Em “ano de avaliação democrática”, com a realização de vários actos eleitorais, o presidente da Assembleia Municipal de Soure, João Gouveia, alertou, ontem, para a “necessidade urgente de inverter a evidente quebra de confiança dos cidadãos portugueses relativamente à política, às instituições e aos seus responsáveis”.

Intervindo na sessão comemorativa em Soure dos 45 anos do 25 de Abril, o também deputado à Assembleia da República, entende que “o primeiro desafio colectivo do corrente ano, para podermos com a consciência tranquila cumprir e homenagear os ideais de Abril, é de tudo fazermos, especialmente aqueles que têm responsabilidades políticas, para reganhar a confiança dos cidadãos na política, única forma de conseguirmos travar a negativa evolução que se tem vindo a verificar nos níveis de abstenção em diferentes actos eleitorais”.

Também José Manuel Mendes, membro da bancada da coligação PSD/CDS na Assembleia Municipal, avisou os “agentes políticos” que “os portugueses não se revêem em formas de intervenção que fomentem o conflito e a crispação e que coloquem os interesses partidários de ocasião acima do superior interesse nacional”, quando devia existir “união de esforços na abertura de perspectivas de futuro para as novas gerações”.

Enaltecendo o valor da liberdade, Rui Roque (PS), lembrou o actual “mundo estranho” que consome mais recursos “a construir muros do que pontes e a salvar vidas”, para sublinhar que Portugal pode não ser “o país perfeito, mas vivemos onde podemos trilhar um caminho para o desenvolvimento, haver igualdade de direitos e deveres, mais equidade, solidariedade e mais democracia”.

O presidente da Câmara, Mário Jorge Nunes, elogiou a portuguesa “democracia madura e sólida” e enalteceu o poder local democrático como “a maior conquista de Abril”. “Por isso a melhor forma de o defender é o aceitar dar passos em frente na defesa da descentralização e da regionalização, o assumir de novas competências, novos compromissos e novos encargos”, realçou, sublinhando que a nível concelhio, 2018 foi o ano com os valores financeiros mais elevados de contratos inter-administrativos e acordos de execução com as juntas de freguesia.

“Em 2019, já aceitámos 13 competências delegadas [da Administração Central] e tudo faremos com o objectivo primeiro de estar mais junto da população. Estamos dispostos a todos os sacrifícios para servir o povo do concelho e, se for o caso, substituirmo-nos ao governo, seja qual for a sua cor”, reforçou.

Para Ana Fortunado (CDU), nos últimos anos, o poder local “tem sido limitado na sua autonomia, “têm-lhe retirado recursos financeiros, pressionado para receber mais competências sem as devidas contrapartidas e acompanhadas de perdas na tomada de decisão”. “Uma verdadeira descentralização de competências é inseparável da criação das regiões administrativas e da reposição das freguesias liquidadas”, preconizou.

Na sessão solene, que decorreu no pavilhão multiusos, foram ainda entregues os prémios do concurso infantil “Conhecer Abril”, que este ano teve como vencedora a aluna Matilde Gonçalves Costa, do 4.º ano do Centro Escolar de Samuel.

O Clube Arte e Vícios, da Escola Secundária Martinho Árias, e alunos do 4.º ano da Escola Básica de Soure, com Referencial “Aprender com a Biblioteca Escolar”, contaram e cantaram Abril.

Junto ao veículo “Chaimite”, que no Parque dos Bacelos perpetua agora a Revolução, foi inaugurado um mural evocativo dos 45 anos do 25 de Abril.