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PAULO JÚLIO

O Interior

6 de Julho 2020

Neste regresso do jornal das Terras de Sicó, num quadro de retracção económica que nos está a levar a uma crise económica, financeira e social, vale a pena voltar a falar dos desígnios e do futuro de regiões como a nossa. Regiões com pouca gente, pouca economia, poucas oportunidades de emprego, com cidades polarizadoras pouco inspiradoras. Regiões fustigadas por incêndios, desde há muitos anos, porque a floresta densa combina com o abandono das vilas e das aldeias, e, inevitavelmente, conduz a problemas estruturais de desenvolvimento.

É um ciclo vicioso que se instalou, com casos pontuais de sucesso. Se pensarmos nos últimos 20 anos, excepcionando alguns casos de sucesso, o projecto estrutural e mais apoiado que serve de exemplo de valorização da tradição, do saber fazer das gentes “antigas”, de valorização do património, que trouxe novos habitantes, é a Rede das Aldeia do Xisto que envolve concelhos e aldeias, desde o Fundão a Penela, passando por todo o território das serras da Lousã e do Açor, envolvendo públicos e privados ligados ao sector do turismo ou do que dele dependem. É um projecto à margem das delimitações territoriais dos distritos ou das Comunidades Intermunicipais porque é dirigido a aldeias específicas de concelhos específicos.

Lembro a Rede de Aldeias do Xisto porque se quisermos “desenvolvimento do Interior” terão de ser criadas mais Redes desta tipologia. Já houve iniciativas destas que o tempo, a falta de dinâmica ou a crise fizeram cair, como os projectos PROVERE. E se alguns não resultaram, outros estavam a fazer o seu caminho, como aliás aconteceu à ADXTUR que, no início, bem me lembro, esteve quase moribundo. A diferença para futuro é que estes projectos têm de ir além do sector do turismo e do património.

Pode e deve haver projectos com esse desígnio de valorização turística e a economia que a envolve, mas tem de haver projectos de desenvolvimento ligados aos sectores âncora, seja a fileira agroalimentar, seja florestas, seja iniciativas empresariais inovadoras que valorizem o território e ajudem a fixar talento. Se as iniciativas empresariais estão ou têm potencial de estar nesses territórios, deverão ter uma chancela e um “corredor” especial, se quisermos mesmo atrair mais gente e inverter o ciclo de abandono que se foi instalando ao longo de décadas.

Se as entidades que governam querem mesmo fazer diferente, têm de criar estes mecanismos, têm de criar conselhos regionais específicos  e têm de mapear todas as oportunidades residentes e planear um conjunto de objectivos específicos, onde o investimento público e o privado devem ser monitorizados de forma especial.

Finalmente, se forem criados esses mecanismos com gestão específica, as ligações às cidades âncora são essenciais. Essas “novas agências” de desenvolvimento territorial têm também de ser compostas por entidades nacionais como a AICEP, IAPMEI, entidades ligadas ao sistema científico e de inovação, para dar consistência e para consolidar massa crítica. Para além de coordenação regional a partir da CCDRC.

Estas iniciativas somadas poderão mudar a face do território em uma ou duas décadas porque é preciso tempo. Um desígnio estratégico não sobrevive à espuma dos dias. Depois de muita reflexão, concluo que ou se criam estas novas políticas e meios ou, mais uma vez, mesmo que haja dinheiro europeu, não haverá resultados. Porque é preciso mais do que dinheiro. E, se analisarmos o que de bom foi feito nas últimas décadas, há uma boa base para se definir um bom plano de acção, para além de valorização turística. Mas, precisamos de rapidez e de mais foco.


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