Bem sabemos que as polémicas não desenvolvem Portugal, nem tão pouco terão algum papel para mudar estrategicamente vários problemas estruturais que nos perseguem há muitas décadas. Bem sabemos que estamos (já) na cauda da Europa no que respeita a produtividade, consequência de uma sopa de variáveis que vai desde a educação e formação, competências de gestão, foco no trabalho e compreensão da realidade micro económica, entre outras, como por exemplo a morosidade da justiça, a instabilidade fiscal e, naturalmente, a elevada carga de impostos, cada vez mais amarrada a um Estado que precisa de se modernizar e ser menos burocrático. Bem sabemos que à parte a recorrência da conversa sobre a pandemia, deveriam ser estas as nossas discussões nacionais, num momento em que se desenham mais quadros estratégicos para dar base a uma batelada de investimentos públicos que, temo, não vão retirar Portugal do lugar onde se encontra, nos próximos 10 ou 20 anos.
Mas, no País que adora polémicas , termos o Primeiro-Ministro a chamar “gajos cobardes” aos médicos ou, sendo justo, a alguns médicos, e observar os partidos políticos a assobiar para o lado, deixa-me perplexo e faz-me pensar que ou estão todos muito mais maduros ou muito mais calculistas ou muito mais distraídos. Não sei onde os enquadrar, mas por muito menos, por expressões retiradas de discursos e mensagens sobre Portugal e a mudança que deveríamos almejar, no passado, outros Primeiros-Ministros foram queimados na praça pública durante meses ou até anos a fio.
Fosse António Costa , líder da oposição, aposto que, no mínimo, repetiria à náusea, o “off” ou o “on” desgastando politicamente os seus adversários. Neste tempo, temos uma Ministra que tutela os Lares que desvaloriza mais um drama que provocou dezenas de mortes, num Lar de idosos, por falta de actuação ou por negligência do Estado, temos um PM que em plena pandemia chama cobardes aos médicos, em quinze dias de um mês de Agosto estranho e cheio de gaffes. Um desastre de comunicação política provocado por impaciência, autismo e até alguma arrogância.
Sobre os médicos, desejo muito que os Centros de Saúde voltem a atender doentes presencialmente porque se não o fizerem contribuirão para o provável atropelo dos hospitais, no Outono e Inverno que se aproximam. Sobre a Oposição, aconselho a irem ver o que Costa disse e por quanto tempo criticou frases de Passos Coelho, retiradas do contexto, como “vem aí o Diabo” ou “sair do País também pode ser opção profissional”, ancorando a sua narrativa política, como tão bem sabe fazer. Hoje, “os gajos são cobardes”, mas um “drink” em São Bento chega para tudo resolver. É caso para dizer, “porreiro, pá!”.
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