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Ana Tenente: “Querem derrubar-me, não interessa como”

5 de Abril 2019

A freguesia de Vila Cã, no concelho de Pombal, continua agitada e a viver a sua “novela mexicana”, como apelida a situação a presidente da Junta, reeleita em lista independente em 2017 e no centro de continuada contestação, quer pela oposição quer agora também por alguns dos que a acompanharam nas últimas Autárquicas. Ana Tenente, em entrevista ao TERRAS DE SICÓ, rejeita o rótulo de ditadora e acusa um “grupo de pessoas” de a querer derrubar, “deitar-me abaixo, não interessa como nem de que forma”.

 

TERRAS DE SICÓ (TS) – Consegue perceber as razões das muitas quezílias surgidas nos últimos anos em Vila Cã, envolvendo-a a si e à Junta de Freguesia?

ANA TENENTE (AT) – Política. Não podemos esquecer que ganhei as eleições como candidata independente, não tenho partido algum a acompanhar-me. Em 2013, fui acompanhada por elementos que eram do PSD e que durante os dois primeiros anos estiveram comigo, mas que depois zangaram-se e demitiram-se. Foi quando chegou a primeira fase da requalificação da sede da freguesia. Eles tinham um projecto e queriam que eu me identificasse e orientasse por ele, o que não aceitei. Foi aqui que começaram as divergências.

TS – Essas demissões surgiram em 2015, mas em 2017, a poucos meses das eleições, houve mais, com as renúncias do então tesoureiro Luís Fernandes e da secretária Maria José Marques…

AT – Aí foi o calendário eleitoral. É óbvio que arranjaram forma de denegrir a minha imagem.

TS – Apesar das polémicas, voltou a candidatar-se como independente e tornou a ganhar.

AT – Porque as pessoas de Vila Cã confiam em mim, gostam de mim e acreditam no meu trabalho.

TS – Neste segundo mandato, contudo, as divergências vieram à tona mais cedo…

AT – Desde o início, desde a primeira assembleia, que este mandato tem sido conflituoso, o que está a acontecer agora não é nada de anormal tendo em conta aquilo que acontece desde Dezembro de 2017. É o habitual, é tentar encontrar erros, denegrir a minha imagem, é derrubar-me. Isto é uma continuidade do que já estava.

TS – Até nas demissões, porque o secretário [Clément Santos Cruz] já se demitiu. Como a contestação já chegou a membros que a acompanharam na lista independente eleita, se eles não aceitarem assumir o cargo vago, como vai fazer?

AT – Vou continuar.

TS – Apenas acompanhada pelo tesoureiro?

AT – E para já com o secretário demissionário, porque ele continua em funções até que não seja substituído.

TS – Há queixas de perseguição, medo e intimidação por parte de funcionários da Junta?

AT – Estes funcionários da Junta que se queixam de medo e perseguição são precisamente os que me acusaram, no mandato anterior, em tempo de eleições, que apresentaram uma queixa contra mim [por alegada agressão física], de que não houve provas, nem nunca pode haver, porque eu nunca toquei em ninguém. São as mesmas pessoas que convidei para virem trabalhar comigo, com quem contacto todos os dias. Como é que podem ter medo de uma pessoa que todos os dias passa por elas e diz “bom dia”, “boa tarde”, “olá, tudo bem?”, “preciso disto ou daquilo”. Uma pessoa que tenha medo não trabalha com outra pessoa.

TS – Mas nesse caso que fala, foi julgada e condenada por um crime de ofensa à integridade física contra uma funcionária da Junta…

AT – Nunca ficou provado, mas a senhora juíza achou que me tinha de condenar e condenou a [pagar uma indemnização de] 600 euros. A moça em causa trabalha comigo todos os dias, todos os dias me trata por tu, toda a gente vê. Injustiças…

TS – Houve funcionários da Junta que também se demitiram?

AT – Houve no mandato anterior duas funcionárias que saíram porque decidiram emigraram. Neste mandato saiu o manobrador de máquinas, que abriu uma empresa por conta própria, e o outro trabalhador que se demitiu agora disse na Assembleia que não tem nada contra mim, que ia embora porque ao fim de 15 anos achava que estava na altura de sair.

TS – Como responde às insinuações de que é uma ditadora?

AT – Não sou ditadora, nunca fui.

TS – Concorda que continua a ter pela frente um cenário difícil de gerir?

AT – Não tenho, não. Isto faz tudo parte do mesmo esquema, para que eu peça a demissão.

TS – E está a ponderar fazê-lo?

AT – Não estou.

TS – Nem que lhe peçam?

AT – Já me pediram.

TS – Quem? O presidente da Assembleia de Freguesia, João Antunes Santos [PSD]?

AT – Exactamente.

TS – Depois da última reunião da Assembleia, de 21 de Março passado?

AT – Sim, e a resposta foi “não”. Demitir-me-ia, sim, se toda a gente se demitir e se afastar também me afasto.

TS – Toda a gente, quem?

AT – Quem está nos órgãos da freguesia e quem está por trás. Que saiam da política, todo o grupo, porque isto é um grupo que me quer derrubar, desde 2015.

TS – Acha isso um cenário possível?

AT – Acho impossível.

TS – Porque faltou a essa Assembleia do dia 21?

AT – Por razões de saúde. Inclusive tive de ir ao hospital e tenho a justificação. Toda a gente sabe que estou com problemas de saúde, que vou muitas vezes ao médico, mas antes desta assembleia nunca faltei a uma. Eu não fujo, porque não é a fugir que resolvo os meus problemas.

TS – Como é que as pessoas da sua freguesia lhe falam de todas estas situações?

AT – As pessoas sabem que há um grupo que está junto desde a campanha eleitoral de 2017 e tem um objectivo: que eu saia, derrubar-me, deitar-me abaixo, não interessa como nem de que forma.

TS – O Orçamento para este ano foi chumbado, o que lhe aumenta as dificuldades de gestão?

AT – Estou a governar por duodécimos, com o último orçamento aprovado, que é o de 2018, de 330.000 euros, mas não aumenta as dificuldades porque as grandes obras têm de ser a Câmara [de Pombal] a fazê-las.

TS – Tem solução para as queixas em torno do estado do cemitério?

AT – O projecto de alargamento está feito e temos o terreno que a Câmara ajudou a comprar. Já pedimos orçamentos, falta agora seguir os trâmites legais para lançar o concurso para a obra que vai começar este ano.

TS – Como encara os próximos tempos, tendo em conta o clima de conflitualidade existente e os problemas de saúde a que já se referiu?

AT – Fui eleita pelo povo, o povo acredita em mim e, apesar de não ter maioria absoluta, quem me elegeu confia em mim e é para com essas pessoas que tenho a obrigação de cumprir o mandato.

TS – Até quando vai resistir?

AT – Até 2021.

TS – E este é o seu último mandato?

AT – Porquê?! Ainda tenho forças para mais um.

 

LUÍS CARLOS MELO


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