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“Dr. Varito”, uma figura incontornável da história recente de Alvaiázere

16 de Fevereiro 2019

“Há gente que fica na história, da história da gente”. Quem o diz é a fadista Mariza e Álvaro Pinto Simões é uma dessas figuras incontornáveis da história recente das gentes do concelho de Alvaiázere. Em 1985, aceitou o desafio de trocar uma vida estável e confortável em Lisboa para se candidatar à presidência da Câmara Municipal de Alvaiázere. Ao longo de 20 anos, foi o presidente de todos os alvaiazerenses, tendo deixado muita obra feita. Mas mais do que isso, conquistou o carinho dos munícipes, para quem foi, é e continuará a ser o “Dr. Varito”. Fomos conhecê-lo…

Álvaro Pinto Simões nasceu a 8 de Julho de 1944, em Maçãs de D. Maria (Alvaiázere), no seio de uma família modesta. Filho de uma professora do ensino primário e de um comerciante, cedo deixou o concelho para prosseguir os seus estudos. Primeiro em Ansião, depois em Coimbra e mais tarde em Lisboa, onde se formou em Direito após ter cumprido o serviço militar.

Profissionalmente, iniciou a sua carreira enquanto professor na escola de Ferreira do Zêzere. Mas esta foi uma experiência curta. Passados dois anos concorre para uma vaga de jurista no Ministério dos Transportes, onde começou como técnico e, ao longo de mais de uma década, foi evoluindo até chefe de divisão.

 

Decisão difícil

Aproximavam-se as eleições autárquicas de 1985. Álvaro Pinto Simões tinha uma vida estável em Lisboa, onde os dois filhos frequentavam o ensino primário num colégio privado e a esposa trabalhava na Direcção de Finanças. É neste contexto que recebe a visita de alguns elementos da Comissão Política Concelhia do PSD, que o convidam a encabeçar a lista do partido para a Câmara Municipal.

“Foi a decisão mais difícil de tomar na minha vida”, confidenciou ao TERRAS DE SICÓ. De um lado, “uma vida estável e confortável em Lisboa”. Do outro, “uma incerteza” e uma forte vontade de contribuir para o desenvolvimento da terra que o viu crescer. “Hesitei, mas o bichinho ficou” e “aí falou mais alto o meu bairrismo”. Afinal, “apesar de estar longe, sempre tive uma ligação muito forte a Maçãs de D. Maria”, onde “estava ligado a algumas instituições” e “tinha os meus amigos de infância”.

 

Regresso às origens

Regressa assim às suas origens para “roubar” a Câmara Municipal ao “professor Filipe Antunes dos Santos, que cumpria o terceiro mandato”, após “ter ganho por três partidos diferentes (PS, coligação AD e CDS)”. Pela frente tinha a missão “muito difícil” de ganhar pelo PSD, que “nunca tinha ganho a Câmara de Alvaiázere”.

“A primeira campanha eleitoral foi muito gira”, recorda. “Não conhecia praticamente ninguém” e parte do concelho também não. “Na minha vida, tinha ido apenas uma vez a Almoster e outra a Pelmá”. Por isso, onde quer que fosse “olhavam-me de alto a baixo e comentavam: aquele é que é o candidato do PSD”. “Só em Maças de D. Maria é que era diferente, toda a gente me conhecia”. E foi o que lhe valeu. Aí venceu as eleições com mais de 80%, o que muito contribuiu para a “vitória muito renhida”, que conseguiu com quase 55% dos votos. Foi primeira e mais “magra” de cinco vitórias, duas das quais com a maior votação do país, cujos resultados muito contribuíram para consagrar a tradição laranja no concelho, que desde então tem dado sempre maiorias absolutas ao PSD.

E qual é o segredo? “A proximidade às pessoas e a obra feita”, responde prontamente o histórico autarca. “Procurei fazer sempre uma vida autárquica muito aberta e próxima às populações”, conta, recordando que, durante os 20 anos em que liderou os destinos da autarquia, “a porta do meu gabinete estava sempre aberta” e ele sempre disponível para receber as pessoas. “Após as eleições, o meu partido era Alvaiázere e para mim eram todos iguais, independentemente da cor partidária”, sustenta, certo de que a sua maneira de estar “teve uma certa influência”.

Mas não só. Afinal, foram duas décadas de muito trabalho, ao longo das quais conseguiu fazer “quase tudo” o que tinha planeado. “O primeiro mandato foi muito bom, porque me permitiu percorrer e conhecer todo o concelho”. Além disso, deu início a “uma avalanche de obras pelo concelho que ainda hoje marcam posição”, enalteceu, apontando como exemplos os quartéis da GNR e dos bombeiros, o tribunal, as piscinas municipais, o pavilhão gimnodesportivo, entre outros.

Mesmo assim, “há duas ou três obras que gostaria de ter concretizado e não fiz”, disse, referindo-se ao “IC3 (agora a A13) e uma zona industrial de grande dimensão”, que “fui adiando, porque queria fazê-la próxima do traçado do IC3”.

“Tirando isso, em 20 anos fiz tudo o que queria”, por isso mesmo em 2005 decidiu “dar lugar a outros com novas ideias”. Seguiram-se Paulo Tito Morgado e Célia Marques, que “têm feito um trabalho muito positivo”.

Apesar de ter deixado a presidência da Câmara, não deixou a política. Afinal, cumpre actualmente o quarto mandato como presidente da Assembleia Municipal. E deverá ser o último. “Não estou a pensar recandidatar-me, como já não estava a pensar fazê-lo nas últimas eleições”, revelou, argumentando que “tenho 74 anos, por isso já está mais do que na altura de sair e dar oportunidade a outras pessoas, aos mais jovens”.

Dedicou grande parte da sua vida ao município, mas “nunca fui político”. Aliás, não foi ele que escolheu a política, mas a política que o escolheu a ele. “Antes de vir para a Câmara Municipal era apenas um simples cidadão que exercia o meu direito de voto e nunca tinha tido qualquer actividade política”.

 

Associativismo

Mas o “dr. Varito” não viveu só para a política. Também emprestou muito do seu tempo a algumas instituições e associações, que são hoje verdadeiros pilares do concelho. “Estive sempre ligado ao associativismo, porque considero que é um dos grandes pilares que suportam a vida concelhia nas áreas da cultura, desporto, recreio, protecção civil…”. Por isso, enquanto autarca apoiou sempre as colectividades e enquanto cidadão “fiz parte dos órgãos directivos de praticamente todas as instituições do concelho”, destacando-se a Associação da Casa do Povo de Maçãs de D. Maria, da qual é presidente da direcção há várias décadas e onde continua a passar muito do seu tempo.

“Agora, não tenho uma actividade certa, tirando algumas obrigações” relacionadas com a Assembleia Municipal e a Caixa Agrícola Pinhal Interior, às quais continua ligado. Fora isso, “levanto-me às horas que me apetece, faço a minha agricultura e dedico um bocadinho de tempo à família”. Grande parte do ano é passado em Maçãs de D. Maria, que “é onde me sinto bem”, mas “nos meses de Verão vou para Aljezur, a terra da minha mulher, onde também tenho muitos amigos”.

Passadas mais de três décadas, não se arrepende de trocado “o certo pelo incerto, a vida na cidade, onde nada me faltava a mim e à minha família, por uma coisa completamente incerta em Alvaiázere”. “A adaptação custou-me um bocado, mas o bairrismo e o entusiasmo com que me dediquei a esta causa superou todos os contras”, frisou, salientando que “a minha mulher foi, com toda a certeza, o meu grande suporte”.

Afinal, “a vida de um autarca, sobretudo de um presidente de Câmara, é de altos e baixos, de alegrias e tristezas”, refere, constatando que “felizmente tive muito mais alegrias do que tristezas”. “E a decisão mais difícil foi mesmo a de regressar ao concelho, porque as dificuldades foram sendo ultrapassadas”.

CARINA GONÇALVES


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