A menos de seis meses de terminar o mandato como presidente da Associação Empresarial de Ansião (AEDA), Hugo Bairrada aponta a ampliação do Parque Empresarial do Camporês como “uma prioridade máxima”, uma vez que há “uma grande escassez de lotes” no concelho e existe “uma grande procura de empresários para se fixarem em Ansião”.
TERRAS DE SICÓ (TS) – Como está a AEDA?
Hugo Bairrada (HB) – De modo geral, as associações empresariais não estão saudáveis financeiramente. Contudo, a AEDA tem a felicidade de não ter uma grande carga em termos de custos fixos, pois tem apenas um recurso humano afecto e não tem uma grande estrutura que mensalmente obrigue a um dispêndio muito avultado, o que facilita a sua gestão. Todavia, o facto de termos um único recurso humano torna mais difícil dar resposta a tudo o que pretendemos.
Mas independentemente disso, a AEDA está saudável e tem vindo a desenvolver um trabalho de continuidade relativamente ao anterior mandato, do qual fazia parte enquanto vice-presidente. Não obstante, temos alguns objectivos ambiciosos em termos de serviços e de proximidade com os associados, cuja concretização é muitas vezes dificultada pelos escassos recursos que dispomos.
Ainda assim, temos projectos de formação-acção a decorrer e outros concluídos que englobam mais de 60 empresas, a grande maioria do concelho de Ansião, em que os mesmos estão numa fase de bastante maturidade. Temos também uma candidatura aprovada para formações modulares, que vai arrancar ainda este ano, sendo certo que este processo é mais demorado visto termos de cumprir com os requisitos de contratação pública.
O ideal seria trabalhar apenas com os associados, mas também trabalhamos com não-associados com o objectivo de persuadi-los a tornarem-se sócios, pois vivemos e sobrevivemos em termos financeiros das cotas dos cento e poucos associados, o que não é exagerado e fica um pouco aquém do orçamento que realizamos anualmente.
A AEDA não vive de quadros comunitários, preferimos privilegiar as parcerias e quando há necessidade fazemos concursos públicos para administrar a formação de que somos gestores.
TS – Quais os projectos e prioridades da AEDA a curto/ médio prazo?
HB – Em 2019, os principais objectivos da AEDA não se vão descolar muito dos objectivos deste ano, em que começámos por promover um jantar com os participantes no concurso de montras e presépios de Natal, a Feira do Empreendedorismo, a Noite Branca, o desfile de moda e, brevemente, a programação de Natal, promovida em parceria com o Município.
Todavia, pretendemos acrescentar outras iniciativas que já estavam no plano de actividades para 2017 e 2018, mas não conseguimos realizar, porque os projectos de formação-acção ocupam-nos muito tempo e o quadro de pessoal que dispomos não nos permite focar em tudo.
Nesse sentido, queremos terminar o recenseamento empresarial, bem como criar uma rede de parcerias na AEDA, em que os estabelecimentos aderentes possam oferecer descontos aos associados, de forma a promover a aquisição de bens e serviços no concelho. Afinal, as colectividades, empresas e público em geral já têm no concelho uma oferta praticamente total de produtos e serviços, com uma boa resposta em termos de tempo e qualidade.
O ano 2019 vai ser peculiar, porque vamos ter eleições na AEDA. Este é um projecto que abracei em 2014 e não estou esgotado, ainda tenho algumas ideias, mas não pretendo centralizar a AEDA no presidente. Desta forma, se surgir alguém com maior energia e melhores ideias do que aquelas que estou a imprimir na AEDA, é bem-vindo e cedo facilmente o meu lugar.
TS – Então pretende recandidatar-se a presidente da AEDA?
HB – Sim, pretendo recandidatar-me. Houve uma altura em que estive hesitante, mas neste momento quero continuar. Não gosto de deixar as coisas a meio e sinto que se o fizesse nesta altura deixava alguns objectivos por concretizar. Sinto que ainda não consegui fazer tudo o que pretendia na AEDA, talvez daqui a três anos consiga ter os objectivos planeados cumpridos e posso sair.
Da avaliação que faço, as necessidades que as empresas têm vão no sentido daquilo que tentamos e pretendemos fazer, sempre com a condicionante dos recursos que dispomos. Mas pretendo recandidatar-me e já transmiti isso mesmo aos membros da direcção, que me deram força para avançar. Portanto, se me deram o seu apoio, não há razão para não avançar.
TS – E que balanço faz do trabalho desenvolvido até agora?
HB – Num cenário mais pessimista diria que ainda há muita coisa que tinha predestinado e não consegui realizar. Num cenário realista interpreto e reconheço porque é que não consegui fazer tudo. O principal motivo é que, eu enquanto presidente e a direcção em geral não são órgão executivo da AEDA, fazemos este trabalho a título associativo e, além disto, ainda tenho as minhas empresas para gerir (no meu caso) e a restante direcção também têm os seus negócios, sendo que não temos muito mais tempo para despender.
Há algumas actividades no nosso plano de actividades que não tem sido possível concretizar, mas de um modo geral temos cumprido os objectivos.
Em 2011 quando constituí as minhas empresas em Ansião, procurei buscar argumentos a todos os níveis e achei que já na altura a AEDA era uma boa ajuda para entrar no mundo dos negócios. Hoje em dia há uma ascensão a esse nível, ou seja, de algum tempo a esta parte temos tido um nível de procura sempre crescente.
Julgo que de um modo geral o trabalho é positivo, sendo que não é excelente. Procuramos sempre trazer algo de novo, mas nem sempre é possível. Portanto, vamos fazendo o que podemos.
TS – A AEDA tem vindo a desenvolver algumas actividades com vista a dinamizar o comércio local. Já são notórios os resultados dessas iniciativas? Pretendem dar continuidade a este tipo de acções?
HB – Sim. De facto, temos vindo a intensificar a actividade a esse nível. Houve duas iniciativas nesse sentido que foram muito positivas e tiveram muita receptividade, nomeadamente a Noite Branca e o desfile de moda. E isso é, obviamente, o retorno positivo do nosso trabalho.
Este ano vamos voltar a realizar o concurso de montras e presépios de Natal, que na primeira edição teve 10 ou 15 aderentes, no ano passado quase triplicámos esse número e este ano vamos aumentar ainda mais, o que prova que as pessoas já se revêm no nosso trabalho e percebem que é uma mais-valia aderir às nossas iniciativas, porque de facto isso acaba por se traduzir numa promoção das suas actividades e, consequentemente, num encaixe financeiro. Mas provavelmente será este último ano que realizamos o concurso de montras e presépios de Natal, porque começa a ser muito repetitivo e não havendo nada de novo deixa de ter interesse para os participantes.
Podia também falar na questão da formação, que para além de ser um requisito legal, conseguimos através das candidaturas que realizamos e que vimos aprovadas, levá-la até aos participantes de um modo gratuito, sendo também um bom instrumento para as empresas, incluindo o comércio local, na medida em que se torna um instrumento diferenciador para as organizações participantes e contribui para que tenham mais sucesso. É claro que estas iniciativas não têm visibilidade, mas pretendem trazer algum firmamento na estrutura.
De grosso modo, na AEDA pretendemos promover as actividades uns dos outros, não lhes fazendo concorrência, daí adquirirmos maioritariamente os bens e serviços no concelho.
TS – Como está a ser a adesão das empresas de Ansião ao Portugal 2020?
HB – Com toda a certeza, Ansião tem aproveitado bastante bem os recursos do Portugal 2020, talvez porque a AEDA também fez um trabalho interessante de promoção deste quadro comunitário. Mas, por norma, sempre que há concursos abertos há procura e obviamente que tentamos adequar os concursos abertos às actividades e projectos dos empresários.
Todavia, o Portugal 2020 tem sido bastante deficitário naquilo que leva às empresas. Tem sido interessante em alguns níveis, nomeadamente na questão da formação e da formação-acção, uma vez que sem conhecimento e sem uma nova abordagem muitas vezes não é fácil para os empresários resistirem. Mas de um modo em geral, em termos de pequenos investimentos, o Portugal 2020 tem sido uma desilusão, porque não tem respondido às nossas expectativas iniciais.
E prova disso é que quando surgiu o SI2E em Junho do ano passado tivemos um boom de procura, porque efectivamente aquele projecto poderia ser a resposta para muitos empresários e para as suas necessidades, que não passam só pela formação e consultoria, mas também pelos pequenos investimentos. A seguir aconteceu a calamidade dos incêndios e a CCDR, em conjunto com outros organismos, decidiu lançar o SI2E Atrair, destinado às empresas que directa ou indirectamente foram afectadas pelos incêndios. Mais uma vez, tivemos uma procura estrondosa.
Mas estes projectos têm um senão: o tempo que demoram para dar as respostas. É impensável um empresário, que fez uma candidatura em Junho de 2017, estar mais um ano à espera pela resposta. Por isso, houve alguns empresários que decidiram avançar sozinhos e não esperaram pelo recurso ao SI2E.
Mas voltando ao Portugal 2020, é pena que este quadro comunitário tenha prometido mais do que realmente deu até ao momento, pois com o quadro comunitário a bem mais de meio e sem os fundos comunitários distribuídos, caímos na lacuna de pensar que as regras, que foram muito apertadas até agora para aderir aos diversos programas, possam não o ser no futuro, contribuindo para uma desigualdade entre as empresas que tiveram de cumprir todos os requisitos e as que concorrem agora com regras menos apertadas.
TS – Que espectativa tem quanto aos efeitos destes apoios no tecido empresarial do concelho?
HB – Acho que é extremamente positivo. Quer seja pelos moldes da formação-acção, que é uma formação feita à medida das empresas e de acordo com os requisitos do projecto aprovado, permitindo dar ferramentas aos empresários que são muito úteis. Quer em termos de investimento, que manifestamente faz com que a empresa fique mais dotada para se apresentar ao público comparativamente a outra que não tenha aderido.
Mas infelizmente ainda há empresários que têm medo de se candidatar a fundos comunitários porque receiam o controlo exercido sobre eles. Isto não é de todo verdade, porque quando se faz uma candidatura no âmbito do Portugal 2020 tem de se incluir determinados requisitos e itens para a mesma ser pontoada e contemplada com os fundos comunitários, pelo que a partir do momento em que são cumpridos aqueles requisitos e itens não há problema nenhum, sendo óbvio que os projectos serão acompanhados pelos organismos intermédios, que verificam se os objectivos identificados em candidatura são ou não cumpridos.
TS – Quais são os desafios que se colocam actualmente às empresas do concelho de Ansião? E quais as principais necessidades?
HB – Este território é sempre desafiador comparativamente com territórios mais litoralizados ou em grandes metrópoles, em que é fácil operar, porque está “tudo à mão” e não é necessário dispender muitos recursos para ter acesso ao que procuramos.
Este orçamento de Estado promete alguns elementos positivos para territórios de baixa densidade demográfica, mas não é de todo suficiente, não passam de medidas simpáticas. E isto não é só deste orçamento de Estado, é transcendente a qualquer executivo nacional do Governo. É necessário interpretar de uma forma totalmente diferente uma empresa em Ansião, em Leiria, em Pedrógão Grande e na Sertã. Por exemplo, eu para ir a Lisboa a uma reunião perco um dia de trabalho, enquanto que um empresário de lá perde uma hora. Concordo que não podemos mudar os organismos para cá, mas podemos minimizar alguns gastos adicionais das empresas destes territórios, como as scut, as portagens… Há tanta forma de incentivar.
Depois fala-se que estamos junto ao IC8, que é um eixo prioritário entre o litoral e o interior, mas esta via é um IC? Falta audácia para implementar novas medidas que sejam realmente incentivadoras e não se resumam aos incentivos fiscais, até porque tendencialmente as empresas vivem no limiar do resultado positivo, por isso não interessa baixar o IRC e a Derrama porque as empresas no limiar do 0 não pagam, portanto não beneficiam de nada.
Factores diferenciadores seriam a redução da TSU e do IVA. O termo de comparação nunca pode ser em termos do resultado, porque o resultado já é inflacionado pelo facto de estarmos num território de baixa densidade demográfica. O resultado de uma empresa nestes territórios é tendencialmente mais baixo do que num território mais desenvolvido, onde o público é maior e gasta os mesmos recursos, logo dilui os custos fixos.
É isto que falta ver e acho que nunca vai acontecer, fica bem na fotografia dizer que estamos muito preocupados com o interior. E Ansião não é dos piores, porque está no limite da interioridade, mas ainda assim pertencemos a um território de baixa densidade demográfica e devemos ser abrangidos por estas medidas que são muito pouco. Fica bem ao Governo mostrar preocupação com estes territórios, mas o mostrar não é suficiente, é preciso fazer algo diferenciador e inovador. Não é a redução de 1% no IRC que vai trazer empresas para o interior, porque 1% de 10.000 euros são 100 euros, ou seja, não é nada. Portanto, estas medidas são do bem parece.
TS – O Município pretende avançar com a ampliação do Parque Empresarial do Camporês no próximo ano. De que forma é que este projecto pode ser uma mais-valia para o desenvolvimento económico do concelho?
HB – É muito positivo. Tenho acompanhado de muito perto esse processo, tanto com o anterior executivo como com o actual, mas agora com maior incidência porque acho que a ampliação já tarda.
Neste momento vemos alguns lotes aparentemente disponíveis, mas a realidade é que já foram comprados. São lotes onde apesar de não haver nenhum edifício implementado, já têm dono e, portanto se vier uma empresa nova não os pode ocupar, a menos que o Município exerça o direito de reversão contratualizado.
Neste momento temos uma grande escassez de lotes. Há um lote disponível, sendo que há mais uma mão cheia em situação de poder reverter para a Câmara, contudo essa será sempre uma medida para remediar.
De acordo com o Município, em meados de 2020 os lotes da parte norte do IC8 estão acessíveis para compra em condições idênticas aos lotes deste lado. Se por um lado, 2020 é já amanhã, por outro é certo que não é, porque depois ainda há um longo caminho a percorrer com o projecto, o licenciamento… pelo que na realidade construção efectiva naqueles lotes só em 2021/2022, o que é muito tempo. Daí a necessidade deste processo ser o mais célere possível, até porque tem havido uma grande procura de empresários para se fixarem em Ansião.
Portanto, há interesse no concelho e a AEDA tem de fazer parte dos factores positivos para atrair pessoas e investimentos. E esse é um trabalho que temos desenvolvido muito bem, mostrando os lados positivos do Parque Empresarial do Camporês, nomeadamente a localização junto ao IC8, a proximidade da A13 e da A1, bem como a possibilidade de abertura da Base Aérea de Monte Real.
Acho que os lotes da ampliação do Parque Empresarial no Camporês já deviam estar disponíveis agora. Estrategicamente temos de estar à frente das necessidades que poderão advir no futuro. Por isso, considero que neste momento a ampliação do Parque Empresarial no Camporês é uma prioridade máxima e a necessidade mais importante para o concelho.
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