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Paulo Júlio

Empurrar com a barriga

18 de Abril 2019

O pior que pode haver é não haver vontade para discutir um problema. Na passada semana, a Fundação Soares dos Santos deu à luz um relatório realizado por uma prestigiada universidade sobre a sustentabilidade do sistema da segurança social. O tema não é novo. Percebemos que há vários factores que concorrem para a necessidade de uma análise e de uma discussão sobre as várias possíveis soluções. Pior do que isso, é achar por preconceito ideológico que há uma única solução para um problema tão complexo.

As estimativas demográficas para Portugal apontam, para daqui a trinta anos, um população de pouco mais de seis milhões e meio de pessoas, das quais setenta por cento, com mais de sessenta e cinco anos. É dramático que Portugal esteja a definhar com todos a assistirem e sem que os governos, mesmo em época de crescimento económico, tenham tempo para reflectir e agir.

Obviamente que só com um conjunto de medidas bem integradas, a nível nacional e europeu, se poderia evitar, pelo menos, parte do problema. Aliás, teremos eleições europeias dentro de dois meses, e o que assistimos é a uma discussão caseira e limitada, acompanhada por cartazes com uns slogans pensados por umas agências de quinta categoria, ou, talvez, desejados por uns políticos que não desejam discutir problemas estruturantes para o futuro da Europa. Imigrações, populismos de esquerda e direita, líderes sem carisma e sem cultura histórica europeia, demografia, democracia,  informação sobre o papel da comissão europeia e do parlamento seriam temas para fazer mais programas no sentido de nivelar a informação sobre a importância daqueles órgãos políticos. Em vez disso, assistimos a uns comícios com uma linguagem bem típica do ambiente da carne assada.

Voltando ao tema inicial. O tal relatório da FSS trouxe o dito problema da segurança social para a agenda, propondo várias soluções, da parte da manhã. Na parte da tarde, mesmo sem se ter dado ao trabalho de ler de modo atento um relatório científico que alguma coisa de útil há-de ter, o Ministro da tutela veio dizer que não passava de um desvario de uns professores e investigadores para colocar uns privados no sistema. Assim, se mata a discussão. Ou, pelo menos, tenta-se de forma preconceituosa e até intelectualmente arrogante, travar o inevitável.

Discutir um problema, propondo várias soluções, analisando as vantagens e desvantagens, é um princípio básico de quem quer governar. Isso é democracia. Não ter medo do contraditório, ouvir, diagnosticar e, finalmente, decidir, resolvendo. O contrário é a arma dos fracos e pouco corajosos.


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