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Paulo Júlio

MIOPIA versus DIGNIDADE

16 de Novembro 2018

O quotidiano da informação é ocupado à náusea com os problemas, informações e contactos de Tancos, problemas com dirigentes desportivos e os “casos” parlamentares que nos vão demonstrando que os vícios não têm cura. Os programas de 2.ª feira à noite de todas as televisões portuguesas ou são ocupados com debates sobre o domingo de futebol ou as questões do costume. Estamos cansados. Não sabemos para onde iremos, mas apesar dos canais de informação se terem multiplicado, há paradoxalmente, cada vez menos, conteúdos informativos. Talvez seja o que “vende”, o que aumenta o “share”, mas o contributo para uma sociedade mais informada, porventura, ficará muito aquém do desejado. Se dermos uma volta pelo mundo percebemos que o discurso profundo com conteúdo baseado na história e na compreensão dos problemas do presente é raríssimo. A palavra banaliza-se porque muitos dos que deveriam ser Estadistas ou pretendentes a tal, são banalidades que, ou por notoriedade ou por esperteza de perceber o vazio político e social, atingiram determinados cargos de relevo e de liderança. O povo que ainda tem paciência para gastar tempo a observar os fenómenos e a fundamentar uma crítica, encolhe os ombros e deseja que dias melhores possam vir. Mas, há excepções. No passado domingo de manhã, 100 anos depois do armistício que permitiu um acordo de paz após a 1.ª guerra mundial, o Chefe de Estado Macron proferiu um discurso que deveria ter sido ouvido por todos. Perante uma audiência de muitos Chefes de Estado explicou devagarinho porque é que nasceu a União Europeia que depois se tornou também económica. Explicou que sem União Europeia, teremos, mais década menos década, divisões profundas entre os seus países com riscos elevados de confrontos bélicos. Explicou que o modelo social europeu, com os seus defeitos, é exemplo para qualquer parte do mundo porque a solidariedade é um valor de sustentabilidade e não uma ferramenta para tratar miseráveis. Explicou que a Europa pode não ser a região com mais PIB, mas é a região do mundo onde os direitos humanos são e deverão continuar a ser a base do modelo. Explicou também que os extremismos estão a ganhar terreno porque há desilusão com o sistema e com a imposição pouco culta de determinado tipo de políticas de austeridade, agudizando dicotomias entre Norte e Sul, entre Oeste e Leste. Explicou que a incapacidade dos líderes europeus perceberem com realismo o que está a acontecer poderá provocar novos problemas em cada um dos Estados. O discurso demagógico trepa onde falta cultura e conhecimento, e onde abunda desilusão com as trapalhadas que os políticos nos agraciam e que a comunicação social ajuda a hiperbolizar. Macron fez um discurso de Estado por causa do aniversário do fim da 1.ª guerra mundial, na qual pereceram muitos compatriotas nossos. Passaram 100 anos. Quase já não há testemunhos vivos de tais acontecimentos. Há muita informação disponível, mas aparentemente, cada vez menos tempo para a absorver. O problema é complexo, mas cabe aos protagonistas terem sempre dignidade e darem bom exemplo quando estão em cargos públicos. Quando se erra ou mesmo quando não se erra, mas o assunto ganha proporções mais mediáticas que ajudam a estragar o regime, têm de saber sair. Não identifico outra forma para matar extremistas e demagogos. Em Portugal ainda não temos problemas graves de ocupação de espaço político organizado, mas, se não cuidarmos, será por pouco tempo. A miopia é, neste caso, o contraponto da dignidade. E, realmente, cada protagonista é muito menos importante do que qualquer regime ou modelo de sociedade.


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