Em tempos normais, Ansião viveria neste último fim-de-semana de Janeiro uma jornada de forte promoção dos produtos endógenos da região, com um em particular evidência: o pinhão. Porém, a pandemia que nos avassalou impede a realização nos moldes habituais da centenária Feira dos Pinhões.

É dela que falamos, é dela, da divulgação dos nossos produtos, da animação que proporciona, que se sentirá a falta. Que a Câmara Municipal de Ansião procurou atenuar, apostando nas novas tecnologias para não nos deixar esquecer que há mais vida para lá da covid… mas em segurança.

“Desde Março do ano passado que estamos impedidos de dinamizar actividades que impliquem ajuntamento de pessoas e consequente risco de contágio. No entanto, se alguma coisa de positivo a pandemia nos ensinou foi o de procurarmos alternativas, adaptarmo-nos à nova realidade e assim podemos continuar a assinalar as datas que consideramos importantes para o concelho, recorrendo às plataformas digitais”, afirma ao TERRAS DE SICÓ a vereadora com o pelouro do Turismo, Cristina Bernardino, lembrando que a feira, com mais de 300 anos, “já atravessou muitas crises, certamente”. “É uma tradição com a qual todos os ansianenses se identificam. O facto de promovermos uma feira cujo mote são os pinhões, um bem que nem aqui existe para comercializar, é prova que os ansianenses sabem a importância do simbolismo, de celebrar um acontecimento pela simples razão de que faz parte da tradição. A pandemia obriga-nos a celebrar de uma forma distante, mas há que o fazer, para que não esqueçamos as nossas raízes”, sublinha a autarca.
Será assim, pela via digital, que um conjunto de actividades nos ‘transportará’ este ano para a secular feira, com os pinhões também ‘confinados’ ao mercado municipal de Ansião (área coberta), onde haverá enfiadas à disposição dos apreciadores. “Trata-se de um bem alimentar e, como tal, continua a ser permitida a sua venda. Será, certamente, algo mais simbólico que outra coisa, porque, acima de tudo, preocupa-nos que o que quer que se faça não coloque ninguém em risco”, realça Cristina Bernardino.

Programação digital

Assim, este fim-de-semana (30 e 31) através das plataformas digitais do Município vai ser possível assistir a uma recriação histórica sobre as origens da feira, pelo Teatro Olimpo, e conhecer melhor o local onde a feira começou, pela historiadora Cláudia Santos.

“Este será também o momento de conhecer a nova plataforma para aquisição de produtos endógenos ou de artesanato online, para levar em segurança e mais longe o melhor de Ansião”, anuncia a vereadora.

O chef António Alexandre confeccionará ainda diversos pratos usando outros produtos da região, com o pinhão a enriquecê-los. “Esta será uma forma de valorizar e distinguir a nossa gastronomia já de si tão apetecível”, frisa a autarca, salientando a iniciativa ‘À Mesa Com o Rei Pinhão’, que irá permitir aos alunos dos cursos de cozinha e pastelaria da ETP Sicó que “inventem, criem receitas com recurso ao pinhão”. “Será uma medida potenciadora para o seu uso mais generalizado, podendo ser adaptadas à restauração local”, afirma.

Para Cristina Bernardino, “promover os pinhões na nossa gastronomia, a par da dinamização de eventos onde teremos os produtores locais com o que de melhor se produz no nosso território, será sempre uma forma de valorizar não só o turismo como a economia local”.

Mais. “Por ser um bem tão raro e difícil de obter no nosso território, o incentivo à plantação de pinheiros mansos é fundamental para que tenhamos pinhões em quantidade suficiente para uso no concelho”, reforça.

O agravamento da situação pandémica levou a autarquia a cancelar a participação de “alguns expositores”, este domingo, desta vez em Lisboa, no programa da TVI “Somos Portugal”, que anualmente divulga a feira e o pinhão. “Haverá outras oportunidades, e tanto para os expositores como para o executivo municipal, houve o entendimento que a saúde é um bem precioso a proteger a qualquer custo”, justifica.

Lembrar uma feira que tem “uma importância histórica para Ansião, fazendo-o de uma forma segura” é o propósito da autarquia, na esperança que em 2022 tudo volte a normalidade.

[NOTÍCIA DA EDIÇÃO IMPRESSA]