Um grupo de cidadãos de Casal de Ermio, na Lousã, exigiu hoje o apuramento de responsabilidades no abate de dezenas de árvores no rio Ceira, lamentando os danos ambientais causados.
“Esta intervenção provocou danos no ecossistema ripícola, fauna e flora, instabilidade nas margens e um aspecto desolador na paisagem”, de acordo com um documento remetido a diversas entidades públicas, incluindo órgãos de soberania, bem como associações ambientalistas e GNR.
O corte de árvores foi efectuado, em Março, por iniciativa da Junta de Freguesia de Foz de Arouce e Casal de Ermio, disse hoje uma moradora.
A contestação, em nome de “um grupo de cidadãos indignados”, foi enviada à agência Lusa por Maria do Carmo Lopes, professora da Escola Superior Agrária de Coimbra, nas áreas da Conservação e Biodiversidade e Gestão de Ecossistemas.
Segundo o texto, a intervenção “consistiu no corte cerce de amieiros, freixos e salgueiros, algumas destas árvores com mais de 50 anos, e uma poda severa em plátanos, numa vasta área nas margens do rio Ceira”, afluente do Mondego, na praia da Bogueira.
“A gravidade da situação é acrescida, dado que existe reincidência no abate ilegal de amieiros neste local, à época pela Junta de Freguesia de Casal de Ermio, agora extinta, para dar lugar à plantação de plátanos”, refere.
Para os promotores do documento, “está em causa a destruição de uma vasta área contínua de um habitat ripícola de alto valor ecológico e rico em biodiversidade específica, amieiros e salgueiros”, além do feto-real, “raro e ameaçado”.
Integrada “na envolvência do Sítio de Interesse Comunitário da Serra da Lousã”, a zona atingida “é um recurso turístico importante para o desenvolvimento do Pinhal Interior, onde o turismo de natureza tem vindo a crescer muito devido aos recursos naturais existentes”.
Trata-se também de uma área “que faz parte das praias fluviais das Aldeias de Xisto e já teve o galardão de Praia Bandeira Azul”, realçam, recordando que os grandes incêndios de 2017, um dos quais começou na Lousã, em 15 de Outubro, “destruíram a maioria das florestas limítrofes, restando apenas a vegetação nativa das linhas de água”, mais resistente ao fogo.
“Não é admissível que as entidades autárquicas da Lousã deem parecer positivo a intervenções, mesmo alegando tratar-se de intervenções sanitárias, que se traduzem na efectiva destruição massiva de património natural”, consideram.
Para o grupo de cidadãos, este corte de plátanos e árvores autóctones do habitat ripícola “revela total ausência de conhecimento técnico e de protecção ao meio ambiente, (…) dependendo assim de parecer técnico de entidade oficial”.
Os habitantes da zona “não foram antecipadamente informados desta acção, para poderem exercer os seus direitos de contestação”.
“Exige-se um esclarecimento das autoridades públicas sobre a oportunidade técnica deste abate de árvores e uma firme actuação das entidades responsáveis, para impedir a continuação da destruição da galeria ripícola na área e alertam para que não seja autorizada a plantação de espécies exóticas no local e que sejam repostas as espécies nativas agora abatidas”, segundo a contestação, que tem Maria do Carmo Rosa Lopes como primeira signatária.
Os subscritores defendem que “a área afectada deve ser intervencionada para poder retornar ao seu estado natural a expensas de quem tomou esta decisão”.
A Lusa tentou obter a posição da Junta de Freguesia de Foz de Arouce e Casal de Ermio, cujo presidente, Henrique Lourenço, eleito pelo PS, remeteu uma resposta para mais tarde.
O documento foi enviado às seguintes entidades: Assembleia da República, Ministério da Agricultura, Agência Portuguesa do Ambiente, Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, Turismo do Centro de Portugal, Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra, Reserva Ecológica Nacional, Reserva Agrícola Nacional, Câmara da Lousã, rede Aldeias do Xisto, Quercus, Liga de Protecção da Natureza e GNR.
LUSA
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