O Congresso Internacional dedicado ao escritor Fernando Namora, que abre na quinta-feira, em Lisboa, traz “uma abordagem marcada pelo rigor” da investigação, acentuando “o lugar próprio e inconfundível” do autor na narrativa portuguesa, disse o presidente da APE.
José Manuel Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Escritores (APE), um dos participantes no congresso, destacou à agência Lusa a importância do autor e recordou que, “antes de José Saramago, a obra mais traduzida [na literatura portuguesa] era a de Fernando Namora”, com títulos como “Domingo à Tarde”, “Casa da Malta” e “Retalhos da Vida de um Médico”, muitos deles adaptados ao cinema e à televisão.
O Congresso, realizado no âmbito dos 100 anos do escritor, decorre em Lisboa, Vila Franca de Xira e Condeixa, onde se localiza a Casa-Museu Fernando Namora, co-organizadora da iniciativa com o Museu do Neo-Realismo, de Vila Franca de Xira, e o Centro de Estudos Comparatistas, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
“Fernando Namora, os começos” é o título da conferência de abertura do congresso, pela catedrática em literatura Paula Morão, na quinta-feira, na Reitoria da Universidade de Lisboa.
“Fernando Namora e o Neo-Realismo português” e “Abalos e sacrifícios”, por Vítor Pena Viçoso e Rita Patrício, respectivamente, ambos da Universidade de Lisboa, “A função do escritor e da literatura”, por Cândido Martins, da Universidade do Minho, e “Fernando Namora et la question identitaire”, pelos investigadores Pierrette e Gérard Chalendar, são outras abordagens do primeiro dia do congresso.
“Domingo à Tarde” e a sua adaptação ao cinema por António de Macedo serão analisados pelo investigador José Manuel de Vasconcelos, enquanto o professor da Universidade de Coimbra Carlos Reis abordará “Uma poética da narrativa breve em Fernando Namora”.
O primeiro dia encerra com o lançamento do livro “O humanismo de Fernando Namora”, de Armindo Pires Nunes, da Universidade Aberta.
O romance “Diálogo em Setembro”, por Carina Infante do Carmo, da Universidade do Algarve, abre o segundo dia de trabalhos, no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira.
Seguem-se as intervenções “A narrativa breve de Fernando Namora”, por António Manuel Ferreira, da Universidade de Aveiro, “Fernando Namora e as viagens literárias”, por Fernando Batista, da Universidade do Porto, a aldeia de Monsanto na obra do escritor, por Armindo Pires Nunes, e ainda uma “reflexão sobre a escrita e o escritor” na sua obra autobiográfica, por Yana Andreeva, da Universidade de Sófia.
O segundo dia termina com a apresentação do catálogo e uma visita guiada à exposição “e não sei se o mundo nasceu, Fernando Namora 100 anos”.
O terceiro e último dia, na Casa-Museu Fernando Namora, em Condeixa, conta com Isabel Cristina Mateus, da Universidade do Minho, que fala de “Fernando Namora ou a arte de desengravatar teorias”, e Maria de Lurdes Sampaio, da Universidade do Porto, que recorda leituras de Namora, “No tempo da ‘medicina mágica'”.
O congresso encerra com uma visita guiada à Casa-Museu, com o lançamento da revista Algar e a conferência “Fernando Namora, inventários”, por José Manuel Mendes.
Em declarações à Lusa, Mendes referiu-se a Namora como “um dos maiores escritores portugueses do século XX”, e sublinhou a reedição em curso da sua obra, “dado o interesse” nos seus romances.
Em 2016, a Editorial Caminho iniciou a reedição de Namora com “Retalhos da Vida de um Médico”, a que se seguiram “Fogo na Noite Escura”, “Domingo à Tarde”, “Minas de San Francisco” e “Rio Triste”. Dois outros romances deverão ser reeditados em 2020, disse à Lusa fonte editorial.
Nascido há cem anos em Condeixa, Fernando Namora licenciou-se em 1942 em Medicina. Estreou-se na literatura em 1937, com a poesia de “Relevos”, a que se seguiu o primeiro romance “As Sete Partidas do Mundo” (1938). Seguiram-se cerca de 30 títulos, até perto da morte, em 1989, como “O Homem Disfarçado”, “Cidade Solitária”, “A Nave de Pedra”, “Cavalgada Cinzenta”, “Resposta a Matilde”, “Jornal sem Data”.
Fez parte da tertúlia que juntou Carlos Oliveira, Mário Dionísio, Joaquim Namorado e João José Cochofel.
No passado mês de Agosto foi condecorado, a título póstumo, pelo Presidente da República, com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.
Ao longo da carreira, foi distinguido com o Prémio Ricardo Malheiros (1953), a Medalha de Ouro da Societé d’Encouragement au Progrés (1979), o grau de Grande-Oficial da Ordem de Sant’Iago da Espada (1979), o Prémio D. Dinis (1982) e a Grã-Cruz da Ordem do Infante (1988).
LUSA
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