Investigadores da Universidade e da Escola Agrária de Coimbra têm identificado um comportamento invasor do eucalipto em várias áreas dos territórios afectados pelos incêndios de 2017.
Na Mata Nacional do Urso (entre os concelhos de Leiria e Figueira da Foz), junto a uma estrada, havia nove eucaliptos de grande porte, no meio de “um mar de pinheiros”. Após a passagem do fogo de 15 de Outubro de 2017, o investigador da Escola Superior Agrária de Coimbra Joaquim Sande Silva contabilizou, com recurso a imagens de ‘drone’, mais de duas mil plantas que tinham germinado numa área de cerca três mil metros quadrados à volta daquelas nove grandes árvores.
Mais para o interior da região Centro, também muito afectado pelos incêndios de Outubro, a equipa da Agrária de Coimbra encontrou áreas com uma maior densidade de germinação, tendo chegado a contabilizar “300 plantas por metro quadrado”.
Pelo território afectado, Joaquim Sande Silva tem constatado o comportamento invasor do eucalipto, nomeadamente em eucaliptais abandonados ou sem gestão eficiente, com plantas jovens a dispersarem-se a distâncias de 70 a 80 metros das árvores-mãe.
“Quer se goste da palavra ou não, há um comportamento invasor. Há muitas situações em que a espécie não invade, nomeadamente em áreas sujeitas a uma gestão silvícola intensiva, que era o que devia acontecer em todas as matas de eucaliptos, que deviam ser cortadas aos dez ou 12 anos para não chegarem a ganhar uma grande carga de frutos. O grande problema são as zonas abandonadas, em que se cria uma quantidade muito grande de frutos e, depois, acabam por gerar a situação a que estamos a assistir”, disse à agência Lusa o investigador da Agrária de Coimbra.
Apesar de se estar a assistir a um comportamento invasor da espécie, o eucalipto não está na lista de espécies invasoras, como a acácia ou o espanta-lobos, que, por decreto, estão proibidas de serem introduzidas ou comercializadas.
Joaquim Sande Silva defende que há que separar a perspectiva científica e a perspectiva legal, face à importância económica do eucalipto, que as acácias ou os espanta-lobos não têm.
O especialista propõe que a espécie seja incluída na lista, mas realça que deveria ter um estatuto diferente das restantes espécies, face a uma fileira que está dependente do eucalipto.
“A espécie apresenta ou não problemas? Então, deve legislar-se em relação aos problemas e riscos associados” do eucalipto, defende.
O eucalipto, “na paisagem portuguesa, apenas faz sentido como espécie cultivada de forma intensiva para a indústria. Não tem lugar em nenhuma outra situação. Sendo dessa forma, deverá haver uma responsabilização de quem utiliza a espécie. Se a utiliza, deve cultivar de acordo com parâmetros indicados para a espécie, com rotações curtas, gestão da eventual regeneração e quando a exploração é abandonada tem de ser reconvertida. Não pode ser deixada a crescer livremente, ao sabor da natureza. O resultado está à vista”, alerta.
Também Elisabete Marchante, investigadora do projecto “Invasoras”, do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra e da Agrária, refere que a equipa tem-se deslocado a vários locais afectados pelos incêndios, como a Serra do Açor, Serra da Lousã ou matas na costa litoral da região Centro, tendo encontrado a germinação de várias espécies, como as acácias e os eucaliptos.
“Conseguimos identificar várias áreas em que ocorre a germinação do eucalipto fora das áreas que eram eucaliptal”, disse à agência Lusa a investigadora, sublinhando que essa germinação ocorre essencialmente em áreas abandonadas ou com gestão deficiente.
A investigadora recorda que a equipa do projecto já tinha proposto – aquando da consulta pública, em 2008, da revisão do decreto-lei sobre as espécies invasoras – a inclusão do eucalipto na lista, o que não ocorreu. Mas o documento está novamente em revisão.
“Deveria estar nessa lista, mas o eucalipto teria de ter um carácter de excepção. Em relação às outras espécies, não se pode comprar, deter ou explorar comercialmente. Não se pensa fazer isso ao eucalipto, mas teria de ter restrições a vários níveis e precisava de uma gestão mais eficaz”, defende Elisabete Marchante.
LUSA
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