Marcelo Ferreira tem 32 anos, é natural da Batalha, mas reside agora em Penela. É o único aluno deste território na recém-criada Escola de Pastores, cujo período de estágio está a decorrer até Janeiro do próximo ano, depois de 150 horas de componente teórica, em sala de aula, em Castelo Branco.
Engenheiro zootécnico de formação, Marcelo esteve emigrado durante algum tempo e no regresso a Portugal viu no projecto integrado no Programa de Valorização da Fileira do Queijo da Região Centro a possibilidade de reforçar os conhecimentos e na oportunidade de se candidatar ao “Vale Pastor”, um prémio monetário no valor de 5.000 euros para quem concluir com sucesso o curso de 560 horas, uma boa alavanca para colocar em andamento a sua própria exploração de ovelhas, com o objectivo de produzir leite para venda às queijarias DOP [Denominação de Origem Protegida] da região.
Em Setembro passado começou a formação em Castelo Branco, para onde se deslocou diariamente durante várias semanas. Não foi fácil. Muitos desistiram.
“Na zona de Penela havia cerca de 12 pessoas as candidatarem-se, mas quando souberam que tinham de ir para Castelo Branco e estar dias inteiros dentro de uma sala a ouvir o professor, desistiram”, conta Marcelo Ferreira. Ficaram dois, ele e um outro aluno, que entretanto também abandonou.
Se os candidatos anunciados ao projecto-piloto eram cerca de seis dezenas, restam 11 do pólo de Castelo Branco a estagiar, e de Viseu, onde o curso também funcionou, o número é pouco maior. E até o desejo assumido de conseguir a renovação etária no sector da pastorícia parece comprometido, porque “a maioria dos alunos tem mais de 30 anos, outros 40, há pessoas com 60 anos, e a ideia inicial não era essa”, constata.
Ao entusiasmo dos primeiros tempos e à certeza de que já aprendeu “muita coisa nova”, o jovem mostra agora reticências à forma como o projecto de largos milhares de euros, financiado pelo Centro 2020, está desenhado.
O prémio monetário de 5.000 euros a que os “pastores” que terminem o curso se podem candidatar só contempla 20 alunos e que ainda não tenham iniciado a actividade no sector. Os que já têm estruturas instaladas de produção de leite ficam de fora deste prémio, tendo a oportunidade de concorrer ao “Vale Pastor +”, cujo montante é apenas de 2.500 euros.
“Porque é que o apoio não é igual para todos se há tão poucos produtores no país e o objectivo é incentivá-los?”, questiona.
Mais. O curso acaba em Janeiro e o apoio (para os que o conseguirem) só está previsto para depois de Abril, quanto terminam as candidaturas que ainda não abriram, “como é que as pessoas se vão instalar se não tiverem outros meios [financeiros]?”.
“Já estive parado de Setembro a Janeiro, a gastar, sem qualquer tipo de apoio, como é que vou aguentar depois mais três meses sem ganhar? Quando chegar a Abril já desisti e já fui à procura de outro emprego”, teme.
O jovem confirma que as suas preocupações são partilhadas por outros colegas de curso, alguns que para além da vertente financeira têm acrescida a dificuldade de não terem por perto queijarias DOP a quem no futuro possam vender o leite.
Para os que resistirem, até ao fim de Janeiro decorre o estágio de 410 horas em diversas explorações agro-pecuárias, depois “mãos à obra”. Ou não.
A criação das Escolas de Pastores integra-se no referido projecto, cujo objectivo se centra na oferta de um contributo para a valorização económica da fileira dos queijos DOP da Região Centro (Rabaçal, Serra da Estrela e Beira Baixa). Para o início do próximo ano foi já revelada a intenção da abertura da mesma formação na Escola Superior Agrária de Coimbra.
O Programa de Valorização da Fileira dos Queijos da Região Centro, que inclui um investimento total de 2,7 milhões de euros e que é liderado pela InovCluster, prevê igualmente o funcionamento em 2020 de uma Escola de Queijeiros. Olhando para a experiência por que está a passar, Marcelo torce-lhe o nariz.
LUÍS CARLOS MELO
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