A Casa Varela, edifício adquirido pela Câmara Municipal de Pombal em 2011 e alvo de profunda requalificação, iniciou a sua actividade em Novembro do ano passado, mas ainda não abriu as suas portas. A pandemia impediu que o novo soalho fosse pisado, todavia, permitiu que as janelas fossem abertas e dessem eco aos vários artistas de quem a casa foi palco.
“A Casa Varela encontra-se em actividade desde Novembro de 2020 com a residência artística do Nuno Mika. As suas obras serão partilhadas com o público assim que possamos abrir portas. Até lá, continuaremos com o ‘Projecto Mil Janelas’ nas redes sociais, onde convidamos diversos artistas a criarem um pequeno vídeo do seu trabalho, bem como os 280 caracteres (ou quase) onde apresentaremos diferentes propostas de conteúdos por diferentes personalidades ligadas à cultura e às artes”, explicou Filipe Eusébio, director artístico da Casa Varela, ao TERRAS DE SICÓ.
As redes sociais têm assumido um papel, numa fase em que “o ponto pandémico em que nos encontramos ainda não nos permite outras formas de aproximação com o espectador”, de “recurso para colocarmos em encontro os músicos, bailarinos ou realizadores com o público”, sendo que a Casa “tal como cada um de nós, teve de encontrar estas soluções criativas para cumprir a sua missão, continuando a desafiar os artistas neste novo formato”.
Esta casa, que outrora vendeu uma série de produtos a granel, quer agora ser “o local onde os criadores podem desenvolver o seu trabalho”.
“Considero que as necessidades vão surgindo conforme a consciencialização das mesmas. Por outras palavras, o percurso até aqui percorrido mostra-nos que existem pessoas em Pombal com experiências e vontades artísticas às quais a Casa Varela pretende dar resposta. São necessidades diversificadas, conforme o ponto de desenvolvimento de trabalho em que cada um dos criadores sem encontra”, confidenciou Filipe Eusébio.
A “fragilidade” da cultura
No início da primeira quarentena, com todas as actividades culturais canceladas, os artistas de Norte a Sul do país viraram-se para a internet. Músicos deram concertos nas redes sociais, escritores escreveram no Facebook, actores representaram para plateias virtuais e humoristas fizeram com que o Natal acontecesse em Maio através de ecrãs de telemóvel. Infelizmente não é a mesma coisa, até porque a maioria, senão todos, destes artistas não receberam qualquer remuneração pelo seu trabalho, mas precisavam manter as suas contas em dia.
Actualmente, encontramo-nos a viver novo confinamento, porém, a situação “precária” em que se encontra a cultura não é de agora, sendo apelidada por Filipe Eusébio como um “problema estrutural”, mas que “a pandemia apenas veio tornar mais visível o que era evidente: um interesse cada vez maior por parte do público inversamente proporcional à suborçamentação generalizada das artes. Cada vez mais as pessoas vêm mais filmes ou lêem em diferentes suportes. Esperamos que cada vez mais se entenda que a cultura é uma necessidade e um direito para a nossa qualidade de vida e não um desperdício”.
Contudo, este director artístico de uma Casa que “nasce numa conjuntura deveras especifica e desde a primeira hora que temos tentado transmitir que, para os criadores, é ainda mais o tempo para a existência deste equipamento municipal”, defende que a cultura “talvez nunca tenha feito tanta falta e não apenas como entretenimento – e tão necessitados que estamos de ocupar o nosso tempo por estes dias – mas como forma de expressão e criação de pensamento. Se atentarmos ainda para a montanha russa de emoções que enfrentamos nestes dias, mais os objectos artísticos como os discos, livros ou vídeos nos mantêm ‘à tona’, confirmando-nos o quanto somos seres criadores que ultrapassam os limites da beleza e da harmonia”.
Ainda que a recepção a este novo espaço cultural por parte dos pombalenses tenha sido o que já esperava, até porque “sempre houve boa recepção dos pombalenses aos diferentes espaços e iniciativas culturais que vão surgindo ao longo do tempo”, o grande desafio é “a criação de regularidade de frequência do público e isso apenas se consegue com um trabalho sustentado, continuado e diferenciado, como nos mostram outros exemplos no país”, onde ambiciona que a Casa Varela “se vá afirmando sustentadamente e que todos os que aqui trabalhem e frequentem a Casa sintam pertença a um espaço onde a ambição artística nasce do encontro. Que a nossa comunidade tenha o gosto e o prazer de passar pela Casa e usufruir do que aqui se desenvolva”.
Ainda que a cultura seja desmerecida por muitos que usam como argumento os elevados custos financeiros do sector, a ausência dela apresenta custos maiores do que aqueles que podemos suportar até porque “vivemos um período em que o apoio aos criadores nos seus projectos e percursos se torna fundamental para o desenvolvimento cultural colectivo. Que sejamos racionais, vejamos o quão acessível é a cultura!”, preconiza Filipe Eusébio.
[NOTÍCIA DA EDIÇÃO IMPRESSA]
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