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Paulo Júlio

É bom que se discuta!

18 de Janeiro 2019

Lembro-me de uma história do romance do nosso saudoso Dr. António Arnaut, Rio de Sombras, que nos transportava para o final da década de 60, em época de campanha eleitoral, na Serra de Janeanes, em Condeixa.

Lá, alguém em contacto com um habitante local procurava convencê-lo da necessidade de mudança porque dizia “é fundamental mudar!”. O idoso sentado no rebate da porta, do lado de lá de um pátio imundo onde a vida dos animais domésticos, como galinhas e porcos, se misturava com a vida dos humanos, perguntava se isso seria bom!?

Esta demonstração reflecte, ainda hoje, muito da nossa cultura. Somos, como agora se diz, gradualistas, ou, dito de outro modo, avessos a grandes mudanças. De momento, na vida política nacional, o PSD, partido com mais deputados eleitos nas últimas eleições, vive um momento conturbado.

Na realidade, não sei se por posicionamento estratégico ou por outra qualquer razão, o PSD deixou-se encostar às cordas e, desde cedo, com a nova liderança de Rui Rio, passou uma mensagem titubeante sobre como deveria fazer oposição.

Sejamos claros. O sistema político português, tal como está, precisa de oposição construtiva, mas audaz e presente. Portugal precisa, desde logo, de um partido com as características do PSD que assenta no humanismo, na social democracia e na pluralidade e vivacidade dos seus militantes, desde logo. A matriz do PSD é rica e felizmente abrangente, o que convoca os seus líderes a fazer boa interpretação dessa diversidade e riqueza de pensamento, agregando e incluindo, em lugar de convidar a sair os que discordam.

Ser Líder não é ser Chefe. Muito menos em política. Por essas razões, se afirma, que o Líder no PSD é realmente factor crucial para o sucesso. Por outro lado, analisando as sondagens do último ano, o PSD foi-se gradualmente afundando, mostrando que os portugueses não lhe reconhecem nenhuma capacidade de governar, mesmo apesar de nunca terem dado maioria absoluta ao PS. É bom recordar que apesar da Troika, o PSD ganhou as eleições de 2015, pelo que a herança que Rio apanhou, tinha uma excelente base para ser desenvolvida junto dos portugueses.

A estratégia de uma organização política com o prestígio e a história do PSD tem obrigatoriamente de ser ambiciosa. Não me parece que seja o caso da situação presente. Parece-me que é preciso mesmo mudar. Não sei se mudar de líder ou não, mas é preciso que o PSD mude. Mude a sua forma de interagir com os seus próprios responsáveis políticos e com a Sociedade. Manifestamente a Comissão Política tem pouco ou nenhum peso político, o que talvez não ajude o Líder. Talvez o Líder não queira ser ajudado porque pensa que o seu prestígio político poderá sobrar para tapar defeitos da máquina, mas definitivamente, tudo o que pressinto, é que tudo isto vai levar a um resultado eleitoral historicamente medíocre.

Por estas razões, não fico surpreendido que o Líder seja publicamente desafiado, agora, por alguém com capacidade de liderança, prestígio, juventude, bom senso e experiência política. Não me parece que seja mau para o PSD. Até porque, à semelhança das péssimas condições de vida daquele velho cidadão da Serra de Janeanes, do livro Rio de Sombras, é impossível que fique pior do que está.

Afirmo-o com o distanciamento da vida política que usufruo e como cidadão interessado em ter um regime em que saibamos ao que vem cada um. Até porque o pior que pode acontecer a Portugal é alguma reedição requentada de Bloco Central no Governo. Precisamos que o PSD tenha uma liderança com brilho e simultaneamente com capacidade de trabalho e de organização. Que tenha poder de encaixe e que una.

Se depois do processo em curso, independentemente das personalidades, o PSD conseguir atingir esse desiderato, Portugal vai também ganhar com isso. Seja com Rio ou com Montenegro, mas definitivamente com um estilo novo. E como todos gostam de nomear Francisco Sá Carneiro, na minha visão, se ele ainda cá estivesse, uma coisa seria certa. Antes o confronto de ideias do que a pasmaceira do cinzentismo.


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