“Vamos tricotar contra a exploração de gás e petróleo em Portugal”. O desafio estava, no passado dia 22 de Setembro, estampado num cartaz colocado no passeio que vai para o Jardim do Cardal, na cidade de Pombal. Logo a seguir, sentados em mantas estendidas no relvado à sombra de uma árvore, estava um grupo de pessoas a tricotar uma linha vermelha, a “arma” de protesto contra a exploração de gás e petróleo na costa portuguesa. A campanha está a percorrer o país e promete parar apenas quando forem cancelados os contratos activos, um dos quais para exploração de gás em Pombal.
“Estamos preocupados com esta exploração de gás em Pombal e a forma como poderá afectar o nosso dia-a-dia, nomeadamente o ambiente e a saúde”, contou ao TERRAS DE SICÓ a pombalense Miriam Silva, que depois de já ter pesquisado sobre o tema, associou-se ao protesto e ajudou a tricotar a Linha Vermelha, que tem pouco mais de 1,5 quilómetros e objectivo de chegar aos 52 quilómetros.
“As pessoas nem sequer têm a noção de que isto já foi aprovado”, lamentou Miriam Silva, constatando que “o factor de desinteresse não ajuda em nada, contudo o factor de curiosidade ajuda em muito”, pelo que a vontade de perceber o que estava ali a acontecer levou alguns pombalenses a juntarem-se ao grupo e associarem-se a esta causa.
Não foi o caso de Rúben Mortágua, para quem o tema não é de todo desconhecido. Por isso, veio porque está preocupado com “os males que uma exploração de gás pode trazer para o nosso concelho”. “Há a percepção errada por parte das pessoas de que vai trazer emprego e benefícios para a região, mas não passa de um mito, porque os benefícios são apenas para as empresas exploradoras”, sublinhou.
Mas afinal quais os riscos de uma eventual exploração de gás em Pombal? “O elevado risco de contaminação dos lençóis freáticos que abastecem a população, que usa a água para a agricultura e consumo humano”, esclareceu João Costa, membro da campanha Linha Vermelha. Mas há mais. Este tipo de perfuração tem um consumo muito elevado de águas locais, contamina os solos com substâncias químicas tóxicas, aumenta o número de sismos, gera pouco emprego e não traz benefícios económicos para a região, nem para o país. Além disso, “os combustíveis mantêm-se ao mesmo preço”, uma vez que “nos contratos não existe um preço preferencial de compra nem um direito preferencial de compra”, pelo que “vamos continuar a comprar gás nos mercados e ao preço de mercado”.
“Neste momento o único furo que está projectado é em Aljubarrota, já para 2019, mas depois haverá um furo de prospecção de gás por ano”, referiu João Costa, sublinhando que os contratos activos abrangem a zona Oeste, onde se inclui o concelho de Pombal.
A campanha Linha Vermelha, que está a percorrer o país de Norte a Sul do país alertando para os problemas da exploração de petróleo e gás na costa portuguesa, esteve em Pombal apenas no sábado (22), contudo os pombalenses “podem continuar a participar”, bastando para isso “fazerem uma pequena linha vermelha, tirarem uma foto e enviarem-nos” para acrescentar à galeria do site (https://linhavermelha.org/), onde estão patentes todas as participações.
De referir que a Campanha Linha Vermelha nasceu de uma parceria entre a Academia Cidadã e o Climáximo, com vista a protestar as licenças concedidas pelo Governo português em 2015. Desta forma, estão a percorrer o país para “envolver os cidadãos”, convidando-os a “participar, aprender a tricotar e pensar sobre este tema”. Afinal, “mais importante que tudo, é sensibilizarmos acerca das alterações climáticas que são um problema do presente e não do futuro”, concluiu João Costa.
CARINA GONÇALVES
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