Já consegui ler as quase 150 páginas do Plano de Recuperação e Resiliência que alguém designou de “bazuca”. Este é um plano que há-de chegar após mais de um ano a viver em pandemia, como se pode, em Portugal. Se falarmos da vida das empresas portuguesas, desde as que foram obrigadas a fechar às que viram a sua actividade fortemente reduzida, quando comparada com a vida das empresas de vários Estados Europeus cuja robustez das suas finanças é incomparavelmente maior, facilmente percebemos onde e como vivemos.
Não é de todo o Portugal “cor-de-rosa” que alguns políticos nos querem passar. É um Portugal cheio de dívida pública que passou os últimos anos a fazer gestão, como se não houvesse nenhuma necessidade de mudanças estruturais, a não ser reduzir em 12,5% o horário dos funcionários do Estado, o “tal” cuja dívida pública é superior a 130% da riqueza que todos conseguimos produzir num ano. É um Portugal que se afunda na criação de riqueza per capita, em direcção aos últimos da União Europeia. Um Portugal com um Estado que realmente não tem condições de apoiar as suas empresas e cidadãos, como outros países fazem, deixando-os a todos à sua sorte, no meio de uma pandemia que foi gerida de tal modo que, este ano, ainda não sabemos o que é vida normal, confinados há quase três meses, depois de um mês de Janeiro com uma taxa de mortalidade brutal.
Mas, vem aí a “bazuca”, como ensaiam alguns protagonistas políticos, numa espécie de fuga para a frente de quem governa acompanhada com um assobio para o lado de quem deveria ser alternativa política. É tudo medíocre demais. Mas, para os optimistas que, apesar de tudo, ainda são muitos, os apoios estruturados e extraordinários que Portugal receberá, poderiam constituir uma réstia de esperança. Este tempo verbal deriva do facto do documento ser um manancial de lugares comuns que giram à volta da transição digital, da resiliência e da transição climática. É suposto que estes planos de recuperação económica sejam aplicados na economia directamente, sem, obviamente, se deixar de apostar nalguns investimentos públicos estruturantes. Neste caso, o que se prevê, por aquilo que é público, é que dois terços do pacote financeiro será para o Estado.
O documento é enorme e até já tem “gémeos” regionais, pelo que ainda lá deverá caber tudo. Porventura, a razão para a vacuidade poderá estar no facto de já todos estarem fartos de planos, a começar por quem os tem de elaborar. Mas, somos nós quem complica. O plano de recuperação alemão tem 20 páginas e não será por isso que deixará de cumprir o seu desígnio. Aqui, continuamos a pensar que qualquer documento com menos de 100 páginas não é digno, nem substancial. Aqui, é o Estado Central e Local quem distribui e absorve a maioria dos apoios, sem gerar o retorno que todos precisamos.
Claro que o Estado precisa de investir, de se modernizar, de ser eficiente, de apostar na Educação (com coerência e sem facilitismos) , de olhar para o Sistema Nacional de Saúde, sem preconceitos entre público e privados. Apesar dessas necessidades que têm de ser supridas, não virá do Estado a alavanca que Portugal precisa para se impor, ser capaz de mobilizar a sociedade e de melhorar a qualidade de vida média dos portugueses.
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