O empresário Alfredo Simões, 57 anos, engenheiro civil de formação, preside ao Núcleo Empresarial de Penela (NEP) desde a sua constituição em 2015. A abolição de portagens na auto-estrada A13 é uma das lutas recentes, mas os empresários locais debatem-se com outras dificuldades…
TERRAS DE SICÓ (TS) – Por que é que o NEP considera importante a abolição de portagens na auto-estrada A13?
ALFREDO SIMÕES (AS) – Em matéria de acessibilidades, estamos um pouco ‘encravados’ com questões como a do Metro Mondego, que há uma década andam a fazer estudos e não avança. Miranda do Corvo e Lousã estão completamente ‘encravadas’ com esta questão; a Estrada da Beira, de Poiares até Coimbra, está como está; a A13 era para ligar ao IP3 e chegamos a Coimbra e temos de fazer não sei quantos quilómetros até chegar a ele. A nossa ideia, partilhada com outras três associações empresariais [Lousã, Miranda do Corvo e Vila Nova de Poiares], é que enquanto o Metro Mondego não estivesse a funcionar em pleno abolir as portagens no troço Penela-Coimbra. É uma medida que consideramos correcta para estes territórios.
TS – Os descontos em sete auto-estradas, entre as quais a A13, não vos convence?
AS – Não convence. Já é alguma coisa, mas não é nada do que tínhamos na expectativa. Ainda se os descontos fossem de 25% para todos os utentes e não é o que vai acontecer. Só vão beneficiar quem passa todos os dias. A própria engenharia do desconto é um pouco complicada, pois não sabemos se é ida e volta, se é o número de passagens, além de só beneficiar quem tem via verde.
TS – As acessibilidades são fundamentais para o desenvolvimento do território…
AS – Um dos grandes problemas de Penela e não só tem a ver com a falta de população. Não há pessoas, as empresas queixam-se de que não há gente para trabalhar. Há empresas que se queriam instalar no concelho e alguns empresários amigos aconselharam a repensarem a ideia por causa da falta de mão-de-obra. No nosso entender, a abolição das portagens seria uma forma de trazer gente diariamente de Coimbra e arredores, e até para o próprio turismo seria importante.
TS – Há quem diga que a auto-estrada que traz gente, também leva…
AS – Neste caso, penso que não. Ao nível da qualidade de vida, nós em Penela temos tudo, estamos perto de tudo, escolas, creches, temos facilidade de circulação…
TS – Esta agregação de posições com outras três associações empresariais visa unidos conseguirem ter mais força na reivindicação?
AS – Exactamente. A Lousã e Miranda do Corvo sentem mais esta necessidade em relação às portagens da A13, ao Metro e à Estrada da Beira, mas por uma questão de localização e solidariedade entendemos que juntos teremos mais força. Para além da questão das portagens, temos feito várias iniciativas em conjunto e pretendemos alargar a sul esse relacionamento com outras associações, nomeadamente de Figueiró dos Vinhos, Ansião e Alvaiázere, porque os problemas são comuns na defesa das pequenas e micro empresas.
TS – O que vos levou em 2015 a avançar para a constituição do NEP?
AS – Os empresários, sobretudo os das pequenas empresas, sentimos a necessidade de criar uma associação para defender os nossos interesses, divulgar Penela e as suas empresas, e sobretudo para com esta associação conseguirmos ter acesso a informação que muitas vezes passava ao lado, desde a fiscalidade, a candidaturas a fundos ou à formação profissional. Temos parcerias com o Instituto de Emprego e com a Câmara de Penela, e temos também agora um espaço no HIESE [Habitat de Inovação Empresarial nos Sectores Estratégicos] onde os empresários podem vir esclarecer as suas dúvidas.
TS – Que actividades têm vindo a desenvolver?
AS – Temos feito muitas acções de formação gratuitas, algumas em parceria com a Associação Empresarial de Ansião e com a ETP Sicó, que vieram conferir experiência ao trabalho que realizamos e às candidaturas a fundos que apresentámos. Para além disso, temos dinamizado várias sessões, chamando consultores para divulgar tudo o que há de fundos comunitários, bem como esclarecimentos noutras áreas de interesse das pequenas empresas.
TS – Além das acessibilidades, com que outras dificuldades se debatem?
AS – O alojamento, que falta, é outros dos nossos problemas. Não conseguimos trazer mão-de-obra porque não há alojamento para ela. Já há empresas do concelho a projectarem construir edifícios com T0 e T1 para os trabalhadores, alguns até vindos do estrangeiros, se instalarem. Essa é também uma dificuldade complicada de contornar. Outra é o facto de termos a zona industrial de Penela lotada e sem possibilidade de se expandir. A zona industrial na Louriceira tem a concurso a construção das infra-estruturas, mas também já está antecipadamente esgotada. Havia um projecto interessante que era construir uma zona industrial em Alfafar, pensando também na proximidade à auto-estrada A1. No nosso entender, a Câmara terá de pensar numa zona mais central para desenvolver um outro parque empresarial.
TS – Como vê o plano de incentivos aos trabalhadores que se mudem para o interior do país anunciado recentemente pelo governo?
AS – Tudo o que vem aí não nos interessa nada e já o dissemos à secretaria de Estado da Valorização do Interior. Uma das medidas é financiar na totalidade em três anos o salário de pessoas que se desloquem de concelhos que não são de baixa densidade para estes. Mas se não há pessoas?! Este tipo de programas é bom para uma empresa média/grande, que vá buscar um quadro superior que não existe. Agora uma empresa que já tem trabalhadores, mas que precisa de mais, para ir buscá-los, por exemplo, a Coimbra, se lhe vai pagar mais, então e como ficam os que já tem a trabalhar?
TS – Apesar de todas as dificuldades que enumerou, o sector empresarial em Penela apresenta-se com vitalidade?
AS – Tem vitalidade, temos cinco ou seis empresas que foram consideradas PME Excelência, a nossa facturação em 2018 foi de 155 milhões de euros, o que em relação a outros concelhos vizinhos podemos dizer que estamos bem. Temos é depois a diminuição da população que cria o tal problema da falta de mão-de-obra. Em 2010, Penela tinha 6.000 habitantes e em 2018 apenas 5.400. Ou seja, perdemos 10% da população em oito anos. E destes 5.400, 30% têm mais de 65 anos. Estes números é que são complicados.
TS – Como tem sido a adesão das empresas ao NEP?
AS – Estamos a fazer um trabalho no terreno de angariação. Queremos ter quantas mais associadas melhor, porque é isso que nos dará mais força, quantas mais empresas representarmos mais força teremos.
TS – Por que aceitou liderar este projecto de criação e dinamização de uma associação empresarial?
AS – O presidente da Câmara lançou-me o desafio, reunimos, conversámos, achei que era importante avançar e lançámos a associação, que está a fazer o seu caminho.
TS – Projectos futuros para o NEP?
AS – A nossa ideia é fazer uma candidatura a fundos para termos alguma sustentabilidade financeira, porque as contribuições das empresas sócias são diminutas. Queremos ter funcionários, fazermos nós acções em feiras e apoiar pequenas empresas na ida a feiras dos seus sectores de actividade. Por outro lado, pretendemos continuar com acções de formação e apoiar as pequenas empresas, já que hoje em dia estão sempre a aparecer situações, seja de fiscalidade, fundos comunitários ou outras de difícil percepção.
TS – Como vê o plano de incentivos aos trabalhadores que se mudem para o interior do país anunciado recentemente pelo governo?
AS – Tudo o que vem aí não nos interessa nada e já o dissemos à secretaria de Estado da Valorização do Interior. Uma das medidas é financiar na totalidade em três anos o salário de pessoas que se desloquem de concelhos que não são de baixa densidade para estes. Mas se não há pessoas?! Este tipo de programas é bom para uma empresa média/grande, que vá buscar um quadro superior que não existe. Agora uma empresa que já tem trabalhadores, mas que precisa de mais, para ir buscá-los, por exemplo, a Coimbra, se lhe vai pagar mais, então e como ficam os que já tem a trabalhar?
TS – Cinco anos depois da sua constituição, está satisfeito com o rumo do NEP?
AS – Estou e penso que as empresas também começam a sentir o nosso trabalho. Nós não estamos muito habituados ao associativismo, quando temos um problema não gostamos de o divulgar, mas todos temos problemas e se todos enumerarmos os problemas, então vamos resolvê-los em conjunto, em vez de ser cada um por si. É um trabalho difícil, mas estamos a tentar aumentar o número de sócios e depois mostrar-lhes que é importante estarem associados ao NEP.
TS – A terminar, que mensagem gostava de deixar aos empresários de Penela?
AS – Que somos todos uns heróis, porque os empresários destes territórios de baixa densidade são uns heróis. E depois, que continuem a acreditar na associação e nestes territórios, porque juntos seremos mais fortes.
LUÍS CARLOS MELO
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