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Marisa Matias: “Vêm aí anos de muita turbulência política e institucional”

18 de Janeiro 2019

A condeixense, em Bruxelas desde 2009, volta a encabeçar a lista do Bloco de Esquerda nas eleições do próximo dia 26 de Maio, salientando ser um desafio que aceita “com gosto, muito empenho e responsabilidade”.

 

TERRAS DE SICÓ (TS) – Ser a cabeça-de-lista do Bloco de Esquerda nas próximas eleições europeias pode ser encarado como “natural”?

MARISA MATIAS (MM) – Não. Creio que em política não há soluções naturais em si mesmo. Pode ser expectável, mas seria igualmente “natural” se fosse outra pessoa a encabeçar a lista do Bloco. Seja como for, é um desafio que aceito com gosto, muito empenho e responsabilidade.

TS – Que razões a levaram a aceitar de novo o desafio?

MM – Vivemos tempos complicados no espaço europeu com muitos desafios que se jogam precisamente neste momento. Poderia sair ao fim de dois mandatos, já são um tempo longo de envolvimento nesta missão, mas aceitei para, no caso de as pessoas assim o entenderam, não sair num momento tão difícil. Serão anos de muita turbulência política e institucional. Sinto-me preparada para enfrentar esses desafios e para ajudar o Bloco a enfrentá-los.

TS – Olhando para trás, que balanço faz desta década no Parlamento Europeu?

MM – Foi uma década de muito trabalho e de muita intensidade. Uma década que me obrigou a redefinir a minha própria vida. Mas, apesar de muitas derrotas, houve propostas que valeram todos os esforços, como a directiva de combate aos medicamentos falsificados, ou a estratégia europeia de combate ao Alzheimer, ou os programas de investigação europeus, ou ainda a proposta de rejeição ao Tratado Orçamental no direito comunitário. Têm sido muitas as frentes de luta, mas tem valido a pena pelos resultados concretos para a vida das pessoas. Ainda esta semana a proposta de introdução de critérios de igualdade de género nas políticas fiscais. As mulheres continuam a ser muito afectadas por não terem uma igualdade de acesso ao mercado de trabalho ou por serem as que mais cuidam dos seus familiares. E ainda há tanto por fazer…

TS – A carreira académica ficou em suspenso para seguir outro rumo. De que forma isso condicionou a vida que tinha projectado? Tem valido a pena?

MM – Tudo vale a pena quando é com vontade e quando faz sentido. Deixei a carreira académica na altura em que estava numa posição melhor, mas nunca fiz nada na vida por lugares, mas antes por convicções. Na verdade não tinha projectado nada de muito concreto senão continuar a entregar-me a projectos que fizessem sentido e pudessem contribuir para melhorar a vida das pessoas. No Parlamento o sentimento é o mesmo e essa missão mais direccionada. O que importa é não perder o contacto com as realidades concretas nem as razões e as obrigações que os cargos de representação acarretam.

TS – Se for reeleita em Maio, o que significarão mais cinco anos no Parlamento Europeu?

MM – Significa continuar a fazer a mesma força para melhorar a vida das pessoas, com igual empenho mas com mais experiência. Significa não virar as costas numa altura em que parecem querer fazer da competição a língua comum em vez da cooperação e da solidariedade.

TS – Que linhas defenderá o Bloco de Esquerda na campanha eleitoral de Maio?

MM – Em tempos de medo, não baixar os braços nem perder a esperança num futuro melhor. Trabalhar sempre para garantir justiça social e igualdade de direitos, apresentar propostas honestas e dignas. Lutar por elas. Lutar pela vida das pessoas com qualidade e segurança.

TS – Como se pode combater a abstenção, sempre elevada, nessas eleições europeias?

MM – É sempre difícil. Combatendo o afastamento e tentando fazer perceber que 80% das decisões que afectam as nossas vidas são decididas em Bruxelas e não em Lisboa. Promovendo a participação de toda a gente nas decisões que as afectam.

TS – Com o distanciamento que Bruxelas permite, como olha hoje para Portugal e para a situação social e política que vive?

MM – Olho com a esperança de que possa melhorar ainda mais. Nos últimos anos tivemos uma solução parlamentar que permitiu aliviar um bocadinho os níveis de austeridade, mas foi limitado. É preciso ir muito mais longe nos serviços públicos, em particular na saúde que enfrenta várias debilidades, na dignidade das pessoas, como é o caso dos cuidadores informais, no trabalho para alargar direitos e diminuir precariedade, nos sectores estratégicos como a energia. É preciso um verdadeiro plano de desenvolvimento que englobe desafios como o das alterações climáticas que estão na origem de cada vez mais incêndios e outras catástrofes naturais. O caminho que foi feito ao nível da recuperação de rendimentos foi positivo, mas limitado. Há ainda muito por fazer.

TS – Em que medida a preocupa o aumento de movimentos populistas, que têm vindo a ganhar expressão também na Europa, e como podem ser combatidos?

MM – Preocupa-me bastante. Combatem-se com qualidade de vida, com respostas aos problemas concretos, com democracia. Combatem-se promovendo a unidade e não o ódio e a competição.

TS – A recandidatura à Presidência da República é equacionável em 2021?

MM – Estou completamente empenhada nas eleições europeias e em fazer o meu trabalho o melhor que sei e que posso.

LUÍS CARLOS MELO


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