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Covid-19: Especialista explica, em entrevista, diferentes tipos de teste à doença

4 de Junho 2020

Todos os dias, são marcados e efectuados dezenas de testes de diagnóstico à covid-19 nos Laboratórios Beatriz Godinho Saúde, em Coimbra, Leiria e Seia. Para além destes, que são feitos por meio de colheita em zaragatoa e através de RT-PCR (biologia molecular), também já estão a ser realizados testes serológicos, ou de imunidade como são designados. Os testes de diagnóstico carecem de marcação prévia, apenas por telefone, enquanto os testes serológicos podem ser feitos em qualquer posto de colheitas, sem necessidade de marcação ou jejum.

As solicitações para marcação de testes de diagnóstico à covid-19 continuam. Tanto por iniciativa de instituições e empresas, como por parte de particulares. Mas, à medida que se sabe mais acerca deste vírus, sabe-se também que todos teremos que regressar à vida “fora de casa”, antes do aparecimento de uma vacina eficaz. E é neste horizonte incerto que os testes de diagnóstico e serológicos devem ser equacionados, mediante uma explicação esclarecedora dos mesmos.

Maria Beatriz Tomaz, especialistas em Análises Clínicas no Laboratório Beatriz Godinho, explica do que se trata os diferentes tipos de teste, o que os distingue, a quem se destinam e que resultados apresentam.

Que tipos de testes existem para o novo vírus SARS CoV-2? O que são, afinal de contas, os testes serológicos? O que é analisado concretamente?

Existem dois tipos testes laboratoriais, de acordo com o componente biológico detectado: os testes de detecção de componentes do vírus – que são testes de biologia molecular (RT-PCR) de detecção do RNA do vírus; e os testes de antigénio, que detectam as proteínas do vírus. Paralelamente, existem os testes serológicos, que por sua vez detectam anticorpos (IgA, IgM e/ou IgG) produzidos pelo organismo como resposta à infecção pelo SARS-CoV-2. A infecção pelo vírus SARS-CoV-2 conduz a uma resposta imunitária humoral, com produção dos já referidos anticorpos na maioria dos pacientes. E são estes anticorpos que são pesquisados nos testes serológicos.

Enquanto os testes moleculares e os testes de antigénio são geralmente realizados em amostras do tracto respiratório superior e/ou inferior, os testes serológicos utilizam soro, sangue total ou plasma.

Sob que forma são apresentados os resultados dos testes serológicos?

Depende do método do teste. Nos testes serológicos semi-quantitativos (métodos quimioluminescência ou ELISA) obtém-se como resultado um índice de anticorpos que pode ser monitorizado ao longo do tempo, comparando resultados de testes feitos em alturas diferentes. Nos testes serológicos qualitativos de deteção de anticorpos (por exemplo, imunocromatografia) – que por norma são menos sensíveis do que os testes semi-quantitativos – o resultado obtido é positivo ou negativo: tem ou não tem os anticorpos.

Como devem ser interpretados os resultados?

É fundamental realizar uma correlação dos resultados obtidos com a história clínica do paciente. A resposta imunológica na infecção por SARS-CoV-2 é detectada a partir da segunda semana de infecção, entre 8 a 10 dias após o início dos sintomas, podendo em alguns casos aparecer a partir do quinto dia após o início da doença. Já a seroconversão da IgM e IgG parece ocorrer entre a terceira e quarta semana depois do início da infecção. Depois disso, os títulos de IgM diminuem, comparativamente com a IgG, que pode persistir para além das sete semanas após a infecção por SARS-CoV-2.

No entanto, é importante ter em conta que continuam a ser realizados vários estudos e que ainda não há conclusões sobre a natureza e duração dos anticorpos produzidos como resposta à infecção por SARS-CoV-2 – e se esses anticorpos conferem imunidade de longa duração – em indivíduos sintomáticos ou assintomáticos.

A quem é recomendada a análise? Ou é recomendável à generalidade da população?

Estes testes podem ser utilizados em estudos epidemiológicos populacionais (de seroprevalência) e de investigação, para monitorizar a imunidade contra o SARS-CoV-2 como o caso do Inquérito Serológico Nacional COVID-19.

Também podem ter indicação clínica quando usados em combinação IgG, IgM,e/ou IgA, de acordo com a informação que hoje se conhece, para avaliar a resposta imunológica após uma infeção aguda documentada pelo teste de RT-PCR; ou para pessoas assintomáticas que foram ou não contacto de doentes COVID19 confirmados; também para doentes com sintomas ligeiros (e consequente baixa carga viral) e resultados RT-PCR negativo; e pessoas que foram contactos de doentes COVID19 confirmados, após período de quarentena de 14 dias. De realçar que o doseamento de anticorpos não deve ser usado para o diagnóstico da infecção aguda, em que o único teste validado é realizado por técnica de Biologia molecular (RT-PCR).

Então qual é a diferença entre testes serológicos e dos testes diagnóstico RT-PCR? Há quem diga, induzindo em erro, que os resultados de o teste serológico substitui o teste de diagnóstico RT-PCR – mais dispendioso, complexo e de colheita mais incómoda para o utente.

Segundo as actuais normas da DGS, “o diagnóstico de novos casos de infecção por SARS-CoV-2 deve ser realizado exclusivamente por testes de deteção de componentes do vírus, sendo os testes de biologia molecular (RT-PCR) para a detecção de RNA considerados de referência, por apresentarem maior fiabilidade”. Na fase de infecção aguda, deverá fazer-se o RT-PCR SARS CoV-2. Neste teste, vamos pesquisar se o RNA do vírus está presente em amostras da nasofaringe/orofaringe. O vírus  SARS CoV-2 tem um período de incubação inicial no qual não há a produção de anticorpos. Após uns dias, como resposta humoral “normal”, vai haver produção de anticorpos IgM e de IgG. Os anticorpos IgG são os anticorpos que estão relacionados com uma possível imunidade futura, avaliada no teste serológico.

O laboratório pode passar um “certificado de imunidade” a quem o solicite?

Nesta fase não faz sentido falar em “certificado de imunidade” porque ainda não se sabe, cientificamente, a durabilidade dos anticorpos neutralizantes. Existe evidência limitada de que a recuperação da covid-19 confira imunidade contra uma reinfecção, pelo menos temporariamente, não existindo, porém, dados definitivos que o comprovem.

E as empresas, têm procurado este teste?

As empresas têm procurado alguns esclarecimentos sobre os testes disponíveis para, de acordo com as especificidades de cada sector de trabalho, fazerem os que melhor se adequam a cada empresa e em que alturas o devem realizar no caso de virem a ser necessários. Muitas empresas estão em contacto com os médicos da medicina do trabalho para que, em conjunto, possam fazer uma planificação de como devem atuar em relação aos testes a efectuar aos seus colaboradores.

O Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) está a promover um Inquérito Serológico Nacional. Do que se trata?

O Inquérito Serológico Nacional Covid-19 organizado pelo INSA, começou no dia 25 de Maio, em colaboração com a Associação Nacional de Laboratórios Clínicos e com vários hospitais do Serviço Nacional de Saúde. Este inquérito de base populacional, visa avaliar a presença de anticorpos contra o novo coronavírus (SARS-CoV-2) responsável pela Covid-19 na população residente em Portugal e monitorizar a sua evolução ao longo tempo, assim como determinar e comparar a seroprevalência de anticorpos em grupos etários específicos.

Vão ser realizados testes a 1.720 indivíduos com 10 ou mais anos de idade e 352 crianças até aos 9 anos de idade que recorram, durante as próximas três semanas, a um dos cerca de 100 laboratórios ou hospitais parceiros para a realização de análises laboratoriais de rotina. Além de autorizar a colheita adicional de uma pequena quantidade de sangue, que irá ser analisada no INSA, a participação neste inquérito prevê ainda o preenchimento de um breve questionário para recolha de dados clínicos e epidemiológicos.

Os resultados deste primeiro estudo, que se constitui também como o estudo piloto deste inquérito serológico, deverão ser tornados públicos ainda durante o mês de Julho. Os estudos transversais subsequentes serão realizados cerca de cinco meses após o primeiro estudo e posteriormente de três em três meses até um ano (total de quatro estudos), podendo estes trabalhos de investigação ser ajustados de acordo com o curso da epidemia de modo a responder às necessidades de informação de cada momento.

De realçar que os nossos laboratórios, por intermédio de alguns dos nossos postos de colheita, foram seleccionados para integrar esta amostragem.

 


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