A propósito de como anda a política em Portugal, o recente caso dos Professores pode ser paradigmático. Um Governo que precisou, desde o seu início, de empurrar com a barriga, partidos de esquerda que basicamente pretendem um modelo de sociedade assente num Estado enorme e devorador de qualquer iniciativa privada e de muitos impostos para o sustentar, partidos de direita que dão uma no cravo e outra na ferradura, um Ministro da Educação que é uma inexistência política, mas que adora ser Ministro, um Sindicato de Professores que quer que o tempo em que as carreiras especiais dos professores estiveram congeladas, seja recuperado por inteiro e, finalmente, ninguém interessado em discutir o estado da Educação em Portugal. No meio de tanta algazarra, os mais habilidosos acharam que ganharam, outros assobiam para o ar e muitos indignam-se. Sabemos que haverá vários actos eleitorais e, nesta altura, a classe política como um todo, olha diariamente para sondagens e estudos de opinião.
A educação em Portugal foi tomada pela sociologia, perdeu exigência e, hoje, ser professor é manifestamente mais difícil ainda do que há um par de décadas. A escola quer, não raras vezes, tratar todos como iguais, mesmo os que se recusam literalmente, dentro da sala de aula, a aprender, propagando indisciplina e prejudicando os demais. Há alunos que batem em professores, outros que verbalizam boçalidades, sem que a Escola, como instituição tome atitudes exemplares. Normalmente esses casos arrastam-se, promovendo desmotivação. Os professores não têm vida fácil e, basta analisar as estatísticas para perceber que há, cada vez menos, jovens que desejam ser professores de carreira. Obviamente que esta situação, a prazo, desqualificará ainda mais esta classe que deveria atrair os melhores que acumulassem competência e realização profissional. O sistema, por sua vez, não avalia, considerando que todos os professores são competentes, todos são assíduos e bons profissionais, como se essa utopia existisse nalguma profissão. Além disso, o congelamento em protesto foi submetido às carreiras da função pública, numa altura em que a situação financeira do País era de emergência.
Todos os portugueses tiveram subtracção de rendimentos e muitos portugueses perderam o seu emprego (alguns para sempre) porque muitas empresas faliram, deixando-os à mercê do mercado. Nenhum funcionário público, apesar das reduções de salário e congelamentos de carreiras, perdeu o seu emprego. Nenhum dos portugueses teve reposto por completo o que a crise financeira, provocada também por irresponsabilidade na condução do Estado e do País, lhes retirou.
Por todas estas razões, este assunto deveria ter sido tratado de modo diferente. O problema principal, quero crer, é que o Governo quis “vender” o discurso de que “agora connosco é que é”. Empurrou o assunto, foi titubeante desde o início, criou expectativas e, no final, saltou fora porque os tempos que aí vêm trarão um crescimento económico mais débil e ninguém quer arriscar exposição demasiada e novas crises. Finalmente, estou crente que se a Educação tivesse um Ministro a sério, muitos destes problemas teriam sido clarificados a tempo e evitado esta balbúrdia que, aliás, é só mais uma a juntar à dos enfermeiros, médicos, juízes e outras classes ou profissões do Estado.
Independentemente dos eventuais ganhos políticos, há algo de novo no discurso do PM. Afinal, há mesmo austeridade e é mesmo preciso cuidar das contas públicas ou voltaremos ao mesmo. Seja bem-vindo!
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