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Unidade de Saúde Familiar de Condeixa continua “doente”

31 de Agosto 2019

Cuidados continuados. A Unidade de Saúde Familiar (USF) de Condeixa manteve nas últimas semanas uma “patologia grave”, que a vem afectando há meses, com prejuízo para dezenas de utentes e num quadro de sobrecarga para os que ali trabalham.

A falta de recursos humanos na área dos assistentes técnicos (secretariado clínico) obrigou, mais uma vez, ao condicionamento do atendimento, com implicações sobretudo na marcação de consultas de doença aguda.

O “défice de recursos humanos” deve-se a situações de baixa médica e aposentação no quadro das quatro assistentes da USF, reduzido para apenas uma a assegurar o serviço de atendimento.

“Com o período de férias a situação agravou-se de um modo drástico e neste período só temos uma assistente técnica”, dá conta o coordenador daquele USF, Fernando Pais e Pinto, num “esclarecimento” aos utentes, afixado junto à área de atendimento, como constatou no local o TERRAS DE SICÓ.

A situação não é nova, mas a resolução parece tardar. Já em Junho passado, como na altura demos conta, a mesma falta de pessoal obrigou ao encerramento durante uma semana do atendimento aos utentes, impossibilitando a realização de consultas de doença aguda e permitindo apenas a concretização das consultas previamente marcadas.

Para minorar o problema, a USF tem contado com o apoio de assistentes técnicas externas, nomeadamente da USF Fernando Namora, a funcionar no mesmo centro de saúde, “que por sua vez também têm as suas limitações em disponibilizar tempo para este reforço”, sublinha Fernando Pinto. Entretanto, a Administração Regional de Saúde do Centro anunciou, esta semana, a disponibilidade de técnicos de Soure, para em regime de colaboração atenuar o cenário. Meros paliativos que não curam…

O atendimento na USF Condeixa, que deveria funcionar entre as 8h00 e as 20h00, tem períodos em que se encontra encerrado, sendo que a programação do horário é feita semanalmente, explica a mesma informação disponibilizada aos utentes.

 

“É muito triste!”

No início da última semana de Agosto, o TERRAS DE SICÓ constatou os condicionalismos a que os utentes estão sujeitos perante a realidade existente. No dia em que a nossa reportagem se deslocou ao Centro de Saúde de Condeixa o secretariado encerrou às 16h30. Curiosamente, eram duas assistentes técnicas a assegurar o atendimento aos muitos utentes ali presentes. Porém, pouco depois dessa hora não houve mais marcação de consultas e quem chegou “bateu com o nariz na porta”. Foi o caso de Maria Isabel. Já em Junho lhe tinha acontecido o mesmo. “Isto é muito triste. Por acaso agora estou de férias e posso cá voltar sem problemas, mas da outra vez tive que alterar horários no emprego para vir aqui, cheguei e estava fechado”. A utente considera que a situação é um sinal do “ponto a que chegou o Serviço Nacional de Saúde”. “É tudo para o défice e para alguns encherem os bolsos. Nós se quisermos ser atendidos em condições que vamos para os privados”, reclama.

Também Carlos Oliveira tem razões de queixa. Não desta vez, em que apenas estava a acompanhar a filha com consulta marcada, mas “já cá vi três ou quatro vezes para conseguir levantar uma simples receita”. “Sou de perto e tenho transporte, por isso não há grande problema, agora há pessoas que são de longe e ainda por cima não têm facilidade de transportes para andar a vir e a ir várias vezes”, alerta.

O utente que ali se desloca “muita vez” devido aos vários problemas de saúde de que padece, iliba as funcionárias, “que fazem o horário delas” e considera ser urgente admitir mais pessoal, sobretudo em período de férias.

António Simões desconhecia a situação. “ Não tinha conhecimento, para mim isto é uma novidade e acho que está mal. Deviam ter mais pessoal”, preconiza. Chegou perto da hora limite para o encerramento “forçado”, mas conseguiu o atendimento “sem problemas e num prazo razoável”.

Por seu turno, Ana Maria, emigrante no Luxemburgo, estava incrédula. Sentada na sala de espera daquela unidade, atirou um “nem vou comentar que é para não assustar mais as pessoas”. Depois, lá acedeu a… comparações: “Frequento pouco este centro de saúde porque não estou em Portugal, estou num país onde vejo coisas totalmente diferentes, não tem comparação possível”. “Isto é um absurdo. Às 4h30 da tarde e já estar a fechar. A esta hora também ainda estou a trabalhar e saio de casa às 5h30 da manhã”, comparou novamente.

Admitindo ser “uma situação complicada para quem precisa”, Ana Azevedo, com um bebé no respectivo carrinho, diz não ter sido afectada pelos constrangimentos. “Marco a consulta pela Internet e não tenho tido razões de queixa”, refere.

Durante o “período crítico” em que o secretariado se encontra encerrado, a USF de Condeixa assegura apenas as consultas e tratamentos previamente agendados, remetendo os pedidos de renovação de receitas, entrega de exames ou solicitação de ‘baixas’ para uma “caixa de receituário colocada à entrada da unidade”.

“Continuamos a aguardar a resolução do problema da parte dos nossos superiores hierárquicos”, afirma o médico responsável pela unidade.

A USF Condeixa entrou em funcionamento em 2006 e foi uma das primeiras criadas no país, no âmbito dos Cuidados de Saúde Primários. Aos 13 anos apresenta já sintomas de “doença aguda”…

LUÍS CARLOS MELO


  • Director: Lino Vinhal
  • Director-Adjunto: Luís Carlos Melo

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