3 de Novembro de 2024 | Quinzenário Regional | Diário Online
PUBLICIDADE

Natércia Martins

Arroz doce

4 de Outubro 2019

Arroz doce é uma receita antiga do tempo das nossas avós. Faz as delícias de miúdos e graúdos que ainda hoje se guarda nas memórias O arroz doce não passa de um prato de arroz cozido em leite temperado com casca de limão, água, açúcar e sempre polvilhado de canela. O açúcar tem que entrar depois do arroz estar cozido. Se for antes não se dá a reacção química e o arroz não coze. Vá-se lá saber porquê. Coisas de cozinha!

Isto é a receita básica. Não é feito de igual modo em todas as casas.

O arroz doce é doce de romarias, festas e casamentos. O arroz doce de casamento é tão seco que se come dentro de pão.

Sendo assim e se percorrêssemos as regiões de Portugal íamos encontrar arroz doce com gemas, sem gemas, sem leite, com leite condensado, com pudim Flam, com nozes ou com pinhões. Tudo isto num país tão pequeno. Aos ingredientes juntamos carinho, tempo e amor. Aí fica sempre bom.

O arroz deve ser carolino do Baixo Mondego. Tem cremosidade que pouco se lhe junta além dos ingredientes habituais.

Mas o arroz doce tem alguns rituais. O que sei e mais utilizado aqui no Baixo Mondego é nos casamentos, uma vez que não há casamento sem arroz doce.

Uns dias antes do casamento vai-se a casa das pessoas amigas pedir um prato ou travessa. Arroz doce feito devolve – se o prato ou travessa cheia de arroz doce. Para os padrinhos vai uma travessa maior e um pão-de-ló. Tudo levado num balaio (cesto) coberto com um paninho de linho bordado. Ao receber o prato dá-se a prenda aos noivos. Este donativo consiste num envelope com dinheiro. É assim que se faz, ainda, nas nossas aldeias.

Costume antigo que se vai perdendo. É uma pena pois estes costumes eternizam tanto a aldeia como as pessoas que lá vivem. Hoje já poucos se aventuram a “levar” o arroz doce. Quem recebe tem sempre algum defeito a pôr. Ou tem limão a mais ou a menos. Tem muita água e assim fica “ desenxabido”. O leite não era de qualidade. Se não tem defeito sempre se lhe arranja qualquer coisinha. Nós, os portugueses somos assim. Não mudamos.

A minha a receita é a seguinte:

Coloco um pouco de água num tacho com umas pedrinhas de sal e as cascas do limão. Ponho uma nózinha de manteiga (para ficar brilhante). Quando ferver junto o arroz, baixo o lume, e mexo sempre até o arroz abrir o bago completamente. Junto o leite e deixo ferver mexendo sempre.

Quando absorver o leite retiro as cascas do limão. Adiciono o açúcar e deixo incorporar bem. Retiro o tacho do lume.

Aqui aparece uma variante que via fazer em casa da minha mãe.

Numa tigela batia 4 gemas de ovos. Juntava umas colheradas do preparado e mexia com muito cuidado. Só depois das gemas estarem completamente misturadas e frias, colocava no tacho, para não talharem.

Não esqueci as quantidades. As minhas que utilizo são:

250 gramas de arroz carolino, água q.b., 250 gramas de açúcar, dois litros de leite, casca de limão, sal e canela para polvilhar.

É uma sobremesa barata mas que nem todos a sabem fazer.

A “rapadura”, em casa dos meus pais, era para mim e o meu irmão. Brigávamos por uma colherinha do que ficava agarrado às bordas do tacho que nos sabia melhor que o doce comido à mesa. Depois vieram os meus filhos que também rapavam o tacho. Agora são os netos e quando os vejo a rapar o tacho volto uma data de anos atrás e recordo como aquilo era tão bom.

Tanto os ricos, em casas senhoriais, que já rareiam, como os menos abastados têm na sua mesa de festa uma travessa de arroz doce. E não há festa ou aniversário sem arroz doce. Isso nem era festa. Afinal é receita bem barata com ingredientes baratos que todos temos em casa e utilizamos no nosso dia-a-dia.

Já lhe abri o apetite? Ainda bem pois um pratinho de arroz doce não se rejeita por nada. É bom, bonito e barato.


  • Director: Lino Vinhal
  • Director-Adjunto: Luís Carlos Melo

Todos os direitos reservados Grupo Media Centro

Rua Adriano Lucas, 216 - Armazém D Eiras - Coimbra 3020-430 Coimbra

Site optimizado para as versões do Internet Explorer iguais ou superiores a 9, Google Chrome e Firefox

Powered by DIGITAL RM