Era uma vez um Pai Natal feito de chocolate. Era lindo ou era ele que se considerava lindo, colocado junto de outros iguaizinhos a ele colocados em fila na prateleira do supermercado.
Colocado numa ponta mirava-se no espelho da porta.
Não podendo sair do lugar, gozava com os outros amigos que não viam o espelho.
– Eu sou o mais bonito. Por isso me colocaram aqui. Tenho um fato vermelho, barrete debruado a ouro e umas grandes botas pretas.
Os outros ficavam tristes, mas ele tão vaidoso não se importava com isso. Os outros, sem ele ouvir e em surdina chamavam-no de malcriado. Também feitos de chocolate não saiam do sítio, mas, mesmo assim, quando alguém entrava ou saía do supermercado, empertigavam-se na mira de serem escolhidos.
Houve um dia que a mãozinha de um menino tirou o Pai Natal da prateleira. Todo contente foi mostrar à mãe. Fora ele o escolhido. E agora?
Sentiu um trambolhão enorme. Foi parar ao carrinho das compras. Ficou na fila a ver o empregado da loja passar as compras na máquina calculadora. Xiiiiiiii. O que era aquilo? Apitava de forma aguda. Quase sentiu os ouvidos a rebentar. O coração quase parou. Sentiu, mais uma vez um encontrão. Ainda refilou: Olha lá. Não vês que me estás a pisar? Mas nada! Ninguém o ouviu. Mais uma vez foi parar dentro do saco das compras. Pensou: Mas o que é isto? Não há respeito por mim que sou um Pai Natal lindo, lindo!
Pois, ninguém lhe ligou.
Já em casa ouviu o menino que o tirou da prateleira dizer à mãe: o meu boneco vai para cima da mesa de Natal. Ah, agora sim, agora ia ser admirado por todos.
Mas não! Ficou junto dos frutos secos que a mãe comprou e embrulhou também em papel prateado.
Não sabendo como, viu-se no chão em cima do tapete.
Um gato que andava por ali cheirou e desatou a rir à gargalhada: Olha lá, quem és tu?
O Pai Natal encolheu-se, mas pensou: Os gatos não gostam de chocolate. Posso conversar. É que desde a prateleira do supermercado não me ligaram nada. A mim que sou lindo embrulhado em papel de cores. Mas o gato também se foi embora. Nisto ouviu chorar. Era o menino que não sabia do seu chocolate. Quis gritar, mas não conseguia. Deu um pulinho conforme pôde e foi parar perto do vaso das flores.
Um pé cheio de força deu-lhe um pontapé sem querer. Lá foi mais uma vez amolgado, atirado, e às reviravoltas.
O menino apanhou-o do chão e colocou-o em cima da mesa, junto do seu lugar. A vista era maravilhosa. Perú assado com batatinhas em volta, pudim, bolo, frutas e tantas mais iguarias que não davam para contar tudo.
As pessoas sentaram-se em volta da mesa. O pai, a mãe, a avó e o avô. Todos falavam e contavam o que se tinha passado naquele dia. Olhou e viu o gato refastelado no sofá. Foi com ele que falei esta tarde. Pois foi!
O gato dormia sossegado e feliz. As pessoas comiam devagar e sem pressa de chegar ao fim da refeição. O menino tinha recebido mais prendas no seu sapatinho colocado no dia anterior na chaminé da cozinha. Um outro Pai Natal tinha lá ido. E ele, o mais bonito ali em cima da mesa.
Nisto a mãe do menino exclamou: deixa o chocolate para outro dia. E foi assim que o Pai Natal foi parar em cima do armário da cozinha, dentro de um pote de plástico. Até quando? Sei lá! Agora às escuras e sem ver ninguém? Pouca sorte!
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