O comandante dos Bombeiros Voluntários de Alvaiázere, Mário Bruno, advertiu que “as associações de bombeiros estão estranguladas financeiramente” e acusou o Estado de se “divorciar de praticamente de todas as responsabilidades” com as corporações, que sobrevivem “essencialmente com apoios das estruturas locais”.
“As associações de bombeiros estão estranguladas financeiramente, porque muitas vezes não conseguem suprimir todas as lacunas”, alertou Mário Bruno, acusando o Estado de se “divorciar de praticamente de todas as responsabilidades que deve ter para com os bombeiros, nomeadamente na aquisição de equipamentos e no financiamento de viaturas e fardamentos”.
“É inadmissível que muitos bombeiros, para terem fardas, têm de investir dinheiro do próprio bolso”, considera o comandante, defendendo que “a segurança é o primeiro pilar de actuação dos bombeiros e sem segurança não há actuação”. Todavia, “muitas vezes é difícil” para as associações adquirirem todos os equipamentos para os soldados da paz, “porque, imagine-se, os hospitais não nos pagam”.
Assim, “é impossível gerir uma casa destas quando os hospitais, a quem prestamos serviço diariamente, nos devem centenas e centenas de milhares de euros”, denunciou, enaltecendo que “não podemos ter bombeiros nas nossas fileiras que não têm as condições de segurança, porque o Estado não cumpre regularmente com a sua obrigação”.
“Se a GNR, a PSP e o INEM são garantidos ao nível do orçamento de Estado, porque é que os bombeiros também não são garantidos ao nível do orçamento de Estado”, questionou o responsável pelo corpo activo, constatando que prestam igualmente serviço público.
Estas falhas por parte do Governo “criam dificuldades ao nosso corpo”, pelo que “deveriam ser resolvidas de vez”, defende o comandante, sublinhando que “o facto dos bombeiros continuarem a existir deve-se essencialmente às estruturas locais”. “Só existimos devido à verba disponibilizada pela Câmara Municipal de Alvaiázere, pois se não houvesse essa disponibilidade por parte da autarquia não haveria bombeiros”, reiterou.
Mário Bruno queixou-se ainda de que “a Liga [de Bombeiros Portugueses] não representa os nossos bombeiros” e que “hoje mais parece ser um sindicato dos bombeiros”, que se “perde muitas vezes com problemas de representação a nível nacional”. Por isso, defende que “a Liga precisa de uma nova imagem e de se aproximar bombeiros”, para que estes “sintam que ela é verdadeiramente o órgão que os representa a nível nacional”.
As críticas estenderam-se ainda à Escola Nacional de Bombeiros (ENB) que “mais parece uma escola nacional das empresas”, pois “está disponível todos os dias para as empresas e autarquias, enquanto que os bombeiros são atendidos apenas à quarta-feira à tarde”. “Aos bombeiros o que é dos bombeiros”, reclamou o comandante, argumentando que “a ENB deve o prestígio aos bombeiros”, uma vez que “tem formadores de excelência formados nos bombeiros”.
Além disso, o responsável pelo corpo activo alvaiazerense recomendou à Liga e à ANPC que unam esforços para “criar uma carreira de bombeiro unificada”, acabando com a distinção entre bombeiros municipais, sapadores e os que trabalham nas corporações voluntárias.
Outro entrave é o limite mínimo de idade de 18 anos para os jovens poderem fazer parte nos corpos activos. “Temos os infantes e cadetes que fazem a formação nos bombeiros até aos 16 anos e depois vão embora”, uma vez que “dos 16 aos 18 anos os jovens são uns inválidos para os bombeiros”. “Mais tarde, quando atingem a maioridade, queremos chamá-los e já é tarde”.
CARINA GONÇALVES
Foto: O Crachá de Cidadania e Mérito foi atribuído ao comandante António Miguel [ao centro], que completa este ano 75 anos ao serviço dos Bombeiros de Alvaiázere
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