Os meus netos moram quase todos na cidade. Não fazem a menor ideia de como se viveu noutros tempos. O tempo antigo como lhe chamam.
Pois bem, um destes dias chuvosos e com imensa trovoada, faltou a luz. Já era quase noite. Ficou aflito. E agora?
O pai foi buscar um “Camping Gás” e acendeu. Os olhitos do pequeno vibraram. Ah! Exclamou. Como conseguiste, perguntou ao pai que já esperava a pergunta. A electricidade faz muita falta. Isso já sabemos. Mas nem sempre foi assim.
E ainda lhe disse: a tua avó que vivia no interior do país não tinha luz eléctrica. Era a luz do candeeiro de petróleo.
E viam bem?, perguntou o rapazito. Não. Mas não se conhecia mais nada.
E como cozinhavam?
Tinham fogão de lenha ou a lareira. Faziam fogueira e com umas panelas de ferro daquelas que temos no quintal com uma flor dentro. Tinham três pés para não se desequilibrarem. Aí faziam o que precisavam. Sopa ou guisado. O fumo da lenha transmite um paladar ao cozinhado que já não apreciamos hoje.
Mas o cachopo é curioso e disse: Mas falaste do petróleo. Como é que se alumiavam com o candeeiro?
Tem um depósito de vidro, ou de outro material que se enchia. Uma torcida que mergulhava no depósito e um bucal onde a torcida fazia a luz. Finalmente uma chaminé de vidro. Nem queiras saber como era quando a chaminé quente batia em qualquer superfície dura. Fazia um buraco. A tua avó, ou as pessoas em geral remendavam com um papel de jornal. Um remendito. Não havia cola, era uma colher de farinha de trigo com água. Era essa papa, a cola.
E de onde vem o petróleo?
O petróleo já é conhecido desde a antiguidade. O povo da Mesopotâmia e do Egipto utilizavam como betume.
O petróleo é usado, actualmente, para a indústria de transporte. O petróleo tem de ser refinado. Leva uma série de transformações. Não se utiliza na iluminação das casas.
Mas o “raio” do cachopo não estava satisfeito. Ainda perguntou: E antes do petróleo, como se alumiavam?
Antes era o azeite. Havia candeias. Estas eram feitas de lata e anteriormente de barro. Tinham um pavio feito de trapo velho, torcido que, mergulhado no azeite davam luz. Os antigos precisavam de socorrer-se da imaginação. Descobriram que havia uma planta que dava florinhas pequenas e com um caule afiado. Chamavam-lhes a erva da lamparina. Quando acesa, a erva do pavio, mergulhada no azeite, dava uma luz ténue e duradoira.
Para se aquecerem era o lume na lareira. Havia casas que, quando anoitecia quase tudo era feito à luz da candeia: preparava-se a comida, comiam à mesa, lavavam a loiça, fiavam o linho, faziam meia e contavam histórias. Muitas histórias pela noite dentro.
E o cachopo não se calava. Queria mais. Muito mais.
O pai foi ao que sabia e ainda lhe contou que noutros tempos, mais antigos ainda, assim que a noite caía, ficava tudo escuro. Ia-se para a cama ao anoitecer para aproveitar a luz.
A luz eléctrica só viria a ser utilizada muitos anos mais tarde.
Em certas noites a claridade da lua dava uma preciosa ajuda a quem se aventurava nos caminhos. Mas em lua nova ou fora da lua cheia a noite era escura como bréu.
Havia noites em que as pessoas recorriam aos fatuchos, que era um feixe de palha apertado e torcido. Iluminavam-se assim.
Mas o menino queria saber muito mais. Fica para uma outra vez.
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