Toda a imprensa deverá ser pensada e sair a lume com objectivos definidos, todos num, e este será o de vir em defesa da verdade na abordagem das condições de vida do povo que quer ter como leitor. Mas a imprensa perderá toda força de comunicação se não for lida e pensada, portanto sem ser interiorizada. A querer convencer os leitores das suas verdades, a imprensa deverá sempre ter como outro objectivo conquistar os leitores como quem conquista lutadores por boas causas.
Podem os jornais de qualquer “escalão” trazer as suas páginas cobertas de “pedacinhos de ouro”, trazer escrita a verdade iluminada pelo sol, que tudo se perderá se não houver quem leia. E é opinião generalizada que, hoje, se lê muito pouco e pouco se pensa; é opinião minha que deveriam cobrir-se de vergonha as pessoas que, sabendo ler, não lêem e não emitem uma opinião bem pensada. É da ciência do povo que “De livro fechado não sai letrado”, que “a leitura engrandece a alma” (Voltaire); que “Se ao lado da biblioteca houver um jardim, nada faltará” (Cícero).
Li algures que “os jornais regionais passaram a ser mais lidos que os diários nacionais”. Se assim for, ainda bem. Não será para admirar, mesmo que os diários também cumpram a missão de anunciar a verdade e sugerir soluções para enriquecer a vida dos leitores. O regional está mais perto daqueles a quem quer servir, conhece melhor as carências e também as potencialidades para executar os projectos à espera de respostas. Erradamente, os jornais catalogados de grande informação julgarão que só a sua informação levará ao leitor o esclarecimento que ajude a viver na verdade. É que eles têm o seu “habitat” próprio, e com facilidade poderão passar ao lado.
A imprensa regional tem de reflectir os problemas da sua região, começando por conhecer a sua “gente”. Assim, a nossa Região de Sicó, precisa e quer a ajuda da imprensa que tem, dando-nos a informação sobre os fundamentos da vida pessoal e comunitária. A imprensa regional, como a nacional, vai ficando muitas vezes sob suspeita de querer “conduzir” os leitores; vem ficando exposta ao perigo de ser comandada, levando aos leitores a suposta verdade que, aceite, assim conquiste aderentes a causas que poderão não ser as de interesse para a região.
Creio que um dos objectivos de qualquer jornal de qualquer região, é servir a democracia sem desvios nem atropelos. E a tentação para “conduzir” pelas palavras de uma ideologia mais ou menos corporizada constitui um crime que se sofre dando crédito aos condutores de opinião. A imprensa regional tem de ser a resposta firme contra o facto de que, como alguém reconheceu, “os interesses, as preocupações, as ambições locais, são, invariavelmente, silenciadas pelos periódicos catalogados de grande informação, os quais (…) secundarizam tudo quanto não vá ao encontro dos seus interesses, e parecem ignorar, minimizar ou desvalorizar o papel da imprensa regional”.
TERRAS DE SICÓ, quinzenário consciente, tem a responsabilidade de levar a voz da esperança a todas as pessoas dos seis concelhos a que dá cobertura. A quem por aqui vive ou daqui partiu para um dia voltar, assiste o dever de conhecer os projectos para a sua terra e para os seus vizinhos, projectos para servirem uma comunidade alargada na solidariedade.
Pensando nos colaboradores de um jornal que queira ser do povo, ele deverá contar com quem saiba sugerir novos e dinâmicos projectos, com quem dê voz e responda às ambições legítimas do povo para quem se escreve. E, nas páginas de cada jornal, deverá haver espaço para que se estabeleçam diálogos construtivos.
O jornal de uma região, no seu dever de informar, formar e medir o ambiente em que os seus leitores vivem e a formação que prosseguem, tem de se estruturar com as “ferramentas” apropriadas, e a “ferramenta” mais eficaz tem de ser cada pessoa colaborante e responsável pela vinda ao público. E responsável também pela “imagem” agradável e atraente, que, como em tudo, os “olhos” também comem. Mas as preocupações pela imagem não poderão “tapar” a verdade, que, lida e apetecida, formará as personalidades. Essa verdade, dita sem rodeios ofuscantes, ganhará em fazer pensar, mais uma “ferramenta” estruturante de qualquer jornal.
Região, tem de significar globalização e disponibilidade para a colaboração.
Escrevi a pensar nas mensagens que li em TERRAS DE SICÓ do mês de Outubro. A ler, ouvi a Presidente da Câmara Municipal da minha Terra – Alvaiázere, a anunciar uma mão cheia de projectos que tem para realizar; li, e a leitura me fez pensar se ainda irá a tempo de fixar a juventude nos campos perfumados do Concelho de Alvaiázere.
* Escritor
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