A safra da azeitona está praticamente terminada, mas o optimismo inicial dos produtores perante olivais pejados de fruto está a ser atenuado por um menor rendimento no largar. Ou seja, a funda da azeitona não está a corresponder às expectativas que tão grande produção, previsivelmente a melhor das últimas décadas, fazia antever. A quantidade de azeitona necessária para extrair um litro de azeite está a ser maior que o habitual.
“O ano foi seco e a azeitona não ganhou azeite, enquanto nas últimas semanas choveu muito e ganhou peso, não rendendo o mesmo”, justifica Delmino Oliveira, proprietário de um lagar em Rabaçal, no concelho de Penela, adiantando que na região “há uma diferença grande em relação ao ano passado, quando fundia na casa dos 14/15%, e este ano está no 10/11%” de azeite extraído por quilo”.
Augusto Freire, de Alvorge (Ansião), que conta tirar dos seus olivais mais de oito toneladas de azeitona, considera que o Verão “muito quente e seco” teve influência no amadurecimento e “com a azeitona um pouco verde, não tem estado a fundir como noutros anos”. O produtor explica que por cada poceiro (30 kg) de azeitona conseguiu três litros de azeite, registo inferior à média dos anos transactos.
“Foi um ano de boa produção, pena que a chuva não tenha colaborado na altura da apanha, mas com mais azeitona era expectável que pudesse ter mais azeite que vou ter”, refere, conformado ainda assim porque “a qualidade não será inferior” a outras campanhas passadas.
Na azáfama de um lagar em constante e intensa laboração, também Delmino Oliveira confirma que “as pessoas vão bem servidas”. “Estão a levar boa qualidade de azeite e a muitas pessoas nem interessa muitas quantidades, preferem antes a qualidade, e essa está garantida”, salienta.
A produção de azeite, ainda assim deverá atingir valores históricos em Portugal, ultrapassando a campanha de há dois anos quando se cifrou nas 134.000 toneladas, o máximo até então.
“Nunca tive tanta azeitona e também nunca tive tanto azeite. É verdade que para aquilo que esperava ficou um pouco aquém, mas se fosse todos os anos assim era muito bom”, afirma José Silva, com olivais nos concelhos de Penela e Soure.
António Mendes, de Alcabideque (Condeixa), levou ao lagar “mais ou menos” a mesma azeitona dos outros anos. “Estragou-se muita. Era muita, não houve quem a apanhasse e o tempo também não ajudou”, justifica, atestando que “nos outros anos tem fundido mais”. Porém, “a qualidade é boa, não tem acidez e, por isso, estou satisfeito”.
Aliás, o sentimento de satisfação é geral, apesar do rendimento ser mais baixo que o esperado, e sucede a um ano de 2018 com uma quebra de produção de cerca de um terço em relação à boa campanha anterior. E nestas coisas de azeitona, os homens da terra já sabem, a uma boa safra sucede um ano de contra-safra, pelo que em 2020…
LUÍS CARLOS MELO
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