvilhada com o fim da monarquia, duas décadas de instabilidade política e mais cerca de quatro décadas de ditadura onde o isolamento económico e social foi a maior causa para um atraso endémico e estrutural. A falta de liberdade conduz sempre à falta de massa crítica e quando esta está ausente, o desenvolvimento fica para trás. De um lado, as poucas empresas existentes eram protegidas, do outro, a agricultura ficou sempre no modo de subsistência, o que não era pouco num Portugal onde a maioria das famílias tinha rendimento miserável e a fome fazia parte do quotidiano. O êxodo rural, sobretudo para a região de Lisboa, e a emigração foram as soluções encontradas por muitos, para fugir à inevitável miséria. Miséria de rendimentos, miséria social e miséria cultural. Um País que não consegue suprir necessidades básicas, não arquitecta uma estratégia para a educação e por consequência não pode ter uma ambição estruturada de crescimento económico.

Foi assim que entrámos na década de 70 do século passado e na democracia iniciada em 1974, há menos de 50 anos. Em cinco décadas muita coisa mudou, apesar de todas as críticas fundamentadas que podemos e devemos fazer ao muito que não foi feito. Portugal precisa de portugueses mais cultos e com maiores graus de qualificação, não porque tenhamos de ser todos doutores e engenheiros, mas porque no mundo global que competimos, sem esses requisitos é muito mais difícil atingirmos os nossos objectivos, mesmo que estejamos no exercício de tarefas técnicas como a de ser um soldador, um electricista, um pedreiro ou outra qualquer profissão. A mediocridade alastra com facilidade e só com mais cultura social, o poderemos impedir.

É com esta introdução que sublinho a percepção de que (finalmente) os portugueses compreenderam e reconheceram bem o papel de cada um dos professores deste País tão necessitado de boas bases de educação. Em Portugal, sobretudo nas últimas décadas, o reconhecimento ia para os professores do ensino superior. As outras muitas dezenas de milhares de professores do pré-escolar, do 1.º, 2.º, 3.º ciclos e secundário, eram consideradas como “menos essenciais” ou “mais normais”. Utilizo o pretérito nos tempos dos verbos porque neste confinamento, muitos milhares de famílias constataram o enorme profissionalismo de uma classe, tantas vezes esquecida algures na escala de mérito social, que, a partir de sua casa, com o seu computador e demais recursos, fizeram prova da sua resiliência, paciência e competências, para que a pandemia não tenha ainda piores consequências nas gerações mais novas.

Sobre a educação em Portugal, diria que os professores mereciam muito melhores políticos, melhores dirigentes no Estado e nos Sindicatos. Mereciam uma estratégia onde ninguém pode ficar para trás, mas onde o mérito tem de ser cultivado porque é a base de qualquer ascensor social. E não há mérito, se não houver rigor, disciplina e regras claras. A educação “porreira” não nos tirará do atraso endémico, mas isso é a responsabilidade do Estado. Os professores na sua larguíssima maioria gostariam que esses fossem os princípios. Apesar disso, continuam a provar que são mesmo o melhor que existe em todo o edifício da Educação em Portugal. Os pais entenderam isso, ainda melhor, nestes últimos meses e essa percepção é positiva para a valorização social de uma das profissões mais nobres que existe. Ensinar e educar crianças e jovens, significa construir a base de um País.

Por isso tudo, devemos-lhes agradecer porque estão a ajudar a salvar o País, mesmo apesar de tanta burocracia e das regras de nivelamento por baixo, que em nada os motivam ou ajudam a fazer o seu trabalho. Um trabalho que Portugal tanto precisa para, de uma vez, deixar de caminhar para a cauda dos países da União Europeia.


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