Por terras galegas os discípulos de Santiago verificaram que elas pertenciam a uma rainha local de nome Lupa, ou Loba, junto do qual intercederam para que fosse arranjado um lugar condigno para se proceder ao sepultamento do Apóstolo. Quando Atanásio e Teodoro caminharam para o local indicado a rainha deu ordens aos soldados no sentido de capturarem o corpo acabando este por se elevar no ar, deslocando-se para Este. Enquanto uns militares ficavam de guarda ao corpo, entretanto, descido ao chão, outros dirigiram-se ao palácio informando do sucedido. Ao contactarem, por sugestão da rainha, com o sacerdote de Ara Solis que residia próximo, os seguidores de Santiago foram aprisionados. Na cela da cadeia os dois jovens certificaram o aparecimento de luzinhas formando sobre a parede uma porta invisível por onde escaparam com o auxílio de anjos. Os soldados enviados em sua perseguição pereceram ao desabar uma ponte num rio, e os que se salvaram contactaram de novo com a rainha que concebeu outra armadilha. Deviam deslocar-se para o Monte Ilianus onde pastavam os bois reais. No monte surgiu-lhes um dragão que se volatizou no ar ao observar a persignação e entraram em confronto com touros ferozes. Ao traçarem mais uma vez o sinal da Cruz os bovinos amansaram, servindo para rebocar um carro que os transportou à habitação real, tendo a soberana soçobrado, obtido o batismo e oferecido terrenos para a construção do mausoléu. O campo ofertado pela rainha passou a apelidar-se de Libere Donum, «livre de dono». Antes disso chamou-se Arcis Marmoricis, devido ao emprazamento dum oppidum com enterramentos celtas e romanos.
O presumível túmulo de Santiago ficou esquecido até ao século IX, quando um eremita, de nome Pelaio (Paio?), ao estranhar luzes e cânticos procurou saber o que se passava encontrando as ossadas do apóstolo num descampado próximo de San Fiz de Solovio, em Campus Stellae, tendo a notícia desse achado chegado ao bispo de Iria Flavia, Teodomiro, que o verificou no dia 25 de Julho de 813. Comunicou o facto ao rei Afonso II das Astúrias que se deslocou para o local com a sua corte convertendo-se no primeiro peregrino, acabando por participar do sucedido ao Papa Leão III e ao Imperador Carlos Magno. No ano de 829 o mesmo rei atribuiu o senhorio do território a favor da igreja compostelana, sendo assim a primeira doação.
Como se travava o conflito que opunha as forças cristãs e muçulmanas, por a Península Ibérica ter sido invadida em 711, os soberanos cristãos utilizaram o santo na perspectiva da luta pela Reconquista Cristã, cujo prolongamento a norte levou a localidade de Santiago de Compostela a ser ocupada por Almançor no ano de 997, destruindo a basílica, mas, por intercessão de um monge português, natural de Lamego, que ficara de guarda ao túmulo, este acabou por ser poupado, não podendo ser menosprezado o facto de ele ser entrevisto por algumas correntes islâmicas como sendo venerável como a Caaba, situada na cidade sagrada de Meca.
Este Santiago foi erguido em Mata-Mouros depois da lendária batalha de Clavijo, nas Astúrias, travada no ano de 844, quando o pequeno exército de Ramiro II ficou cercado no castelo por um importante contingente militar muçulmano. Segundo reza a lenda, nessa altura, em sonho, apareceu ao soberano cristão o Apóstolo Santiago brandindo a sua espada e garantindo a vitória, o que efectivamente ocorreu levando a adoptar a arma do santo, tornada vermelha pelo fogo, como insígnia da futura Ordem Militar de Santiago
Nos séculos XII e XIII as peregrinações a Santiago e Roma (a Via Francígena, por se iniciar em terras dos Francos, na França e parte da Alemanha) atingem o seu auge, provavelmente em consequência de um clima agradável, mais quente, que ficou conhecido por «Óptimo Climático Medieval». As peregrinações desenvolveram-se, assim, na época do incremento do Românico, do aparecimento de novas ordens monásticas na Península, do início da Reconquista Cristã, da criação dos anos santos, e do surgimento do primeiro livro para peregrinos, o Liber Peregrinationis, inserto no Codex Calixtinus, assim apelidado por homenagear o papa Calixto II, grande responsável pela divulgação de Compostela. Provavelmente a obra foi escrita por um monge francês, Aymeric Picaud, que juntou um conjunto de textos escritos em 1160. O códice em causa foi roubado em Julho de 2011, da catedral de Santiago, apesar de estar protegido por um sistema de segurança, tendo sido recuperado pelas autoridades policiais galegas em Julho do ano seguinte na vizinha localidade de Milladoiro.
(continua na próxima edição)
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