Com a população cada vez mais envelhecida, a aldeia do Rabaçal ‘reclama’ a reabertura do centro de dia que funcionou até 2015 e encerrou então devido à escassez de utentes.

“A população pede para reabrirmos o centro de dia, seria uma boa utilidade e uma mais-valia, mas requer recursos que a união de freguesias não tem”, afirma a autarca local, Maria Marmé, salientando que quando o espaço fechou portas “havia poucas pessoas, mas hoje há mais idosos que não têm para onde ir durante o dia, estão sozinhos e isolados nas suas casas, não convivem e não havendo uma partilha entre eles, começam a isolar-se cada vez mais, deprimidos, o que não é bom para a sua saúde e acelera-lhes o envelhecimento”.

Aquela valência funcionava em instalações da junta de freguesia, que colaborava “pagando a energia”, com a Santa Casa da Misericórdia de Penela a fazer a gestão diária, e chegou a acolher mais de dezena e meia de utentes.

“Já fiz alguns contactos com entidades, mas o que me foi dito é que era um caso a ver, que teria alguns gastos. Se a Santa Casa da Misericórdia pensasse nisso naturalmente que apoiaríamos”, assegura a presidente da União das Freguesias de S. Miguel, Santa Eufémia e Rabaçal, realçando que as instalações se mantém intactas e não necessitam de obras.

Ao TERRAS DE SICÓ, o provedor da Misericórdia de Penela descarta a possibilidade de a instituição encarar o cenário de reabertura, “porque não há utentes em número suficiente, e mesmo que houvesse a melhor solução era transportá-los para Penela [para o centro de dia]”. “Se houver um número de utentes que o justifique, a Santa Casa da Misericórdia irá diariamente buscá-los ao Rabaçal de manhã e levá-los à noite”, garante Fernando Antunes.

Foi tudo…

Antiga freguesia, vila e sede de concelho até 1853, o Rabaçal “já teve tudo e foi perdendo tudo”, lamenta Maria Marmé, também ela habitante da aldeia, espelhando a tristeza da população local, esperançada que “alguma coisa seja reposta”.

Em entrevista ao TERRAS DE SICÓ, a autarca realça as dificuldades de mobilidade das suas gentes, com a “falta de meios de transporte público”. “Autocarro só para Condeixa, não temos transportes para Penela, e as pessoas se querem ir ao centro de saúde, à farmácia, finanças ou à câmara, ou vão de transporte próprio ou têm de ir de táxi”, explica, apelando à união de esforços para que seja possível a existência de uma ligação “pelo menos uma vez por semana”.

Mais-valia para a envelhecida população local seria também o retorno da presença de um médico, “semanalmente”, na extensão de saúde, há muito encerrada na vaga centralista que deixa meio-país como que abandonado à sua sorte.

Por outro lado, a autarca defende que “o Estado deveria dar um apoio de arrendamento aos jovens, uma forma relevante para assegurar o acesso à habitação, promover melhores condições de vida e, assim, constituirem família, fazendo a natalidade crescer”.

Maria Marmé, que presidiu à então Junta de Freguesia de Rabaçal até 2013 e voltou à liderança em 2017, então já na “pouco benéfica” agregação S. Miguel/Santa Eufémia/Rabaçal, reconhece que “há muito para fazer” na terra do afamado queijo, “assim o Estado enviasse mais verbas e pensasse mais nas freguesias”. “A Câmara de Penela tem boa vontade, mas também lhe faltam recursos financeiros”, reconhece.

A reabilitação do antigo lavadouro é obra para avançar ainda no que resta do mandato, ultrapassados que estão também os “grandes problemas” com a falta de água que há uns anos fustigaram a aldeia e resolvida a questão do saneamento básico. A reabertura de caminhos agrícolas é outra das preocupações do executivo que lidera.

Rabaçal e queijo são palavras indissociáveis, que projectam e dão fama à terra e ao produto endógeno por excelência da região. “O queijo Rabaçal e a DOP [Denominação de Origem Protegida] ” estão a criar um grande potencial nas queijarias e nas fábricas”, salienta.

A presidente daquela união das freguesias vê com bons olhos a ideia de criar no Rabaçal um mercado do gado, projecto da Associação de Desenvolvimento Terras de Sicó, lembrando que quando em 2001 integrava o executivo da junta a pretensão já era criar uma feira mensal de gado.

À mesa, a juntar ao queijo, o Rabaçal tem “uma rica e variada gastronomia”, com realce para os pratos típicos de cabrito e a chanfana, iguarias servidas nos restaurantes locais.

“Turismo devia ser melhor aproveitado”

A pretensão da Câmara de Penela em desenvolver um complexo arqueológico de apoio à preservação e à visita à villa romana do Rabaçal e a proposta para a reclassificação daquele espaço como sítio de interesse nacional agradam a Maria Marmé, que vê nelas “elementos relevantes para um desenvolvimento do turismo na aldeia”, lamentando ainda que não haja “muita divulgação acerca do museu e das escavações”.

“O turismo devia ser melhor aproveitado, estamos a perder muito e temos potencial para mais”, refere a presidente da União das Freguesias de S. Miguel, Santa Eufémia e Rabaçal, lembrando os bastantes visitantes que por ali passam, desde caminhantes e peregrinos em direcção a Fátima ou Santiago de Compostela, seja em actividades desportivas ou em deslocações às queijarias, fábricas de queijo e lagares.

A autarca defende a presença de guias turísticos e a criação de mais infra-estruturas, nomeadamente um parque de campismo, “onde as caravanas possam estacionar”. A nível de alojamento, no entanto, a aldeia “está bem servida”, com um albergue e uma pousada a disponibilizarem um número significativo de quartos.

Maria Marmé lembra ainda a importância do evento Penela Presépio para a dinamização do turismo, sublinhando que durante a sua realização anual “atrai muita gente ao Rabaçal”.

LUÍS CARLOS MELO