Conhecendo a história de João Gouveia dir-se-ia que, tendo percorrido uma boa parte do país ao longo da vida, nunca esqueceu de “levar no bolso” a terra que o viu nascer e à qual dedicou muitos anos. “Soure foi, e admito que continue a ser, a minha sede natural, portanto tenho uma ligação forte a esta vila. Mesmo quando estive fora, na prática nunca saí de lá. Eu costumava dizer que em Soure estamos no centro do centro de Portugal, que estar em Soure é fruir de Coimbra e de alguma tranquilidade que esta cidade, por vezes, possa não ter”, acrescenta.
Uma vida nómada com Soure no coração
Esteve por Soure até aos 11 anos lá regressando, de tempos a tempos (a dada altura todos os fins-de-semana), até ao momento em que volveu definitivamente às origens. Passou por Coimbra, deu um salto até Portimão (devido a contingências profissionais do trabalho do pai), voltou à cidade dos estudantes, rumou novamente ao sul, concluindo o serviço cívico em Faro com 17 anos, e regressou, por fim, a Coimbra, em 1976, já para ingressar no ensino superior na licenciatura em Economia. Não obstante a vida nómada, foi sempre dos melhores alunos nas turmas por onde passou. Os testes psicotécnicos que fez manifestavam alguma preferência pela área de Economia e Direito, ainda que tivesse bons resultados em todas as áreas. Mas, João Gouveia decidiu-se pela primeira opção, talvez por ser uma área que marcava o seio familiar. Enquanto viveu no Algarve jogava futebol no Olhanense (onde foi campeão distrital de juvenis e juniores), desporto que continuou a praticar depois ao regressar a Coimbra, representando o Sourense e o Norte e Soure. Foi com a remuneração desta prática desportiva, aliado ao que ganhava com as explicações de matemática que ia dando, que conseguiu pagar os estudos.
Concluiu o bacharelato e foi colocado a dar aulas em Santa Comba Dão e depois em Leiria. Leccionou no ensino secundário e complementar durante cerca de dez anos, seis dos quais conciliando com o trabalho no Crédito Agrícola de Vila Nova de Anços, onde começou por ser técnico superior, depois chefe de serviço e, ainda, director executivo e formador nacional. Já próximo de meados dos anos 80 licenciou-se e concluiu também a Pós-Graduação em Fiscalidade de Empresas, à época, aberta apenas a licenciados.
A política na vida de João Gouveia
A política, no seu estado mais “puro e duro”, surge nesta altura, ainda que desde jovem estivesse atento ao que se passava nesta área. É desafiado por um grupo de amigos e acaba por ser eleito deputado à Assembleia da República, pelo PSD, na VI legislatura (1991-1995). Em 1989 candidatou-se, pela primeira vez, à câmara de Soure. Não ganhou apesar de conseguir um dos melhores resultados do PSD. Quatro anos depois ganha as eleições por este partido em Soure, concelho que era o mais socialista do distrito de Coimbra e até mesmo do país. Foram aliás, os momentos protagonizados por João Gouveia (as três vezes em que este foi candidato à Câmara Municipal), os únicos em que o PSD celebrou vitória em Soure.
O economista foi, assim, presidente da Câmara Municipal de Soure entre 1994 e 2013 (em cinco mandatos consecutivos – os três primeiros pelo PSD e os restantes pelo PS), tendo por várias vezes, ganhado em todas as secções de voto, tanto pelo PSD como pelo PS. No seu percurso político, foi deputado da Assembleia da República e deputado ao Parlamento Europeu. Actualmente, cumpre mandato, pelo PS, na XIV Legislatura. É também presidente da Assembleia Geral da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Concelho de Soure (foi, aliás, condecorado com o Crachá de Ouro da Liga dos Bombeiros Portugueses), presidente da Assembleia Geral da Associação Prá Floresta do Concelho de Soure, ocupando o mesmo estatuto nas Assembleias Gerais da Santa Casa da Misericórdia de Soure e da Associação Portuguesa de Pais e Amigos Do Cidadão Deficiente Mental de Soure. É, após reeleição, presidente da Assembleia Municipal de Soure, membro da Assembleia Intermunicipal da CIM Região de Coimbra e do Conselho-Geral da Associação Nacional de Municípios Portugueses. No Parlamento, integra a Comissão de Orçamento e Finanças, a Comissão de Saúde e a Comissão de Administração Pública, Modernização Administrativa, Descentralização e Poder Local (nas duas últimas como suplente). De referir ainda que, em Maio de 2018, João Gouveia foi eleito para a Comissão Nacional do PS, o órgão máximo do partido entre congressos.
Vida plena com desafios que ainda podem acontecer
São vários os cargos desempenhados, várias as posições ocupadas ao longo da vida e um vasto leque de vitórias, motivos de orgulho para João Gouveia. Ainda assim, confessa existir algo que gostava de ter feito e não fez: “Há uma pequena frustração em mim. Acho que devia ter aprendido a tocar algum instrumento musical. Não foi falta de vontade mas sim de tempo. Por muito que achasse que o dia tinha 24 horas eu também tinha de dormir cinco ou seis. Quando era estudante e ia a Soure ao fim-de-semana eu, muitas vezes, era o carregador do grupo musical Devil’s Band, mais tarde Anátema, que uns amigos meus tinham. Eles iam actuar a uma festa e a forma que tinha de ir com eles e entrar à borla era ajudando a carregar os instrumentos. A música, seria uma forma de estar, por vezes, menos mal, quando estou sozinho e chateado”, conclui. Acredita que ainda possa vir a ter alguns desafios pela frente e, à pergunta “considera-se uma pessoa feliz e realizada?”, o deputado relativiza a resposta: “Normalmente estou mais tempo de bem comigo próprio e com o mundo do que zangado com o mundo e comigo próprio. Não é um estado permanente mas, não obstante as intermitências, se partimos do princípio que a definição de felicidade radica neste tipo de avaliação, eu sou feliz. É evidente se me perguntar se estou realizado? Costumo dizer que estou satisfeito e orgulho-me do que fiz, mas estou insatisfeito. Acho que, enquanto tiver saúde, certamente surgirão novos desafios e acima de tudo não me quero desiludir a mim próprio. Isso acontecendo também não desiludirei os outros”.
NÁDIA MOURA
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