A cerca de meia centena de habitantes da pequena localidade de Valada, na União das Freguesias de Gesteira e Brunhós, em Soure, vive, por esta altura, dias de satisfação e orgulho. Após um mês de “trabalho intensivo”,conseguiu colocar de pé a ideia de transformar a localidade numa aldeia eco-Natal,com a construção de um presépio e outras decorações natalícias, tudo em material reciclável.
“Esta é uma aldeia muito pequena, envelhecida, e surgiu a ideia de fazer algo diferente, inovador, que dê para falar na nossa terra. Toda a gente concordou e metemos mãos à obra, fazendo um presépio com coisas que se podem reutilizar”, explica Muriela Neves, do auto-intitulado grupo Amigos da Valada, que junta a população local, organizadora da iniciativa.
Quem entra na aldeia, logo se apercebe de uma decoração diferente na época festiva, mas é no largo da capela que o conceito “eco” ganha mais força. Uma alta árvore de Natal feita de garrafas de água e decorada com outros materiais recicláveis dá as boas-vindas aos visitantes.
Velhas escadas de madeira utilizadas nas adegas estão decoradas a preceito junto às habitações, os candeeiros de iluminação são feitos com o gargalo de garrafas de plástico, e é impossível não reparar nas estrelas penduradas que decoram o local, construídas “a três dimensões” a partir de… embalagens deleite.
Lá dentro do templo, ao pé do altar, perto de duas dezenas de figuras compõem o eco-presépio. Junto a cada “boneco”, uma descrição sobre o material utilizado na sua construção. São José, por exemplo, ganhou forma com um garrafão de água de seis litros a fazer-lhe o tronco, duas garrafas de 1,5 litros a servir de pernas, pano-cru com enchimento de almofadas a dar-lhe cara e braços, “vestindo-se” com uma túnica castanha feita a partir de restos de tecido de uma toalha de mesa. O cabelo e a barba estão feitos com cabelos de bonecas danificadas. O Menino Jesus, a Virgem Maria, os Reis Magos e outras figuras do presépio, todos ali, construídos com garrafões de água ou de lixívia, garrafas de água, sumo ou iogurte, rolhas de cortiça, grãos de café, serapilheiras, roupas velhas e muito mais; com atenção a todos os pormenores, grande imaginação e originalidade, a afirmar a célebre Lei de Lavoisier, segundo a qual “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. No caso,tudo se aproveita.
“Estamos orgulhosos do nosso trabalho, está digno de ser visto, e apesar de sermos poucos conseguimos provar que é possível fazer coisas boas e bonitas”, enaltece Muriela Neves, que dá voz pelos Amigos da Valada,apostados numa “forma linda de divulgar a nossa aldeia, que é pouco conhecida,num projecto que todos agarrámos com imenso gosto e prazer”.
Zulmira Tralhão foi uma das costureiras de serviço.Reconhece que a obra deu muito trabalho, “muitos serões a pensar qual a melhor solução para construir esta ou aquela figura”, mas “foi compensatório e o resultado final é espectacular”.
Para ajudar à festa, ao domingo à tarde, até 6 de Janeiro, funciona uma “barraquinha” de iguarias tradicionais da época, confeccionadas pelas mulheres da aldeia, que permitirá angariar uns “trocos”, a reverter a favor da capela.
É também ao domingo que o presépio, inaugurado no passado dia 9, está aberto ao público, mas se durante os restantes dias da semana alguém o quiser visitar há sempre por ali quem esteja disponível para abrir aporta, asseguram os dinamizadores da “Valada, Aldeia Eco-Natal”.
“Queremos que o nosso trabalho seja divulgado e muita gente venha ver. Não vamos ficar por aqui, a ideia no futuro é acrescentar mais figuras, não parar, crescer…”, antecipa Muriela Neves.
A menos de uma dezena de quilómetros da vila de Soure, a pacata aldeia de Valada é, assim, mais uma opção para uma visita ao “mundo”,aqui, original e pedagógico do Natal.
LUÍS CARLOS MELO
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