Não merecíamos o que está a acontecer em Portugal, seja no plano da saúde, seja no plano económico e, por consequência, no plano social. O que está a acontecer com a pandemia, é um desastre que, no seu devido tempo, tem de ser debatido de forma profunda para que todos percebam porque é que aconteceu, quem teve responsabilidades e, no mínimo, se possa aprender com os erros dos políticos e das próprias estruturas do Estado.
A Assembleia da República vai ter de encontrar o espaço para debater sobre os milhares de mortes provocadas directamente e indirectamente pelo vírus, que poderiam ser evitadas se tivesse havido planeamento (sim, Sr.ª Ministra, planeamento!!!) e acção preventiva ao longo dos muitos meses que intermediaram o primeiro confinamento e a decisão de suspensão de medidas restritivas no fim-de-semana do Natal, apesar das estatísticas que apontavam para uma mais do que provável escalada de casos. A acrescentar a essa irresponsabilidade, tivemos na última semana do ano, uma corrida às “selfies” com as vacinas que tinham chegado a Portugal, ajudando a passar uma mensagem completamente errada ao povo português.
Nessa semana, vários países da União Europeia começaram a restringir os voos de e para Inglaterra, impondo medidas restritivas, por causa da variante do vírus que segundo a comunidade científica era ainda mais transmissível. Em Portugal, as nossas autoridades nada fizeram. Essa sequência de asneiras conduziram-nos à primeira posição do Mundo, em número de casos Covid por milhão de habitantes, deixando os nossos hospitais num estado de exaustão digno de um cenário de guerra. Essa sequência de asneiras levou a um novo confinamento geral, única medida para evitar o caos nacional, infligindo sacrifícios adicionais à economia, provocando ainda mais desemprego e problemas sociais. Com isto, tivemos o mês de Janeiro com mais mortalidade desde há cerca de 100 anos e arriscamos a uma recuperação económica mais tardia e a mais uma série de anos a aumentar a nossa distância para a média europeia.
As novas gerações, os nossos filhos, mais uma vez, pagarão com falta de oportunidades, falta de trabalho e de perspectivas agravadas com uma crise económica mais aguda do que a que foi provocada pelas dívidas soberanas de 2008 que, mais tarde, com a escalada das taxas de juros, levou à intervenção da Troika.
Tudo o que se está a passar merece uma discussão política séria e ponderada para que, no mínimo, se aprenda com os erros que agora se cometeram. Já vimos todos, Comissões de Inquérito Parlamentar sobre assuntos para “português ver”, por causa de armas velhas roubadas em Tancos, entre outras matérias “de interesse nacional”. Espero que a abertura de uma Comissão Parlamentar seja o mínimo que os nossos políticos façam para nos explicarem as causas desta catástrofe que todos vivemos.
A acrescentar a esta circunstância da pandemia que existe há um ano, vivemos a realidade cruel de ver o nosso Portugal a caminhar perigosamente para a cauda dos 27 países da União Europeia. Somos exauridos com impostos, mas não serve de nada. Continuamos alegremente a caminhar para os últimos da Europa, já atrás de vários países do Leste, recentemente integrados na UE, no que respeita à riqueza criada per capita. Será sina? Ou, de uma vez, é preciso enfrentar o problema?
Merecíamos muito mais. Mas, de uma vez por todas, temos de mudar esta nossa forma de pensar e de nos alhearmos da vida política. Quanto mais nos desinteressamos, mais incompetência e mediocridade vamos enfrentar com consequências para as nossas vidas. Literalmente. Esta ideia que se vai instalando de que os políticos são todos iguais está profundamente errada. Não são todos iguais. Mas, reconhecidamente, é preciso mudar imenso. O Estado está obsoleto, as suas cúpulas estão “ocupadas” , na sua grande maioria, por pessoas que cristalizaram (há raras e honrosas excepções), que não sabem gerir, não sabem planear ou sequer entender a importância dos conceitos de planos alternativos.
Em cima da crise que tivemos de enfrentar há 10 anos, da qual, com os sacrifícios de todos, soubemos sair, quando o País estava preparado para crescer e mudar, tivemos um governo que quis ser “popular” e não quis investir, a ponto do investimento público, entre 2016 e 2019, ter caído para níveis de há décadas. Precisamos de um novo modelo de desenvolvimento ou teremos mais do mesmo. Não sei quanto tempo mais aguentaremos, apesar do sol, do futebol e do nosso “nacional” porreirismo! Espero que a tragédia que nos assola seja suficiente para nos acordar e para nos fazer mais exigentes e rigorosos.
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