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ENTREVISTA Nuno Moita: “Temos de recentrar o trabalho e o enfoque no militante”

8 de Fevereiro 2020

Nuno Moita, 48 anos, economista, presidente da Câmara Municipal de Condeixa desde 2013, é candidato à liderança da Federação Distrital de Coimbra do Partido Socialista nas eleições a realizar em meados do próximo mês, nas quais terá como opositor João Moura Portugal, ex-deputado e antigo vereador da Câmara da Figueira da Foz.

TERRAS DE SICÓ (TS) – A decisão desta candidatura é uma pretensão antiga ou um desejo mais ou menos recente?

NUNO MOITA (NM) – Sempre estive ligado ao PS e sempre me interessei pelas questões políticas e partidárias. Fui líder da JS [Juventude Socialista] não só local como distrital durante alguns anos e fiz parte de alguns secretariados da federação ainda relativamente novo. Depois em termos profissionais fui trabalhar para Lisboa, mas mantive-me sempre ligado à Concelhia de Condeixa, até 2009, e também à Federação, embora não com a mesma presença, porque optei pela minha vida profissional e ao fazer essa opção, antes de vir para a Câmara de Condeixa, deixei de estar tão ligado ao PS distrital. Mas esta candidatura surge naturalmente. Há dois anos aceitei o convite para ser vice-presidente do actual líder da Federação [Pedro Coimbra], porque me revejo na sua estratégia e no trabalho que desenvolveu de organização, da capacidade que teve de orientar o partido para ter os excepcionais resultados, o melhor resultado de sempre do PS no distrito em termos autárquicos. Ao aceitar esse lugar, evidentemente que se criou algum espaço para poder ser presidente da federação, até porque o Pedro Coimbra não se irá candidatar e eu fiquei com essa vontade. E tenho essa vontade também porque acho que estamos a viver tempos em que os partidos tradicionais estão a enfrentar crises, há quem diga que é a crise da meia-idade da democracia, mas os partidos são a base da democracia. Os partidos são essenciais para que a democracia exista e fazem parte da sua génese. É perigoso para a democracia que os partidos políticos não consigam ser os actores principais em termos sociais e de funcionamento da democracia. Acho que posso contribuir alguma coisa nessa afirmação e tenho gosto em tentar passar a mensagem que o papel da política não deve ser menorizada. Por fim, o próximo grande desafio eleitoral dos partidos é as eleições autárquicas e aí, face às minhas funções como presidente de Câmara de Condeixa, estou relativamente bem preparado para esse desafio. Conheço bem a realidade do distrito, conheço bem a realidade das câmaras municipais, e portanto acho que posso dar um contributo diferenciador nesse aspecto ao PS.

TS – Já o disse antes, se for eleito a sua acção passará por imprimir mais participação dos militantes…

NM – Sim, o enfoque para mim tem de ser no militante. Nós temos cerca de 6.000 militantes no distrito, mas de facto temos muitos militantes que não participam na vida do partido, que muitas vezes não acompanham sequer a parte ideológica do PS. Há que pegar no trabalho organizacional que já foi feito e recentrá-lo no militante, enquanto peça-chave do partido.

TS – E como se consegue isso?

NM – Cativando-o, formá-lo e informá-lo, utilizando também as novas tecnologias que tanto estão a mexer com a vida democrática, para trazer essa participação. Daí a minha ideia, que está no meu programa eleitoral, do Provedor do Militante. Ou seja, ter em permanência um serviço de apoio ao militante, para termos um contacto permanente com os militantes, seja por e-mail, por telefone, Messenger ou WhatsApp. Há tantos meios para que a qualquer momento o militante possa falar com a federação e obter resposta imediata a esse contacto… Temos que envolver os militantes não só em períodos eleitorais internos ou externos, e isso passa não só pela criação dessa nomenclatura, mas também pela realização de reuniões periódicas com as concelhias e secções, seja em altura eleitoral ou não, transmitindo as ideias que existem, conversando abertamente. O partido terá que motivar debates e não ter assuntos tabus, seja sobre a regionalização, as alterações climáticas ou outros. Temos de olhar para estes temas de forma aberta, discuti-los, seja falar dos mandatos internos, que são de dois anos e considero que são pequenos, seja para falar da forma como se organiza o pagamento das quotas. Essencial é que os nossos 6.000 militantes cresçam e se sintam membros efectivos, que tenham a sua voz activa sempre que a queiram ter. Pretendemos também criar o gabinete do autarca, que serei eu a liderá-lo, para que possamos construir as alternativas e as soluções necessárias. Além do gabinete de estudos, que será também de acompanhamento das medidas do governo para o distrito.

TS – O foco autárquico para 2021 vai estar nas cinco câmaras que não são PS ou em manter as 12?

NM – Em primeiro lugar, queremos manter as 12. Recordo, no entanto, que há quatro situações de limite de mandatos que obrigam à mudança de candidato e esses irão ter uma atenção particular. Teremos de encontrar soluções que possam suceder aqueles que ganharam as câmaras municipais três vezes seguidas pelo PS. Depois, consideramos que existem condições para reforçar a nossa presença no distrito, mas não tenhamos ilusões, vai também depender da conjuntura nacional naquela altura, porque há sempre reflexos nacionais nas autárquicas. Temos de olhar para algumas das cinco câmaras que não são do PS e que, nalguns casos, consideramos que há possibilidade de poder conquistá-las.

TS – Por que é que os militantes do PS devem votar em si e não no seu opositor João Moura Portugal?

NM – Essa é uma boa questão. Todas as pessoas têm os seus méritos e os seus defeitos, mas há um ponto que destaco, que é a minha experiência autárquica, que o meu camarada não tem na mesma dimensão. Sinto-me mais bem preparado para o desafio que aí vem que é precisamente o das eleições autárquicas, não só pelo conhecimento que tenho do distrito, das pessoas com quem trabalho na CIM Região de Coimbra, onde nós, autarcas, trabalhamos todos em conjunto. Isso é uma vantagem que tenho em relação ao meu concorrente, que espero os militantes consigam percepcionar. Por outro lado, também ter deixado a minha vida profissional e a família em Lisboa para poder fazer esta missão, porque encaro estes projectos sempre como uma missão, com empenho total e muito trabalho, e é nesse espírito que estou neste combate e nesta luta. Destaco igualmente a experiência profissional e académica que tenho e a questão autárquica já referida que me distingue do meu camarada. Evidentemente que vamos combater quem está fora, porque dentro do partido somos todos camaradas, temos ideias e formas de actuar diferentes, como é o caso, mas não tenho ali nenhum inimigo.

TS – Se não ganhar, está disponível para o ajudar o novo presidente?

NM – Se não ganhar, no dia a seguir sou o primeiro a estar disponível para ajudar. É uma coisa que me desagrada nestes processos federativos, em tem havido sucessivamente mais que uma lista, é que depois das eleições fica sempre uma certa luta interna. Não contem comigo para isso. Discordar da forma de actuar é sempre possível, mas depois temos de estar sempre bastante solidários na acção. Não contem comigo para fazer aquelas lutas figadais que aparecem e que crítico porque acho que só fazem mal ao partido.

TS – O governo socialista tem tratado bem o distrito de Coimbra?

NM – Embora haja investimentos ainda por fazer, como a conclusão do IC6 ou a construção de uma ligação do IP3 à A13, o governo tem apoiado. Basta olhar para a obra que finalmente começou a ser feita no IP3. A questão do Metro Mondego também está resolvida, embora não ainda no terreno mas do ponto de vista orçamental e financeiro. São reivindicações pelas quais a Federação do PS tem lutado. O governo não se esqueceu do distrito, mas como sabemos o país está muito centralista e temos de contribuir para que essa situação se altere.

TS – Como olha para a questão de um aeroporto que sirva a região?

NM – Todo sabemos o que se disse inicialmente sobre Manuel Machado [presidente da Câmara de Coimbra] e a sua ideia de um aeroporto, mas acho que teve visão futura e colocou o tema em cima da mesa. Antes de 2017 ninguém falava do aeroporto na região Centro, falava-se de Monte Real. Aliás, desde que tenho memória que ouço falar dessa possibilidade, mas não na região de Coimbra. O grande mérito de Manuel Machado foi lançar para a discussão pública o tema, depois o de ter percebido que no aeródromo de Cernache não era possível e abrir essa eventualidade ao resto da região. Fui dos primeiros a dar apoio a Manuel Machado na ideia, porque tenho a certeza que a possibilidade de termos um aeroporto a 20/30 minutos revolucionará toda a região centro, não só ao nível do turismo mas também na vertente económica, sendo uma forma muito forte de combater o tal centralismo que existe no país. É uma ideia que está a fazer o seu caminho e a qual apoio.

TS – Se ganhar, é para ficar à frente da Federação apenas um mandato ou perspectiva já uma recandidatura dentro de dois anos?

NM – Como já disse antes, considero que dois anos de mandato é pouco tempo. Aliás, vou propor a nível nacional que seja feita uma alteração para quatro anos nos mandatos das federações distritais, iguais aos mandatos nas câmaras e no governo. Pode limitar-se depois a dois mandatos apenas, mas que sejam de quatro anos. Porque entendo que dois anos é muito pouco tempo, a resposta aponta para uma recandidatura.

LUÍS CARLOS MELO


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