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Valter Lima, o “astronauta” que comanda uma nave chamada ‘Manaia’

16 de Fevereiro 2021

Natural de Condeixa, encontrou por terras de Sua Majestade a oportunidade de fazer da música um modo de vida. Valter Lima, 28 anos, rumou a Londres e deixou para trás as ruas da Fonte e da Escola, a escola primária de Condeixa-a-Velha, a Bendafé e o Clube Condeixa, mas consigo levou as memórias de tempos de uma infância feliz.

“Na escola primária, brincávamos às escondidas no meio das ervas e procurávamos pequenas tocas de aranhas na terra, que parecia que tinham uma tampinha e abríamo-las com pequenos paus. Por sua vez, na Bendafé, terra do meu pai, brincava aos fins-de-semana e férias de Verão com uma liberdade imensa. Em adolescente juntei-me ao Clube Condeixa e joguei lá futebol quase 10 anos, foi muito importante para o meu desenvolvimento social”, conta.

A música surge por volta desta altura, ainda na sua fase de jovem adolescente, “quando comecei a tocar trombone na Orquestra da Escola EB 2,3 de Condeixa, a comando do professor Mário Alves”, mas só em 2010 é que percebeu que “o rapaz tímido”, era na verdade um ‘animal de palco’.

“Participei num concurso chamado Forum Music Camp, eu e mais 20 músicos, passámos uma semana em Óbidos para depois apresentarmos um concerto no castelo. Este momento foi enorme, tinha 18 anos e nunca tinha tocado num palco tão grande com uma audiência tão entusiasta”, confessa o condeixense.

Nesta época, já o seu gosto musical o levara a formar uma banda de rock onde assumiu o baixo eléctrico, tendo feito parte de tantas outras até rumar a Londres.

“Toquei heavy metal no Café Rock em Condeixa-a-Velha com amigos da terra que conheci devido à música. A primeira estreia em bandas de covers foi nos Rewind, a substituir um amigo, até chegar aos The Singles, onde toquei durante dois anos até ir para Londres”, diz Valter.

Engenharia ficou para trás

Ainda que a música tenha sido sempre o seu primeiro e grande amor, concorreu à Universidade e entrou no curso de Engenharia Informática, mas depressa percebeu que o seu caminho não passava por ali, e quando o baterista da sua banda da altura, os Chatê Muzu, lhe falou de uma bolsa para um curso de um ano em Londres, no Institute of Contemporary Music Performance, não pensou duas vezes.

“Consegui a audição para a bolsa de baixo eléctrico e fui a Londres. Conquistei o segundo lugar que dava direito a meia bolsa. A minha mãe acompanhou-me em todo o processo e esse apoio foi crucial para conseguir ter as ferramentas necessárias para estudar em Londres. Acabei por fazer uma licenciatura na mesma escola”, relatou.

Ali encontrou a oportunidade de aprender (ainda mais) sobre música moderna, pop, rock e outros géneros. Licenciou-se em Música Criativa (Creative Musicianship), onde estudou “produção, performance e composição, tudo no mesmo curso, em que todos os estilos eram viáveis e onde desenvolver a voz de cada músico era o objectivo principal, não para ser o melhor, mas para sermos nós próprios”.

Fora da Universidade, nos diferentes bares e sítios que frequentou, (re)descobriu a diversidade cultural com os músicos, e artistas de diferentes áreas, com que foi interagindo e que o levaram a fazer música para “artistas visuais no mundo da moda, fiz pequenas bandas sonoras para curtas metragens e para instalações artísticas”.

‘Manaia’ espacial

E é nesta altura que surge ‘Manaia’, um projecto criado “para relacionar Espaço, o Universo, com música para depois o apresentar em concerto num planetário, mas isso não foi possível devido à pandemia e tive que o adaptar”. Para isso utilizou “imagens das estações espaciais, NASA e Estação Espacial Europeia, projectadas atrás da banda e que proporcionam ao ouvinte uma viagem desde a Terra até ao Universo, como se estivessem numa nave espacial”. Um projecto de rock onde não existe letra ou voz mas música.

O porquê do nome, ‘Manaia’? Valter explica que se deve a uma memória que o acompanha desde criança, onde “há muitos anos disseram-me que significava homem pequeno, a minha mãe diz que não, mas essa memória persiste”. E agora adoptou-o como homenagem “ao apoio que a minha mãe me deu em relação à música e ao meu percurso. Achei que esse significado de Manaia reflectia tudo o que sentimos ao lado de um fenómeno natural que nos ultrapassa”.

No final do ano passado, viu o seu trabalho ser divulgado pelo programa da RTP ‘Hora dos Portugueses’ e embora não consiga saber a que “ouvidos e olhos chegou”, afirma que o ajudou na projecção, tendo vendido alguns CD’s, “o que é sempre bom para ajudar o projecto a seguir em frente e tive muitas pessoas a virem ter comigo e a darem-me os parabéns. Para mim, o mais importante era que as pessoas tomassem iniciativa de ouvir música. Reconhecimento é bom, mas atingir o objectivo estabelecido ao criar a música é ainda mais importante para mim. Quero que as pessoas viagem.”

Regresso a Portugal

Apesar de se sentir feliz e realizado, não esconde o desejo de regressar à sua ‘nave-mãe’, Portugal, e aplicar aqui tudo o que tem aprendido lá fora mas também valorizar o que de bom por cá temos. “Neste momento voltei a Portugal, quero conhecer mais daquilo que se faz cá e quero juntar os dois. Tenho um projecto que surgiu durante a quarentena, os ‘Sete Pés’ e acho que musicalmente é isso mesmo que está a acontecer. Descobri que adoro ensinar, por isso, o meu futuro em Portugal pode muito bem passar pelo ensino musical e espero dar oportunidade a novos músicos de aprenderem aquilo que um dia quis aprender por cá, mas não tive oportunidade”.

A vontade de um regresso é grande, porém, a ânsia de mostrar por cá do que se trata o ‘Manaia’, não lhe fica atrás e até já sonha com o dia em que fará na sua terra natal o ‘Manaia II’, num estúdio desenvolvido por si. “Sei que é um estilo de música muito específico mas acredito que muitos ficariam surpreendidos ao ver o projecto ao vivo”.

E deixa o convite: “A ‘agência de viagens aeroespaciais Manaia’ está ao dispor de quem quiser ir mais longe”.


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