João Paulo Vaz, pároco de Pombal há quase uma década, cedo descobriu a sua vocação, revelando que foi graças a ela que deu a conhecer o seu dom enquanto músico, sendo co-autor do hino oficial das Jornadas Mundiais da Juventude 2023 que terão lugar em Lisboa.
TERRAS DE SICÓ (TS) – Antes de mais, gostava que nos contasse um pouco sobre a sua infância.
JOÃO PAULO VAZ (JPV) – A minha infância decorreu no seio de uma família cristã. Sou de uma pequena aldeia que pertence a Miranda do Corvo, Semide, onde tive uma participação activa na vida paroquial desde cedo com a minha ida à catequese e a frequência de outras actividades ligadas à Igreja.
TS – Em que momento da sua vida percebe que a sua vocação era o sacerdócio?
JPV – Foi por volta dos meus 10 anos. Na minha paróquia havia muitos rapazes mais velhos que frequentavam o seminário, uns nos Combonianos, outros nos Diocesanos e outros nos da Consolata, e que eram meus amigos, por assim dizer, porque quando vinham de férias passava muito tempo com eles. Só que acabavam as férias e eles regressavam, e eu ficava. E acabou por ser assim que surgiu a minha vontade de ir, só que os meus pais acharam que era demasiado cedo para eu entrar no seminário e então foi-se desenvolvendo a ideia de poder ir quando chegasse o momento certo. Fiz os meus estudos fora do seminário até ao meu 9.º ano e no 10.º ano entrei para o seminário, com os meus 15 anos.
TS –Como é que a sua família reagiu?
JPV – Reagiu bem, claro. Os meus pais apenas acharam que era muito cedo naquela altura, que com 10 anos ainda era muito novo. Mas quando ingressei no seminário foi uma grande felicidade para eles e para os meus irmãos também.
TS – Como é que a música surge na sua vida?
JPV – A música sempre fez parte da minha vida familiar. Aprendíamos facilmente alguns instrumentos, mesmo sem termos aulas, aprendíamos uns com os outros e a olhar uns para os outros. Gostávamos muito de cantar. E foi uma coisa que se foi desenvolvendo. Quando entre no seminário é que comecei a escrever as minhas canções. Foi com os meus 16 ou 17 anos que comecei a compor. Já o meu primeiro álbum foi lançado em 2003, quando já era padre há oito anos, mas era um sonho antigo, só que não houve meios para o concretizar mais cedo. E a partir daí fui gravando e actualmente conto já com seis CD’s editados.
TS -Em conjunto com o músico Pedro Ferreira, é autor do Hino das Jornadas Mundiais da Juventude de 2023, que irão decorrer em Lisboa. Sente que a letra que escreveu para o hino, “Há Pressa no Ar”, foi uma inspiração divina?
JPV – Todas as minhas letras, naturalmente. Sendo cristão e padre, muito facilmente reconheço que aquilo que me sai de dentro não é só meu, nasce de Deus, nasce de um chamamento enquanto padre. A letra também foi feita em contexto orante, onde há um tema mariano, ou vários temas que vêm desde a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) do Panamá até esta jornada. Então naturalmente que toda a inspiração é cristã e é interior. Claro que sinto que Deus fala por mim e que o Espírito Santo me inspira, e que aquilo que escrevo, muito particularmente este hino, não é meu, eu simplesmente sou um instrumento. Obviamente que tudo isto é partindo daquilo em que acredito, daquilo que são as minhas convicções religiosas, daquilo que é a minha fé e daquilo que é a minha confiança em Deus. É quase como se Deus escrevesse a partir de mim e eu escrevesse aquilo que Ele me pede.
TS -Vivemos numa sociedade cada vez mais individualista que agora se encontra ainda mais fragilizada devido à situação pandémica que enfrentamos. Os jovens estão cada vez mais desligados da Igreja. Vê nestas Jornadas em Lisboa uma oportunidade da Igreja portuguesa se reaproximar dos jovens, motivando-os a fazer parte de uma Igreja Viva?
JPV – Não são só os jovens que estão afastados da Igreja. No entanto, estão afastados da Igreja porque aqueles que foram jovens antes deles, os pais e outros mais velhos, já se afastaram antes deles. O facto de os jovens hoje estarem mais afastados é uma consequência de tudo isto também. Isto não acontece porque a Igreja se tornou feia ou pouco atractiva, a Igreja é a mesma, agora a nossa postura diante disso, a nossa forma de assumir também a tradição e amadurecimento da fé é que é diferente. Agora claro, esta JMJ traz uma renovação, traz uma lufada de ar fresco à Igreja portuguesa e muito a partir da realidade juvenil que é aquela onde devemos apostar, porque a Igreja vai ser aquilo que os nossos mais novos quiserem ser como Igreja, e esse será o nosso futuro. Ter uma JMJ em Portugal ajuda a que a Igreja rejuvenesça até porque nas JMJ anteriores foi um pouco disto que foi acontecendo também. O entusiasmo juvenil, o entusiasmo da fé, deixa sempre marcas então os jovens podem dar muito à Igreja, mas a Igreja também pode dar muito aos jovens. Não só em Portugal como no mundo, graças a convivências como esta. Estou certo de que será um bom momento, um momento de enriquecimento da vida da Igreja, mas temos de saber ser acolhedores, não só os jovens mas todos nós. E temos de ser acolhedores em dois momentos: o acolhimento da jornada em si, naquilo que são as vivências da fé dos jovens; quer também no acolhimento, na abertura do coração e das nossas casas, para os jovens que vêm fazer esta experiência. No fundo, o desafio para esta JMJ é que cada família se torne numa pequenina igreja doméstica que abre as suas portas para acolher quem chega, e este é o sentido também que esta JMJ em Lisboa pode e deve ter no meio de nós. Tudo isto pode trazer muitos benefícios, não só à Igreja, mas à santificação do mundo e das nossas famílias e do crescimento da fé dos nossos jovens.
TS -Sendo o pároco de Pombal, de que forma pretende motivar os jovens pombalenses a fazer parte desta preparação de caminho até às JMJ de 2023?
JPV – O primeiro passo é dar a conhecer a beleza deste encontro que é, nada mais, nada menos, o maior evento católico do mundo e da história. Dar a conhecer para que cada jovem possa perceber a beleza disto e se possa entusiasmar a participar. O segundo passo, para mim, é o do acolhimento. Um acolhimento quer das propostas, quer da possibilidade da participação, quer o acolhimento nas nossas casas de outros jovens. Esta é uma motivação que vai ser feita também, ajudando os jovens da paróquia e os seus pais a porem esta perspectiva do acolhimento e a gostarem de receber alguém nas suas casas.
RUTE AZEVEDO SANTOS
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