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Alvaiázere: Restauração tem sido um dos sectores mais afectados pela crise pandémica

14 de Fevereiro 2021

A restauração é uma das áreas mais afectadas pela crise pandémica em que nos encontramos. No concelho de Alvaiázere a realidade não difere da que se vive no resto do país. Os restaurantes trabalham a meio gás, num regime de take-away que não lhes permite pagar contas e lutar por resistir, quando muitos já só consideram desistir.

“Estou há um ano sem ganhar dinheiro. Estou na linha da água mas vou conseguindo pagar as minhas contas, mas já houve meses em que tive de recorrer a outros dinheiros, a pessoas que me ajudassem”, afirmou Reginaldo Simões, proprietário da Loja dos Frangos.

Há seis anos atrás decidiu investir e recorreu ao banco para comprar o espaço onde hoje tem uma churrasqueira, o compromisso que hoje tem com a banca “obriga-o” a manter as portas abertas, mas admite que “não aguento mais três ou quatro meses disto, vou ter de repensar a minha vida”.

A Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) concluiu, através de inquéritos realizados a proprietários da restauração e bebidas, que desde o início da pandemia 40% das empresas do sector já despediram funcionários, sendo que 32% das empresas inquiridas ponderam ainda avançar para a insolvência, uma vez que as receitas realizadas e previstas não possibilitam suportar os habituais encargos que permitem o normal funcionamento da sua actividade.

Para 63% destas empresas houve ainda uma quebra na facturação acima dos 40% e 31% destas entidades afirma que, no período de Junho a Setembro de 2020, tiveram quebras entre os 50% e os 75% e, cerca de 29%, indicaram quebras acima dos 75% comparativamente ao período homólogo de 2019.

Para Anabela Rodrigues, proprietária do espaço O Cantinho, “nunca houve tempos como estes, mas se eu tiver de fechar, vou trabalhar por conta de outrem porque era isso que eu fazia há seis anos atrás quando fui desafiada a abrir este negócio por conta própria. Consegui recuperar o negócio, fazia bom dinheiro e agora isto. O meu contrato de arrendamento acabou em Dezembro e eu, como acreditei que agora as coisas seriam para melhorar, decidi renovar e agora foi isto, estamos fechados outra vez, sem fazer dinheiro e com as mesmas contas para pagar ao fim do mês”.

Albano Gomes, também ele proprietário de um espaço de restauração bem conhecido, Os Grelhados, reconhece que “a situação é dramática para a restauração. Tendo em conta a realidade com que lidamos aqui na nossa zona e a nível nacional, não acredito que estaremos como deveríamos até ao Verão deste ano, nem que fosse a apenas 50%. Tivemos um decréscimo no volume de vendas muito próximo dos 70%, nem nos anos de maior crise em Portugal houve uma quebra tão grande como aquela que estamos agora a enfrentar”.

Há um ano a trabalhar sem lucro, alguns destes proprietários queixam-se de não ter apoio por parte do Estado por ser ”um pequeno empresário sem contabilidade organizada”, outros assumem ter recorrido aos programas disponibilizados pelo governo, referindo que “cumpriram com o que prometeram, mas os apoios nunca são demais, e estes ajudaram a suprir a falta de negócio, mas nunca foram o suficiente. Não fez face a tudo com que nos deparámos respeitante as despesas, até porque há obrigações bancárias” com que tiveram de continuar a cumprir.

Deixam ainda uma crítica à Câmara de Alvaiázere, que “não teve preocupação, nem interesse em saber o ponto de situação, nem em apoiar de forma logística o transporte das entregas ao domicílio. Nada!”, sublinhando que queriam essencialmente ser ouvidos sobre a crise que enfrentam.

Para o proprietário do restaurante Os Grelhados, ” neste momento, as pessoas que dependam única e exclusivamente deste negócio é impossível mantê-lo em funcionamento, sem dúvidas que não é viável”.

Anabela Rodrigues confessa que o dinheiro que faz actualmente com o seu negócio “não paga as despesas que tenho”, frisando que é graças ao apoio financeiro do marido, que continuou sempre a trabalhar, que mantém as contas em dia.

“Se o confinamento durar até Março, que é o que penso que vai acontecer, e se o meu senhorio me deixar pagar as rendas mais tarde, com a ajuda do meu marido talvez ainda aguente. Agora se o meu marido não me puder ajudar, eu não puder pagar as rendas mais tarde…não sei o que vai ser de mim, mas acredito que tenho de fechar”, confidenciou ao TERRAS DE SICÓ.

O medo e a incerteza do amanhã têm levado a que estes proprietários vivam em constante ansiedade acarretando consequências para a sua saúde física e mental.

“Tenho tudo em dia das minhas contas e é desolador porque me farto de trabalhar e não estou a fazer dinheiro. Se não fosse o compromisso com a banca, já estaria a trabalhar por conta de outro. Toda esta situação já me levou a ser internado porque tive um AVC e nunca tive qualquer problema de saúde, e agora até a minha saúde física esta abalada com esta situação que enfrentamos”, admitiu Reginaldo Simões.

O vírus, que tem feito milhares de vítimas pelo mundo, é o causador da situação debilitada em que se encontram muitos destes negócios e, tal como acontece com quem é infectado por este, pode levá-los à morte.

“Todos queremos proporcionar o melhor à nossa família e construi o meu negócio para isso mesmo, para lhes poder dar o melhor. Trabalho em restauração desde 1980, estou nisto porque gosto e imaginar que agora, depois de já ter enfrentado anos de grandes crises económicas em Portugal, posso ter de encerrar portas por causa de um vírus é uma coisa que me assusta e que me entristece”, confessou Albano Gomes.

[NOTÍCIA DA EDIÇÃO IMPRESSA]


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