É com algum sabor agridoce que o Espinhal acolhe, este fim-de-semana, a 29.ª edição da Feira do Mel e a VI Bienal de Humor Luíz d´Oliveira Guimarães. A escassez daquele produto endógeno deixa os apicultores de “mãos a abanar” e sem grandes motivos para sorrir.
São ainda as consequências da destruição, pelos incêndios de Junho e Outubro de 2017, de inúmeros apiários, situação agravada pelas condições climatéricas adversas deste ano. Para atenuar a significativa diminuição da produção, e à semelhança da última edição, o certame será aberto a mel certificado e não certificado.
A feira está “fortemente condicionada”, reconhece Luís Matias, presidente da Câmara Municipal de Penela, autarquia que organiza o evento. Menos produtores e menos quantidade de mel para comercializar.
“Recebemos no Espinhal produtores de toda a sub-região da Serra da Lousã, Castanheira de Pera, Pedrogão Grande e Figueiró dos Vinhos, e todos eles foram muito afectados pelos incêndios, não só de Junho mas também de Outubro do ano passado. Ninguém esperava que uma catástrofe daquela dimensão pudesse dizimar tantos apiários, como foi o caso”, refere o autarca ao TERRAS DE SICÓ.
“Há apicultores que antes tiravam duas toneladas de mel e este ano não passam dos 200/300 quilos, enquanto outros não têm mesmo nada”, relata, por seu lado, Luís Dias, presidente da Junta de Freguesia do Espinhal e da FLOPEN – Associação de Produtores e Proprietários Florestais do Concelho de Penela.
Com mais ou menos mel, Luís Matias afirma que a feira “está enraizada e assim continuará”, e espera que esta seja “um momento importante de valorização do produto, de afirmação do mel DOP [Denominação de Origem Protegida] Serra da Lousã e, igualmente, de chamar a atenção para os problemas da fileira”.
“Os problemas não têm só a ver com os incêndios, mas também com a questão da vespa asiática, que ameaça esta actividade a curto prazo”, alerta o autarca, salientando que “não existe nenhum plano nacional para a sua erradicação. “Quem vem fazendo o controlo desta espécie acabam por ser os municípios com os seus meios, mas existe falta de planeamento para poder controlar e combater esta enorme ameaça para a actividade apícola”, reforça.
Apesar dos condicionalismos, Luís Matias mantém expectativas elevadas para a adesão de visitantes ao certame, sublinhando que “muita gente vem tradicionalmente ao Espinhal para comprar o seu mel na primeira feira do ano, e isso vai manter-se”, assegura.
O programa do certame abre esta sexta-feira (31), com a habitual entrega de prémios de mérito escolar Professora Alice Gonçalves e a final do concurso de bandas Louçainha 2018.
No sábado (2), realiza-se o seminário florestal [ver caixa] e tem início mais uma edição da Bienal de Humor.
A noite será animada pelas actuações da Filarmónica do Espinhal e Orquestra Costa Verde, e pela peça teatral “Sítio”, representada pela Companhia da Chanca.
No domingo (3), a feira do mel (possível) arranca pelas 8h30, seguindo-se a caminhada “Rota do Mel”, com partida às 9h00 em direcção à Pedra da Ferida. À tarde há folclore e um “sunset” musical com Funkology.
Bienal de humor
Em paralelo com a Feira do Mel, este é ano de mais uma Bienal de Humor Luíz d´Oliveira Guimarães. Trata-se da sexta edição da iniciativa organizada pela Câmara Municipal de Penela e Junta de Freguesia do Espinhal, esta subordinada à temática “O Ciclo da Vida”.
Para o autarca Luís Matias, o evento é “uma componente de afirmação das características da vila do Espinhal e de uma figura ímpar da cultura portuguesa do século XX, constituindo-se hoje como uma das maiores bienais de humorismo gráfico do mundo, o que nos deixa muito orgulhosos”, afirma.
Para cimentar esta posição, estão em preparação projectos, a apresentar durante a bienal, numa parceria entre a Câmara Municipal, Junta de Freguesia do Espinhal e família Oliveira Guimarães, que passam pela “afirmação do Espinhal como uma terra ligada à arte, à cultura e, particularmente, ao humorismo gráfico e à figura de Luíz d´Oliveira Guimarães”, anuncia o edil.
À sexta edição do evento concorreram mais de um milhar de trabalhos, de 450 artistas oriundos de 78 países.
“É um êxito total, foram batidos todos os recordes, de trabalhos, artistas, países dos cinco continentes e participação de mulheres, o que merece destaque porque o humor está muito masculinizado”, congratulou-se o director artístico da bienal, Osvaldo Macedo de Sousa, realçando que muitos dos trabalhos chegam de países onde “é preciso gritar e expressar a revolta por certas opressões”, funcionando o humor como um veículo para esse fim.
Aos visitantes da exposição, a inaugurar este sábado (1), pelas 18h00, na Casa da Cultura do Espinhal, aquele responsável deixa um conselho: “Não venham à procura de anedotas que isto não são anedotas. São desenhos para nos obrigar a parar, olhar e pensar… e às vezes repensar”.
Dos trabalhos recepcionados, uma centena foram caricaturas sobre Leonor Guimarães, numa homenagem à nora de Luíz d´Oliveira Guimarães, falecida em 2017 e impulsionadora da referida bienal, que estarão expostos a partir das 17h00 deste sábado na Casa da Cultura do Espinhal.
Uma hora antes será inaugurada a exposição de caricaturas “Carlos Sêco – Um Humor Beirão”. A Festa da Caricatura tem início marcado para as 18h30, prosseguindo no domingo (2) pela manhã. Na tarde de domingo, pelas 15h30, realiza-se uma tertúlia sobre “Viver e morrer a rir”, e às 18h00 será a entrega de prémios de mais uma edição da bienal espinhalense.
Após a realização deste fim-de-semana, o programa do evento internacional inclui ainda um festival de cinema (às quartas-feiras, em Setembro), uma mostra evocativa do mês do envelhecimento activo (em Outubro) e, igualmente, uma exposição de cartoons sobre o “Dia do Armistício”, comemorando o fim da morte na I Grande Guerra (em Novembro).
Valorização da floresta
“A Economia Circular na Valorização da Floresta” é o tema central do XIII Seminário Florestal, que decorre na manhã deste sábado (1), a partir das 9h30, no HIESE – Habitat de Inovação Empresarial nos Sectores Estratégicos, em Penela, no âmbito do programa da Feira do Mel.
“A prossecução de medidas de desenvolvimento sustentável da floresta pressupõe a articulação dos desafios económicos com os ambientais e sociais na construção de um modelo circular de optimização e reutilização dos materiais vegetais, através da eco-inovação”, refere uma nota da autarquia penelense, explicando que “a necessidade de consolidar a inovação com o aproveitamento dos subprodutos da floresta” conduziu à escolha do tema.
O seminário, de participação gratuita, pretende constituir-se como um espaço de reflexão e debate em torno da valorização da floresta, tendo como público-alvo os profissionais florestais, agricultores e a própria população.
LUÍS CARLOS MELO
Site optimizado para as versões do Internet Explorer iguais ou superiores a 9, Google Chrome e Firefox
Powered by DIGITAL RM