Um utente de quase 90 anos, institucionalizado no lar do Centro de Assistência Paroquial da Granja do Ulmeiro, no concelho de Soure, escreveu uma carta aberta à ministra da Saúde, a pretexto do Dia Internacional do Idoso que se assinala amanhã, em que chama a atenção para a “triste realidade que se vive nos lares de terceira idade”, sobretudo em tempos de pandemia.
Manuel António Rente, de 89 anos de idade, “perto de 90 se lá chegar”, queixa-se a Marta Temido de os idosos estarem “presos, isolados, há cerca de meio ano e o único crime que cometemos foi chegar a velhos”.
“Há utentes dos lares que perderam a noção da realidade, estão abalados mentalmente. Sem afectos e visitas dos familiares, pensam que foram abandonados e sem assistência médica, pois não distinguem que a falta da família se deve ao isolamento por causa do covid-19”, escreve na missiva a que o TERRAS DE SICÓ teve acesso, alertando que “ou me engano, ou nos próximos meses a mortalidade nos lares vai aumentar e não é por causa do covid-19. A falta de afectos e o isolamento também mata[m]”, avisa.
Manuel Rente queixa-se ainda da burocracia que impede médicos de prescrever credenciais para análises clínicas. “Estou aqui há vários anos e o médico que dava assistência aos utentes do lar era, simultaneamente, médico do posto de saúde local e quando necessário passava as credenciais para análises clínicas, vinha depois uma enfermeira de um laboratório fazer a recolha do sangue, mandavam os resultados e tratavam-nos em conformidade. Há cerca de um ano, esse médico reformou-se e então veio outro médico para aqui, mas como não é médico do posto de saúde, diz que não pode passar credenciais para análises”, descreve, para a seguir perguntar: “De que serve vir um médico uma vez por mês, se não pode passar credenciais para sabermos como estamos de saúde? É só para fazer de conta que temos médico?”.
O octogenário diz saber que aquela situação “resulta da legislação em vigor, pois só os médicos de família podem passar as credenciais”. A ser assim, adverte, “a legislação está errada”.
“Por aqui se vê que os utentes dos lares, os idosos, não contam para nada, são objectos sem valor, são cartas fora do baralho, aos quais ninguém liga importância”, queixa-se, apelando à ministra da Saúde para dizer “como podemos fazer análises, pelo menos uma vez por ano”.
Manuel Rente termina a carta aberta a Marta Temido com um “Obviamente, não peço desculpa por ser velho”.
Site optimizado para as versões do Internet Explorer iguais ou superiores a 9, Google Chrome e Firefox
Powered by DIGITAL RM