O assunto da nova Maternidade de Coimbra, juntando as duas existentes numa nova estrutura, conheceu novos dados na semana passada e avivou-se a discussão em torno desta temática.
Avivou-se porque o Conselho de Administração do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra entregou à ministra da Saúde um estudo acabado de chegar e que aponta, sem apelo nem agravo, para que a nova Maternidade se construa agarrada ao edifício do Hospital Novo. Porque é essa também a vontade nunca disfarçada do Governo, a ministra da Saúde deu essa notícia, sorrindo prazenteiramente como quem exibe o troféu pretendido. Esse estudo poucos o conhecem e grande parte de Coimbra nem o cheirou. Passou-lhe ao lado, completamente. Pelo que se foi ouvindo, os autores de tal documento baseiam as conclusões a que chegaram em dados médicos, seja pela proximidade de valências médicas eventualmente necessárias a uma parturiente em risco, seja por razões de comodidade e conforto assistencial ou, ainda, por ficar mais barato que qualquer outra solução.
Analisando a questão com o rigor possível, mas assumindo um claro compromisso com aquilo que melhor nos parece servir Coimbra no seu todo e as mães parturientes em especial, seja-nos permitido assinalar os seguintes pontos, por cima dos quais talvez não devamos passar sem sobre eles reflectir.
1) Se os cuidados médicos e assistenciais forem efectivamente melhor assegurados com a Maternidade agarrada ao Hospital Novo, é difícil combater esta opção. Há, todavia, toda a necessidade de analisar o assunto com rigor e com verdade científica, despindo eventuais interesses que muitas vezes se agacham debaixo das asas desses tais “dados científicos”, que em muitos casos não passam de encomendas destinadas a dar suporte àquilo que nos convém.
2) Esse estudo surge numa altura em que há um claro propósito de desvalorizar o Hospital dos Covões, reduzindo-o a uma estrutura de amparo facilmente dispensável a curto prazo. Nunca foram suficientemente explicitadas as verdadeiras razões para querer acabar com os Covões que, tendo sido sempre uma unidade hospitalar mais humilde, foi sempre reconhecida como de valia científica assegurada, com algumas valências a pedir meças com o outro hospital.
3) Sendo as Urgências dos HUC um verdadeiro estaleiro em certas noites, com muito menos gente médica e de enfermagem do que seria necessário, com insuficientes estruturas de apoio e de espaço, é difícil compreender que as Urgências dos Covões tenham sido dispensadas quando a qualidade médica ali prestada não ficava a dever nada à outra. Essa medida, justificada por motivos de poupança, nunca convenceu ninguém, para além da maior comodidade de que alguns passaram a usufruir. Mas não foram os doentes.
4) A junção dos dois hospitais, que salvas certas especialidades nunca morreram de amores um pelo outro, foi anunciada e justificada por duas razões essenciais: melhor prestação de cuidados médicos e redução de custos. Nenhuma destas melhorias se concretizou e convidamos os mentores da medida a virem esclarecer publicamente onde é que esse cuidados médicos melhoraram e quais os custos que se reduziram. Estamos em crer que nem um tostão se poupou com tal medida.
5) Assim sendo, há que explicar tintim por tintim porque se insiste na medida que desmotivou todo o pessoal dos Covões, desde o pessoal auxiliar ao pessoal médico, passando pela enfermagem. E se não se comprovarem as vantagens anunciadas, nem as de natureza assistencial nem as de natureza económica, haja coragem e humildade para remediar o mal feito , que já é muito.
6) Os utentes que passaram pelos dois hospitais ao longo de períodos diferentes da sua vida, reconhecem na sua generalidade que os serviços prestados nos Covões têm um calor humano nem sempre disponibilizado nos HUC, sobretudo quando aquelas urgências mais parecem um bairro sírio que um espaço de cuidados médicos.
7) Importaria explicar qual a vantagem de ter um só hospital bom (HUC) e caro, em vez de dois hospitais bons a custos equivalentes. Explicar qual destas soluções serve melhor os doentes e realiza de forma mais total os objectivos mais essenciais do Serviço Nacional de Saúde. Quando Bissaya Barreto edificou os Covões não constava que ele sofria de Alzeimer.
8) Levar a nova Maternidade para os Covões, se medicamente não for inconveniente, seria uma boa solução em termos de estruturas hospitalares, evitando que aquela unidade do antigo Centro Hospitalar esteja reduzida a escombros dentro de pouco tempo, como já está a acontecer com o antigo Pediátrico.
9) Acresce a estas razões a densidade de tráfego na zona do Hospital Novo e vias de acesso. Pode não ser um artigo decisivo mas é uma razão importante que terá de ser resolvida ao mesmo tempo. Toda aquela zona está há muito saturada e nem o silo sempre prometido e nunca cumprido resolveria esta questão. Antes de estar pronto para abrir já estava a precisar de mais outro e assim sucessivamente. E não é apenas do estacionamento que se trata. É dos acesso que ficam a prazo todos encravados.
10) Se são os doentes que preocupam os defensores desta concentração, não esqueçam também aqueles outros doentes, parturientes ou não, que dentro em pouco levarão horas a aceder ao hospital, perante o desespero de quem os vir morrer-lhes nos braços.
11) Como explicar que se passe por cima da opinião da Câmara Municipal de Coimbra e respectivo presidente, onde as forças representativas da sociedade são maioritariamente favoráveis à Maternidade nos Covões? Manuel Machado e outros elementos sempre se mostram favoráveis a esta alternativa. Porque não se sentaram â mesma mesa a analisar o assunto? O Manuel Machado é algum Zé Ninguém cuja opinião nem sequer seja estudada e escrutinada? Então e quem resolve as implicações que resultam de uma medida eventualmente errada? Porque é que os Hospitais e a Câmara não conversam sobre o assunto e mandaram o tal estudo direitinho a Lisboa sem passar pela praça de 08 de Maio? Não terão os representantes do povo direito a uma fotocópia ainda que em papel de embrulho? Quem tem medo do diálogo e do confronto de ideias? E porquê?
12) Coimbra voltou a ter uma elite decisória que não passa patavina a ninguém? E cá em baixo é para os futricas do Terreiro da Erva? Este assunto dos dois hospitais e da maternidade diz apenas respeito a essa elite e mais ninguém pode abrir a boca? Estamos a voltar a esse tempo?
Párem para pensar. Sejam humildes e sirvam o povo, única fonte legítima do poder de decidir. Conversem. Saibam ouvir-se uns aos outros. Sirvam mais os doentes e invoquem-nos menos, quando muitas vezes o que está em causa são interesses próprios ou de classe. E não deixem que eventuais boas razões médicas (que as haverá seguramente) possam ser servidas em bandejas de credibilidade duvidosa. Mesmo as boas razões precisam de ser explicadas credíveis, para que passem além das barreiras da suspeição. Façam, façam bem, mas expliquem. E aprendam a ouvir. Os senhores da razão absoluta perderam sempre a cartada. Coimbra, neste como noutros assuntos, precisa de falar a uma só voz. Saibamos conviver com isso e deixemo-nos de andar a lamber os sovacos do poder central. Basta respeitá-lo.
Manuel Machado declarou, sexta-feira, que a Câmara Municipal de Coimbra não foi informada da opção pelos HUC para a construção da nova maternidade e reafirma que o Hospital dos Covões é a “melhor opção”, por “ter espaço, acessibilidades e ser a opção menos onerosa”.
Curiosamente, a posição do presidente da Câmara recolhe a unanimidade das forças políticas. O presidente da concelhia do PS, e vice-presidente da edilidade, Carlos Cidade considera que “a solução de Regateiro é uma proposta que vai encavalitar [a maternidade] numa área, já por si, pressionada sob todos os pontos de vista.
Já o vereador social-democrata Paulo Leitão teme que seja mais uma manobra de diversão sobre a nova maternidade em Coimbra, que “é urgente” e não pode continuar a ser adiada.
Também o vereador da CDU, Francisco Queirós, considera que “não faz qualquer sentido mais uma unidade de saúde naquele espaço [dos HUC] que, do ponto de vista urbanístico, já é demasiado complicado”.
Os Cidadãos por Coimbra consideram que a instalação da nova maternidade no perímetro dos HUC é um “grave erro político e uma grave cedência àqueles que encaram o congestionamento dos hospitais como oportunidade de negócio”.
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